CASO VALÉRIO

Maurício Sampaio, em entrevista exclusiva: “como pode juiz atuar na causa de um inimigo?”

O ex-cartorário e ex-vice-presidente do Atlético Goianiense Maurício Sampaio volta a se sentar no banco…

O ex-cartorário e ex-vice-presidente do Atlético Goianiense Maurício Sampaio volta a se sentar no banco dos réus na próxima segunda-feira (2).

Acusado de ser o mandante do assassinato do jornalista Valério Luiz de Oliveira, morto a tiros em frente à rádio em que trabalhava no dia 5 de julho de 2012, Maurício insiste na tese de que o juiz Lourival Machado da Costa não pode conduzir o caso, em razão velhas divergências que tem com ele. “Como pode um juiz atuar na causa de um inimigo?”, disse Maurício em entrevista exclusiva ao Mais Goiás, que será publicada em quatro partes.

“Eu ouço muito falar dos comentários dele sobre mim. É público e notório que ele tem desavenças comigo. Aí vem ele dizer que não me conhece? Queria ver: qual foi a decisão favorável do Lourival aos meus pleitos? Ele apenas revogou todos os atos que poderiam ajudar a encontrar a verdade”, afirma o ex-cartorário, referindo-se a pedidos de produção de prova.

Como a suspeição do juiz implica em nulidade absoluta do processo e pode ser arguida a qualquer tempo, Maurício e seus advogados continuam a trabalhar para convencer a Justiça de que Lourival, da 2ª Vara de Crimes Dolosos Contra a Vida da Comarca de Goiânia, quer prejudicá-lo. Existe um recurso sobre esse assunto no Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e outro, contra três promotores que atuam no caso, no Conselho Nacional do Ministério Público.

“Este juiz é meu desafeto, inimigo mesmo. Um desqualificado, que nunca poderia estar na magistratura. Ele não tem porte e conduta de juiz. Mente ao dizer que não me conhece. Ele não só me conhece como tem amizades em comum, conhece minha família. É muito doloroso isso. Muito triste”. 

Divergências no cartório

Na entrevista ao Mais Goiás, Maurício conta que tem problemas de relacionamento com Lourival desde quando era titular do 1º Tabelionato de Notas, Títulos, Documentos e Protestos de Goiânia. Naquela época, o hoje juiz era advogado e trabalhava em um escritório de cobrança de dívidas.

“As nossas divergências começam na época em que ele trabalhava no escritório de cobrança. Houve um problema no cartório, e eu sempre defendi os meus funcionários. Às vezes atrasa uma notificação, alguma coisa, e ele sempre foi muito estrela. Aí eu achei que ele ia levar para um outro cartório, dividir de forma diferente. Começou uma certa rusga”, conta Maurício.

Futebol, namorada e ‘coincidências’

Maurício se recorda de outros três momentos em que a trajetória de vida dele cruzou com a do juiz que hoje cuida do caso dele. Um relacionado a futebol, outro a uma antiga namorada e um terceiro sobre o encontro ‘acidental’ no Tribunal de Justiça.

“Lourival sempre jogou futebol. Como eu costumo ajudar, uma vez fui chamado para acompanhar o time da Asmego [Associação dos Magistrados do Estado de Goiás] em um campeonato, coisas assim, e tivemos uma certa desavença porque ele não se sentia apto a ser substituído. Ele se considerava o Pelé. Ele se acha”, afirma o ex-vice-presidente do Atlético.

“Você gosta de ler coisa contra você? Eu nunca li esse processo. Eu não dou conta. Me dá asco. Eu começo a ler e penso ‘não é possível’. Isso é uma maldade inconteste.”

Pouco depois de perder a titularidade do cartório, Maurício diz que visitou o gabinete do corregedor do Tribunal de Justiça de Goiás na época, desembargador Wilson Dias, para tratar do pedido para reaver a gestão do tabelionato, e “coincidentemente” encontrou Lourival no mesmo gabinete. “Ele passou por mim com um ar de cinismo que levou a crer que ele foi lá falar algo do tipo: ‘como é que vocês vão voltar o Maurício se ele tem esse processo aqui?’ Isso não posso provar, mas é o que sugere”.

O ex-vice-presidente do Atlético também diz que se sentiu incomodado ao descobrir que uma ex-namorada dele havia sido contratada para o gabinete de Lourival. “Isso eu nem coloquei no meu pedido de suspeição, porque a época a Gilvane estava doente. Mas para entrevista eu posso contar. Eu sempre quis entender melhor essa história”.

Maurício ainda afirma que o seu ex-advogado, o criminalista Ney Moura Teles, recusou-se a usar a história da ex-namorada para melhorar a fundamentação do pedido de suspeição movido por interesses próprios. “O Ney nunca quis entrar com essa história. Você concorda comigo que o advogado não quer entrar em conflito com o juiz, pra evitar danos a processos futuros?”.

Sobre o crime

Além de Maurício, outras quatro pessoas respondem pelo assassinato de Valério Luiz: os policiais militares Ademá Figueiredo Aguiar Filho e Djalma Gomes da Silva (conhecido como Da Silva), Urbano de Carvalho Malta e o açougueiro Marcus Vinícius Pereira Xavier.

Ademá é acusado de ser a pessoa que efetuou os tiros que mataram o jornalista. Da Silva, de acordo com a denúncia do MP, ajudou a planejar o assassinato. O açougueiro seria a pessoa que emprestou a moto, uma camiseta e o capacete usados no crime. Urbano teria sido a pessoa que avisou Ademá que Valério havia acabado de sair da rádio, por volta de 14h daquele dia.

A linha de investigação que o Ministério Público Estadual defende é a de que Valério foi morto em função de críticas feitas à diretoria do Atlético na época. No dia 17 de junho de 2012, ele disse em um programa de TV: “nos filmes, quando o barco está afundando, os ratos são os primeiros a pular fora”.

Maurício nega todas as acusações.