TORTURA

Justiça recebe denúncia do MP contra berçário acusado de deixar bebês no escuro

Judiciário determinou a aplicação de medidas cautelares

Justiça recebe denúncia do MP contra berçário acusado de deixar bebês no escuro
Justiça recebe denúncia do MP contra berçário acusado de deixar bebês no escuro (Foto: Pixabay)

A Justiça recebeu denúncia do Ministério Público de Goiás (MPGO) contra os empresários responsáveis pelo Berçário Linay, em Goiânia, acusado de manter bebês no escuro e promover tortura. A informação foi divulgada nesta tarde de sexta-feira (31) pelo órgão.

Conforme a peça acusatória da promotora Camila Fernandes Mendonça, entre agosto de 2023 a dezembro de 2024, ao menos 30 crianças de 6 meses a 3 anos teriam sido submetidas a intensos sofrimentos físicos e psicológicos. Com o recebimento, a Justiça determinou a expedição de ofícios ao Conselho Municipal de Educação de Goiânia para que informe se o local tinha autorização para funcionamento, além da requisição de verificação de eventuais denúncias ou procedimentos administrativos envolvendo a unidade, com encaminhamento de toda a documentação pertinente ao Juízo.

Também foram determinadas medidas cautelares contras os acusados:

  • Comparecimento mensal em Juízo, até o dia 10 de cada mês, para fornecer e atualizar seus endereços, bem como para justificarem suas atividades;
  • Proibição de se ausentarem da comarca por mais de 8 dias, sem autorização judicial
  • Recolhimento domiciliar noturno, todos os dias, das 22 às 6 horas;
  • Proibição de aproximação e contato com as vítimas;
  • Proibição de frequentar lugares próximos às vítimas;
  • Suspensão do exercício de atividade de natureza econômica, financeira ou não, que envolvam crianças e adolescente

Caso

Sobre o caso, investigação da Polícia Civil aponta que antigos proprietários do estabelecimento mantinham as crianças em um quarto sem iluminação, onde permaneciam privadas de comida e água ao longo das estadias diárias. Ele foi revelado por uma mãe, que notou mudança no comportamento do filho, o que culminou no indiciamento dos responsáveis pela unidade no último dia 20. Vendido em meados de outubro, o estabelecimento segue em funcionamento, mas sob nova direção – sem relação com os crimes.

Em entrevista ao Mais Goiás, a mãe e advogada Ingrid Gabriella Lima Barcelos relatou que soube da situação após ser procurada por uma ex-funcionária que estava em busca de emprego. Durante a conversa, a ex-cuidadora revelou o tratamento destinado às crianças no local. O caso foi denunciado à polícia. Confrontados, os ex-proprietários negaram as acusações, mas outras cuidadoras e mães confirmaram os relatos. A polícia ouviu seis ex-funcionárias e 11 pais, que corroboraram as denúncias.

Ainda conforme a denúncia, as crianças eram levadas para um quarto completamente escuro sempre que começavam a chorar. Lá elas ficavam até adormecerem ou pararem de chorar. Ingrid, afirmou que as refeições eram limitadas: “a sopa batida era oferecida apenas uma vez e a água fornecida era quente, aumentando o desconforto das crianças. As crianças que estivessem dormindo não eram alimentadas”, relatou.

Ingrid afirma que um dos episódios de maus-tratos teve seu filho como alvo. “Ele estava tentando se mover na cadeirinha e a cuidadora irritada abriu a porta no rosto dele para que ele ficasse quieto.”

Defesa fala em “conluio”

A defesa do Berçário Linay disse que a mãe denunciante é, além de parte interessada, advogada e empregadora de ex-funcionárias do local em ações trabalhistas ajuizadas recentemente. Para o advogado Renan Marcedo Vilela Gomes, a situação pode indicar “um conluio entre ex-funcionárias e a mãe-advogada”.

“Coincidentemente, as citações dessas ações trabalhistas foram recebidas na data de hoje [sexta, 31], o que levanta questionamentos sobre os reais interesses por trás da notícia-crime. A simultaneidade dos fatos sugere a possível existência de um conluio entre ex-funcionárias e a mãe-advogada, o que pode comprometer a credibilidade das acusações e das investigações em andamento.” Desta forma, afirma que vai notificar o Ministério Público de Goiás (MPGO) para que os fatos sejam devidamente apurados.

O Mais Goiás tenta contato para que a defesa comente sobre o recebimento da denúncia.