Justiça nega soltura de PMs acusados de matar quatro em chácara de Cavalcante
A Justiça de Goiás negou o pedido de liberdade a cinco dos sete policiais militares…
A Justiça de Goiás negou o pedido de liberdade a cinco dos sete policiais militares acusados de matar quatro pessoas em uma chácara em Cavalcante, na Chapada dos Veadeiros, em janeiro deste ano. A decisão é do juiz Rodrigo Victor Foureaux Soares, da vara criminal de Cavalcante, e foi prolatada na terça-feira (23).
O Ministério Público de Goiás (MP-GO) acusou a defesa dos PMs de uma manobra para atrasar o processo judicial e, com isso, conseguir a soltura dos acusados, alegando demora no trâmite para o julgamento dos réus.
O interrogatório dos sete policiais estava previsto para o dia 19 de agosto, mas foi adiado após pedido da defesa deles, sob argumento de que era preciso juntar ao processo o termo de exibição e apreensão de alguns objetos apreendidos pelos réus, durante a ação policial que resultou nas mortes.
PMs acusados de matar quatro pessoas
Os policiais estão presos desde 25 de fevereiro. Eles são acusados de, no dia 20 de janeiro deste ano, invadir as chácaras vizinhas de Saviano Souza Conceição, de 63 anos, e de Ozanir Batista da Silva, o Jacaré, de 46 anos, e executarem eles e também Alan Pereira Soares, de 28, e Antônio Fernandes da Cunha, o Chico Calunga, de 35.
Os quatro estavam juntos na propriedade de Ozanir, trabalhando, quando os policiais chegaram. A defesa dos réus alega que os sete PMs foram ao local checar uma denúncia de tráfico e foram recebidos a tiros e, por isso, tiveram que revidar com quase 60 disparos.
Denúncia de manobra
Os documentos cobrados pela defesa dos policiais foram apresentados pelo MP-GO na petição em que pediu a remarcação do interrogatório.
Ao se manifestarem sobre os pedidos de liberdade, os promotores do caso afirmam que a perícia nos materiais apreendidos requisitada pelos advogados já estava arrolada tanto no inquérito que apurou a chacina, como o que apurou a suposta denúncia usada como argumento pelos PMs para entrar nas chácaras.
Já a defesa dos PMs alega que eles estão presos pelo dobro do tempo que a lei permite e argumenta que o processo se encontra tramitando de forma lenta em decorrência de erros no trabalho da Polícia Civil e, mais especificamente, com relação à alegada falta de perícia no material supostamente apreendido pelos PMs nas chácaras.
Em sua decisão mais recente, dentro do processo principal, o juiz argumenta que o material apreendido aparece descrito, como exigiu a defesa, em uma série de laudos e que, apesar de os advogados terem entrado com pedidos de soltura em autos paralelos, ficaram quietos dentro do prazo de 3 dias dado por ele para se manifestarem após o adiamento do interrogatório.
Ao analisar os pedidos de soltura, o mesmo magistrado negou que esteja havendo excesso de prazo para a instrução processual e que as acusações contra os policiais são muito graves para justificar a manutenção das prisões.
O juiz lembrou que há testemunhas no serviço de proteção e citou o depoimento de algumas delas, mostrando que não houve confronto e que antes de serem mortas as vítimas foram rendidas.
Quem são os mortos
- Salviano Souza da Conceição: tinha de 63 anos, morava na chácara invadida pela polícia, era trabalhador rural e guia turístico;
- Ozanir Batista da Silva: tinha 47 anos, conhecido como jacaré, era trabalhador rural, mas estava desempregado. Ele estava no local para ajudar na colheita de uma lavoura de milho, segundo a família;
- Antônio da Cunha Fernandes: tinha 35 anos, conhecido como Chico Kalunga e era quilombola Kalunga, natural da Comunidade da Barra de Monte Alegre. Era trabalhador rural e também estava desempregado.
- Alan Pereira Soares: tinha 27 anos, já trabalhou formalmente como entregador e auxiliar de máquina industrial, mas estava desempregado e passou a sobreviver de trabalhos informais como capina de terrenos. Ele deixou uma filha de seis meses e uma companheira grávida de três meses.
*Essa reportagem usou informações dos portais G1 Goiás e O Popular