Maurício Sampaio diz ser tratado como “pop star” em estádio e que “falsos amigos” se afastaram
Na segunda das quatro partes da entrevista exclusiva ao Mais Goiás, Maurício Sampaio conta como a vida mudou desde a morte de Valério Luiz, da qual ele é acusado de ser mandante
Desde que o jornalista Valério Luiz de Oliveira foi assassinado em frente à rádio em que trabalhava, no dia 5 de julho de 2012, a vida do ex-cartorário e ex-vice presidente do Atlético Goianiense Maurício Sampaio, acusado de ser o mandante do crime, mudou.
Maurício evita festas, por exemplo, e lida com bloqueios judiciais ao seu patrimônio – que ele diz terem-no obrigado a adotar um estilo de vida “espartano”. Mas o ex-cartorário tenta estabelecer rotinas e mantê-las, enquanto trabalha para provar que é inocente. O que inclui tomar café da manhã sempre no mesmo lugar (no Biscoito Pereira), às 5h da manhã. “Quem quiser achar o Maurício pode saber que eu vou sempre nos mesmos lugares”, afirma.
Na segunda parte da entrevista exclusiva que concedeu ao Mais Goiás, Maurício afirma que os “falsos amigos” se afastaram, mas outros se aproximaram para estender-lhe a mão. E que é “ovacionado” quando vai ao estádio Antônio Accioly para assistir aos jogos do Atlético, seu time de coração.
“O povo me adora no Atlético. Lá, o povo tira foto comigo. Acham que eu sou pop star. Eu me emociono, porque é uma coisa que mexe comigo”.
Morte e meses na prisão
Maurício afirma que a repercussão em torno do crime não alterou a sua vida no primeiro momento, e que ele continuou a trabalhar normalmente. “Aí chegou uma intimação da polícia para que eu fosse depor. Eu fui, prestei depoimento e fui embora. Até que veio a minha prisão, no dia 2 de fevereiro de 2014. E lá fiquei por quase quatro meses”.
Na cadeia, Maurício Sampaio conta que passava a maior parte do tempo dopado e que perdeu 14 kg.
“Eu não me alimentava. Mas aprendi a conviver com aquilo, porque ninguém quer morrer naquele lugar. E vivi esses quatro meses. Até que veio a minha soltura, para que eu pudesse responder em liberdade. Até então, a negativa da Justiça aos meus pedidos de habeas corpus era: ele vai interferir no processo. Como eu poderia interferir?”
O ex-vice-presidente do Atlético relata que, a partir daí, ele viveu outros revezes, como a perda da titularidade do 1º Tabelionato de Notas de Goiânia, onde ele prestou serviços por 34 anos. “Obviamente, isso me trouxe transtornos financeiros. Minha vida é bloqueada e a família do Mané [Mané de Oliveira, já falecido, pai de Valério] entrou com pedidos de indenizações milionárias. Eu respondo a várias. O que eles olham em mim é o dinheiro, que não existe. O que eu tenho está bloqueado. Hoje, eu tenho uma vida espartana. Graças a Deus, eu sou da geração de ferro, que sabe viver com pouco”.
“Eu ando à pé na rua”
Maurício afirma que a nova realidade “afetou drasticamente” a família dele, mas pondera que ele e os irmãos aprenderam, com o pai, a enfrentar as dificuldades. “Nesses dez anos, eu ando à pé na rua. Eu ando Goiânia inteirinha. Nunca tive nenhum dissabor. Sou ovacionado no Antônio Accioly. O povo me adora no Atlético. Lá, o povo tira foto comigo. Acham que eu sou pop star. Eu me emociono, porque é uma coisa que mexe comigo”.
O ex-cartorário guarda mágoa de praticamente toda a imprensa, a quem ele acusa de fazer imputações e escrever a respeito do caso sem conhecer a investigação. “Eu tenho que viver debaixo de porrada, de imprensa que nunca leu uma folha do processo”.
Maurício Sampaio diz também o “esforço para incriminá-lo” jamais apagará a história que ele e a família dele tem em Goiânia.
“O Atlético teve dois grandes jogadores: Bertoldo e Barrica. Eles vieram de Minas Gerais, do Villa Nova e Nova Lima, e eram duas estrelas. O Barrica era um cachaceiro. Toda sexta-feira, ele ia na avenida Bahia, que hoje se chama Alberto Miguel, onde funcionavam prostíbulos. O Barrica vivia lá, bebendo. Ele era preso no 5º DP na sexta e, no domingo, meu pai passava lá na São Judas, com o Frei Confaloni, e soltavam o Barrica para ele jogar. Eu era menino, meu pai tinha um carro antigo. Eu lembro como hoje. O estadio não tinha alambrado. Era tudo de ripa. Eu estava no estádio quando o Crac tirou o título do Atlético, na década de 60. É uma história”, completa o ex-vice-presidente do clube.
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