Mascarados saem às ruas de Pirenópolis e ignoram isolamento; vídeo
“Mascarado sai mesmo, não dá para controlar”: a fala do guia de turismo Mauro Cruz…
“Mascarado sai mesmo, não dá para controlar”: a fala do guia de turismo Mauro Cruz dá uma pista sobre motivos da tomada das ruas por mascarados na tarde de segunda-feira (1°/6) em Pirenópolis. Tradicionalmente seria o dia em que a tropa sairia durante as Cavalhadas no município histórico de Goiás. Não fosse a pandemia do coronavírus que obrigou a prefeitura a cancelar a festa folclórica deste ano.
Tradicionalmente os mascarados são uma resposta popular às instituições. Anônimos saem às ruas mascarados, com cavalos ou a pé para gracejar, pular, festejar, brincar. Ignorando o decreto municipal que cancelou às Cavalhadas, e estadual que prevê isolamento social para conter a covid-19, continuaram a tradição e encheram as ruas de Pirenópolis, com carros, motos, a pé e a cavalos.
“É festa. É questão folclórica e simbólica. Não é aquele mascarado tradicional, mas os catulés, como chamamos”, aponta Mauro Cruz. Foram eles que furaram o isolamento social, homens, mulheres e crianças festejando em cortejo, vestidos de índio, pelas ruas. Neste ano com uma novidade, talvez devido à pandemia, o uso de carros e motos.
Tradição
“Eu não sabia que sairiam”, diz uma moradora que não quis se identificar. “Só vi muita gente fazendo festa, empinando moto, em cima dos carros, alguns na contramão festejando. Não sei como se organizaram, nem quem participa”, afirma. A questão do anonimato e o silêncio sobre a identidade e motivações dos mascarados também estão enraizados na tradição pirenopolina.
Uma das versões para surgimento dos mascarados catulés, com máscaras pretas marcadas nos olhos, nariz e boca, formando o rosto de uma caveira, é que espantariam os maus espíritos. Hoje se usa também penachos como índios de filmes. Ou confrontariam a alta classe da cidade, já que somente os ricos poderiam se tornar cavaleiros na festa tradicional. O imaginário parece querer se atualizar diante dos fatos.
Fechamento
“Por ser tradição, é difícil controlar. Mas houve exageros”, aponta um músico que participa das festividades do Divino em Pirenópolis, mas que não quis se identificar por medo de ter sua fala “politizada”. Para ele, o uso de carros e motos viola a tradição dos mascarados. Por outro lado, entende que se trata de uma medida de manter o isolamento social, já que carros e motos seriam uma proteção.
A saída também teria sido estimulada pela manutenção de alguns eventos da Festa do Divino. Como a Alvorada, que saiu pelas ruas na madrugada de domingo com banda pelas ruas da cidade. Ou mesmo pela manutenção do feriado, mesmo sem a festa programada.
Saúde
Segundo o boletim da Secretaria de Saúde municipal, Pirenópolis possui cinco casos confirmados e 21 descartados, além de cinco curados de covid-19, segundo critério laboratorial até a segunda-feira. Não há registro de mortes.
Os números se mantêm estáveis graças ao fechamento das atividades turísticas, pousadas, eventos, bares e restaurantes. Boa parte dos representantes do setor turístico apoiam a decisão do prefeito de manter as atividades em suspensão para não colapsar o sistema de saúde municipal, mas há reuniões para discussão de adoção de protocolos para uma possível abertura ainda em julho.
O prefeito João do Léo (DEM) aponta que o município possui apenas cinco respiradores e nenhum leito de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), por isso é cauteloso quando o assunto é permitir a abertura da cidade. Ele diz que todo o comércio funciona normalmente e que entende a necessidade cultural dos moradores em festejar a Festa do Divino.
Ele vê a tomada das ruas pelos mascarados como uma ação política, provavelmente praticada ou estimulada por adversários políticos ou pessoas insatisfeitas com as medidas de isolamento social. “Ninguém agrada a todos. Seria muita arrogância tentar agradar a todos. Mas marcamos um ato simbólico com cavaleiros e mascarados para esta terça na em frente à Igreja do Rosário, respeitando as normas para evitar aglomerações”, diz.