Crise por demissões

Médicos do HDT exigem saída da organização social que administra o hospital

Reuniões com o governo estadual e o Cremego já aconteceram; governo ficou de investigar melhor a situação

Mais de 30 funcionários do Hospital de Doenças Tropicais (HDT) de Goiás pediram a saída da Organização Social que administra o hospital há sete anos, o Instituto Sócrates Guanaes (ISG). A demissão de quase 50% do corpo clínico da Emergência, Reanimação e Unidade de Terapia Intensiva (UTI) na segunda-feira da semana passada, dia 7, foi o estopim para a manifestação da última segunda-feira (14), quando o grupo entregou uma carta ao governador do Estado, ao Conselho Regional de Medicina (Cremego), ao Sindicato dos Médicos de Goiás (Simego) e a políticos ligados à carreira médica.

O Cremego inspecionou o hospital na última segunda-feira (14) e vai relatar a situação encontrada em um laudo, nos próximos dias. O Simego prometeu visitar a unidade ainda nesta semana. E políticos ligados à carreira médica já procuraram o grupo para manifestar apoio. Entre eles, segundo a médica infectologista da carreira estadual Marianna Tassara, os deputados estaduais Hélio de Sousa (PSDB) e Lucas Calil (PSD) e a vereadora de Goiânia Dra. Cristina Lopes (PSDB). O governo de Goiás deve receber os integrantes do grupo também nesta semana. Já ocorreu uma reunião preliminar com um assessor da governadoria, quando foi prometido que a situação será melhor investigada e o caso repassado para a Secretaria Estadual de Saúde.

Os médicos reivindicam, basicamente, a manutenção do atual modelo de serviço prestado pelo hospital com dois médicos na Emergência. Marianna Peres Tassara, servidora do HDT há 13 anos, integrante da liderança do grupo conversou com o Mais Goiás na manhã de quarta-feira (16) e contou que a exigência que será mantida em pauta é a saída da organização social baiana da administração.

Segundo a médica, a administração demitiu quase 50% do corpo clínico de três áreas essenciais para o funcionamento: a Emergência, Reanimação e UTI. Desde a segunda-feira (7), os Recursos Humanos (RH) do ISG demitiu dois médicos durante o plantão. Uma dermatologista às 9h, enquanto atendia um paciente e mais cinco aguardavam na espera, e outra médica às 10h, surpreendida pelo RH após sair de uma reunião. Segundo a médica, o RH tem uma lista com 11 nomes para serem demitidos e até o momento foram sete.

A administração justificou aos médicos, segundo Marianna Tassara, que um estudo interno, mas não divulgado ao corpo clínico, amparou as demissões baseados em números. O paciente do HDT custa mais caro do que pacientes de outros hospitais, como do Hugol, por exemplo.

“Mais lucratividade”

O paciente do HDT  custa R$ 1,8 mil, segundo o estudo da administração, enquanto a média estadual é de R$ 237 e a brasileira de R$ 235. Marianna Tassara trabalha com a hipótese de que a organização social vai deixar o contrato com o Estado em dezembro deste ano, por isso procuraria, neste momento, obter o máximo possível de lucro ao custo da redução da equipe médica.

A administração do hospital enviou uma nota ao Mais Goiás confirmando que as demissões seguiram critérios técnicos dos gestores. “O Hospital Estadual de Doenças Tropicais Dr. Anuar Auad (HDT), unidade gerenciada pelo Instituto Sócrates Guanaes (ISG), informa que com relação aos desligamentos e/ou substituições de colaboradores da unidade, são realizados seguindo critérios técnicos após rigorosa análise dos gestores imediatos. O hospital esclarece ainda que, o quadro de colaboradores mantido supre toda a necessidade operacional do HDT, garantindo a qualidade da assistência prestada aos pacientes e o cumprimento de todas as metas pactuadas em contrato de gestão com a Secretaria de Estado da Saúde – SES-GO”, consta na nota.

Manifestação dos médicos do HDT. Para eles, equipe está desfalcada, o que compromete atendimento (Foto: divulgação/Leitor Mais Goiás)
Manifestação dos médicos do HDT. Para eles, equipe está desfalcada, o que compromete atendimento (Foto: divulgação/Leitor Mais Goiás)

Porém, os médicos alertam ainda para aparelhos de tomografia e broncoscopia quebrados há vários meses, redução de 130 vagas de leitos na UTI para 96, extinção do atendimento pediátrico na Emergência e o atendimento de plantão por apenas um médico. O histórico do hospital apontava dois ou três plantonistas nos últimos 13 anos, segundo Tassara.

Na contramão das demissões para economizar recurso, Tassara conta que uma ex-diretora-geral do hospital teve folha de pagamento que chegou a R$ 95 mil em um único mês. Valor que pagaria 17 médicos, segundo a infectologista, com salários médios de R$ 5.588 mensais.

Pacientes

Com a demissão dos sete médicos, ela relata que pacientes passaram mal na noite de terça-feira (15) e ficaram sem medicação porque o plantonista não conseguiu sair da Emergência para atender a Reanimação.

Uma paciente caiu da cadeira e bateu a cabeça no chão, na sala de espera da Emergência, resultado, segundo Tassara, da sobrecarga de trabalho em cima de um médico.

“Casos similares têm acontecido diariamente desde que os plantonistas foram demitidos. Já chegamos a ter três médicos no pronto socorro, contando um residente”, explica Marianna Tassara.