RACISMO

Médico de Goiás que filmou homem preto acorrentado é condenado a pagar R$ 300 mil de indenização

O crime aconteceu no dia 15 de fevereiro de 2022, na Fazenda Jatobá, na zona rural da Cidade de Goiás, e gerou indignação nacional

Homem preto acorrentado (Foto: Reprodução)

A Justiça goiana condenou o médico Márcio Antônio Souza Júnior a pagar R$ 300 mil, a título de indenização, por danos morais coletivos crime de racismo ao filmar um caseiro negro com as mãos e os pés acorrentados. O valor será dividido entre a Associação Quilombo Alto Santana e a Associação Mulheres Coralinas.

O crime aconteceu no dia 15 de fevereiro de 2022, na Fazenda Jatobá, na zona rural da Cidade de Goiás, e gerou indignação nacional e internacional.

Ao analisar os autos, a juíza Erika Barbosa argumentou que houve a intenção do acusado de ultrajar a dignidade do ofendido e à coletividade mediante a postagem de vídeo com conteúdo racista, em atitude inteiramente preconceituosa e discriminatória, relativa à raça e cor, ofendendo-lhe a honra por meio de postagens nas redes sociais.

A magistrada explicou que o acusado assumiu o risco ao produzir o vídeo e o resultado lesivo foi enorme para a comunidade negra, que se sentiu extremamente ofendida, já que há um vídeo de representação da senzala e a condição do negro.

“O vídeo é explícito ao retratar o racismo, já que o caso reforça o estereótipo da sociedade, com o grau de racismo estrutural. Não faz diferença se o caso se trata de uma brincadeira, já que no crime de racismo recreativo, por ser crime de mera conduta, é analisado o dano causado à coletividade, e não o elemento subjetivo do autor”, pontuou a magistrada.

Caso

Conforme o processo, o funcionário trabalhava na fazenda do acusado, onde recebia um salário mínimo para fazer serviço pesado. No dia do fato, o acusado o achou para mostrar os apetrechos que ficavam na igrejinha da fazenda, quando colocou as correntes em seu pescoço e em suas mãos, e começou a gravar o vídeo pelo celular.

Na ocasião, ele falava que o ofendido estava em sua senzala por não estudar e logo postou o vídeo nas redes sociais. No mesmo dia, passado alguns minutos da publicação, ligaram para o acusado e pediram para que fosse retirado o vídeo. Nos autos, ele explicou que não tinha como retirar o vídeo, mas que decidiu gravar um segundo vídeo.

O Ministério Público do Estado de Goiás (MPGO) foi acionado. No local, foi apreendido uma gargalheira (objeto utilizado para aprisionar pessoas escravizadas pelo pescoço); um par de grilhões para mãos sem corrente (objeto utilizado para aprisionar pessoas escravizadas pelas mãos); e um par de grilhões para pés com corrente (objeto utilizado para aprisionar pessoas escravizadas pelos pés).