Marginal Botafogo passará por interdições e intervenções nos próximos 90 dias
Segundo a Seinfra, há 15 pontos críticos na via, mas a avaliação é apenas visual. Reforma total é o objetivo. Projeto e laudo técnico deverão indicar novos problemas e orientar reparos
Sem passar por reparos estruturais significativos nos últimos 20 anos, a Marginal Botafogo dá cada vez mais sinais de que tudo pode desmoronar. Interditada totalmente no sentido Sul-Norte e com fluxo parcialmente interrompido do Norte para o Sul neste final de semana, uma das únicas vias de trânsito rápido que liga as duas regiões poderá ser totalmente paralisada. A via, reformada emergencialmente em dezembro de 2017, apresenta, segundo informações da própria Secretaria de Infraestrutura e Serviços Públicos (Seinfra), 15 pontos críticos em toda a sua extensão de 14 quilômetros, os quais exigem uma avaliação mais criteriosa sobre as condições da pista. Nos próximos três meses, intervenções e interdições serão realizadas até que recursos para uma reforma total sejam liberados.
De acordo com o secretário municipal Francisco Ivo Cajango Guedes, seis dos 15 problemas encontrados e visualmente notados pela equipe de engenheiros da pasta surgiram na semana passada, o que sugere um rápido avanço na degradação da estrutura. “A via tem problemas. O canal não passa por reparos há 20 nos. A marginal hoje mostra sinais de que precisa de reparos definitivos. Na sexta-feira (23), o prefeito autorizou prosseguirmos com a licitação do projeto, que inclui um levantamento completo, como um Raio X”.
Segundo ele, R$ 1,3 milhão serão destinados à elaboração do projeto, que levará cerca de 12 meses para ser concluído. Nesse um ano, afirma, atuações emergenciais serão feitas nos 15 pontos para dar segurança aos condutores. “Nos próximos 90 dias, teremos intervenções e interdições. A Marginal vai continuar funcionando até a conclusão do projeto”.
No domingo (25), Goiânia registrou o seu dia mais chuvoso. De acordo com dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) de Goiás, foram 73,6 milímetros, que correspondem a 34% dos 214.8 milímetros aguardados para fevereiro. Apesar do grande volume de água, Cajango afirma que os problemas nos pontos críticos não foram agravados.
Os problemas da Marginal vem sendo motivo de especulações por motoristas que trafegam pelo local. Na última semana, um condutor de Uber divulgou áudio nas redes sociais em que afirmava que os problemas da pista eram causados por buracos abaixo da avenida. O boato foi desmentido por um engenheiro ouvido pelo Mais Goiás.
Reforma completa
Com o documento pronto, Cajango estima que a reestruturação completa da via fique pronta em dois anos, além dos seis meses para conclusão da licitação necessária para realização das obras. Para que o plano seja executado, Prefeitura busca recursos no Ministério da Integração Nacional.
“As negociações já estão em andamento e o recurso solicitado está na ordem dos R$ 35 milhões. A reforma será total, tanto na parte de concreto estrutural, onde temos as maiores patologias, como nas estruturas de pedra, conhecidas como gabiões, que são as partes mais novas. O objetivo é realizar a reconstrução de alguns trechos e reforço estrutural do que já existe”.
Os 15 pontos críticos divulgados foram notados, segundo Francisco, por avaliações visuais das equipes da Seinfra. O projeto, por outro lado, precisa ir além. “O projeto prevê realização de ensaios geotécnicos, sondagem de todo o canal, análises de laboratório, avaliação das condições do concreto e investigação das armações de aço. Será um projeto acompanhado de laudo técnico, que nos dará condições de realizar uma reestruturação profunda”.
O secretário admite, entretanto, que refazer toda a Marginal Botafogo seria a forma mais simples de resolver o problema. “O custo, entretanto, seria pelo menos quatro vezes maior que o reparo. A estrutura atual, visivelmente, não é ruim. Existem questionamentos sobre a execução do projeto antigamente, pois não se previa o volume de água a que estamos sujeitos hoje e nem a poluição do corpo d’água, que agride a estrutura”.
Interdições e desvio
De acordo com informações da Secretaria Municipal de Trânsito (SMT), no sentido Sul-Norte, há interdição total, a partir da ponte da Avenida Anhanguera até a Avenida Independência.
No sentido contrário, há uma interdição parcial, em meia pista em dois pontos: próximo à Rua 44 e no Bosque Botafogo, após a ponte da Avenida Araguaia, no Setor Central.
Nesse caso, condutores podem optar por um desvio após a ponte da Avenida Anhanguera, acessando a Rua 200, no Setor Vila Nova, permanecendo nela até a 4ª Avenida, de onde o motorista poderá trafegar pela Rua 227, que desemboca na Avenida Independência ou em outro acesso à Marginal.
Nesses trechos, de acordo com a SMT, agentes sinalizam a redução da velocidade máxima da via, que agora varia entre 30km/h e 60km/h.
Críticas
Os alertas sobre as condições da avenida datam de 2015, quando o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia emitiu parecer à gestão do ex-prefeito Paulo Garcia. Na época, o engenheiro civil especialista em Drenagem Urbana Everton Sérgio Schmaltz, responsável pelo projeto de recuperação da avenida anotado na instituição em 2010 e interrompido pela prefeitura, afirmou que os problemas não eram novidade, já que o projeto da via é de 1970.
“Esse projeto teve, ao longo do seu período de vida útil, que ainda persiste, várias intervenções, sendo a maior delas relacionada à drenagem. “Até onde foi realizado, houve a recuperação das fundações das placas inferiores, e, nos pontos onde havia problemas, eles foram corrigidos”, observa.
Ele ressaltou pontos que devem ser observados pelas equipes da prefeitura. “É imperativo considerar que a água é pesada e, com um agente complicador, como velocidade e volume, problemas persistirão se não houver uma estrutura previamente projetada para essa situação”.
Para Schmaltz, a manutenção na Marginal deve ser constante. “Os córregos são elementos que devem ser sistematicamente limpos e vistoriados, para que a gente possa, cada vez mais, minimizar os problemas, porque, se não for tomada nenhuma medida, teremos outros. Após projetar e construir, deve-se acompanhar. O pós é tão importante quanto a obra em si, principalmente quando se trata de obras ligadas a sistemas hidráulicos”, frisa Everton.
O Crea foi procurado pelo Mais Goiás para comentar as novas intervenções, mas afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que não irá se manifestar, haja vista que avisos já foram emitidos pela entidade em 2015 e reforçados em 2016.