Mania chata de falar da roupa dos outros
Não há nada mais chato que alguém que vive para comentar a vestimenta dos outros como se sua opinião tivesse sido solicitada
Gente chata é sempre sem noção. Até por que se o cara tivesse noção, chato não seria. A chatice e a, perdoe o neologismo, semnoçãozice andam juntas, sempre de mãos dadas. Na verdade, a relação é até mais próxima. A chatice e a semnoçãozice são irmãs siamesas. Ocupam partes do mesmo corpo, compartilham órgãos, mas têm suas peculiaridades.
O comentário a respeito da roupa alheia revela ambas: chatice e semnoçãozice. Um colega de trabalho entra no escritório numa segunda-feira braba exalando ressaca. O olhar do cara é de sono. O suor que já emana do indivíduo às oito da matina entrega que várias garrafas foram sorvidas no domingão. E, para completar a desgraça alheia, você sabe que o time do cara foi goleado.
Qualquer ser humano digno de ser considerado humano o receberia com acolhimento. Ofereceria um café forte, diminuiria a intensidade da luz da sala e seguraria a bronca de qualquer trampo até a hora do almoço. Solidariedade na ressaca é o mais humano dos sentimentos.
Mas o chato metido a Glória Kalil não se liga nisso. Aquele que sonha ser Constanza Pascolato tem algo a dizer sobre a roupa do ressaqueado.
“Fulano de Deus, como sua esposa deixou você sair de casa assim??? Essa camisa não tem nada a ver contigo! Pelamordedeus, não consigo olhar pra você vestido assim não. E esse sapato? Jesus… Olha, vou lhe mandar no WhatsApp A-G-O-R-A um perfil que tem sua cara. As roupas são baratinhas, pode confiar. Olha aqui (e enfia o celular na cara do infeliz). Vou mandar no seu direct mesmo”.
O ressaqueado já sentia compreensível vontade de morrer. Após a análise minuciosa que o chato fez da primeira camisa que ele pegou do guarda-roupa com o sapato que estava ao alcance das mãos, o ainda meio ébrio está convicto de que não vale mais perder suas horas nesse plano.
Não seja essa pessoa desagradável que sempre tem algo a dizer sobre a roupa de todo mundo que está a seu redor. É chato. E, cá entre nós, é bem chato conviver com gente chata. Se você está convicto que tem talento e algo a dizer sobre vestimentas alheias, vá tentar ganhar algum dinheiro com isso. Crie um canal no YouTube, comece um trabalho como influencer no Instagram, arranje um trampo na 44. Sei lá.
Só não seja esse chato dos comentários sem noção. Por favor.
@pablokossa/Mais Goiás | Foto: Divulgação