Dia da Mulher

Mães solo em Goiás: os desafios de mulheres que criam filhos sozinhas

Na última década, Goiás registrou 13,7% de mães solteiras que chefiam os domicílios, segundo a FGV

Á esquerda, Mariana Castro, e à direita, Joana Keith. Foto: Arquivo pessoal

“Após o divórcio, compreendi profundamente o significado da frase: o filho(a) é da mãe”. Essa reflexão pertence a Mariana Castro Lima Morais, engenheira civil de 29 anos que enfrentou diversas mudanças em sua rotina após se divorciar do marido. Na época da separação, a filha de Mariana tinha apenas dois anos e, além disso, ela estava fora do mercado de trabalho.

Conciliar o retorno ao trabalho com as responsabilidades domésticas e a maternidade foi um desafio. Durante quase um ano, Mariana precisou ajustar sua rotina repetidamente, abrir mão de atividades pessoais e encontrar horários alternativos para cumprir todos os seus compromissos.

Nesse processo, Mariana recebeu e continua recebendo apoio da família e amigos. Ela destaca a importância da escola para uma mãe, especialmente quando se cria um filho sozinha.“A escola também desempenha um papel crucial. Lá, sei que minha filha está bem cuidada e desenvolvendo diversas habilidades”, afirma.

Quanto ao genitor de sua filha, segundo Mariana, ele cumpre suas obrigações de pagamento de pensão e os dias acordados na guarda. “Todas as responsabilidades e compromissos recaem sobre mim”, conclui Mariana.

Desafios

Assim como Mariana Castro, a história de Joana Keith Vasques, de 42 anos, não difere muito. Servidora Pública e Enfermeira, Joana é mãe de duas meninas: Giovanna, com 22 anos, e Maria Clara, com apenas 5 anos.

Ao Mais Goiás, Joana compartilha que, aos 36 anos, enfrentou uma gravidez não planejada, mas desejada, apesar dos desafios. Sem o apoio do pai, Joana relata que enfrentou todas as dificuldades sozinha. “De lá para cá, sou eu e elas”, afirma.

Ser mãe solo e chefiar uma casa sozinha é uma tarefa extremamente desafiadora para Joana, mesmo com o apoio de sua mãe, que cuida da filha ainda criança.

No entanto, Joana faz questão de reservar tempo para cuidar de si mesma e se divertir. Ela destaca: “Não é fácil enfrentar esse cenário, pois sou mãe em tempo integral, mas ainda consigo dedicar momentos para mim mesma”. De acordo com Joana, a pequena Maria Clara não tem a presença paterna em sua vida, pois o pai abriu mão de suas responsabilidades parentais.

Mães solo em Goiás

A história de Mariana e Joana assemelha-se a muitas mulheres em todo o Estado. Na última década, Goiás registrou 13,7% de mães solteiras que chefiam os domicílios, segundo pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (IBRE-FGV), que conduz o estudo a cada 10 anos.

De 2012 a 2022, o país ganhou 1,7 milhão de mães com a responsabilidade de criarem os filhos sem a ajuda do pai. Além disso, 90% das mulheres que se tornaram mães solo dentro deste período são negras. Em todo o país, quase 15% dos lares brasileiros são chefiados por mães solo.

A pesquisa também revela que a maior concentração de mães que criam os filhos sozinhas está nas regiões Norte e Nordeste. A maioria, 72,4%, vive apenas com os filhos e não conta com uma rede de apoio próxima.

Essas estatísticas destacam a importância de políticas públicas que apoiem as mães solo, proporcionando qualificação profissional, assistência financeira e redes de suporte para enfrentar os desafios diários.

Mercado de trabalho

De acordo com os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em todos os anos da série histórica, as mulheres apresentaram taxas de desocupação significativamente mais altas do que os homens em Goiás. Essa realidade se torna ainda mais desafiadora quando se trata de mães solo, que precisam se recolocar ou ser inseridas no mercado de trabalho.

Além disso, observa-se que uma parcela expressiva dessas mães não possui ensino superior. No 4º trimestre de 2022, mais da metade (54,3%) das mães solo tinham, no máximo, ensino fundamental completo, e menos de 14% possuíam ensino superior.

A falta de conhecimento e capacitação torna cada vez mais difícil para essas mães serem absorvidas pelo mercado de trabalho, comprometendo seus salários potenciais futuros. Mesmo quando a criança atinge a idade de frequentar a escola e a mãe pode buscar emprego, ainda assim enfrenta dificuldades.

No caso da engenheira Mariana Castro e da enfermeira Joana Keith, mesmo diante de todas as dificuldades, elas se dizem agradecidas por cada desafio enfrentado. Mariana afirma: “Apesar de todas as responsabilidades, noites em claro, cansaço físico e mental, sou grata por ter descoberto a minha força e muito orgulho em dizer que sou mãe, engenheira, empresária e mulher. Em meio a tudo isso, aprendi a me cuidar, me amar e ser a cada dia minha melhor versão”.

Para Joana, mesmo não tendo a presença do pai da pequena Maria Clara, ela é grata por ter a filha ao seu lado. “Ele abriu mão do dever de ser pai, fazendo com que eu ganhasse o privilégio de ser mãe”, diz.