Médium João de Deus continua lucrando com atendimentos espirituais, diz revista
A média de movimento financeiro gerado por visitas de estrangeiros à Casa Dom Inácio de Loyola está na faixa de R$ 15 milhões
Preso desde dezembro de 2018, o médium João Faria de Teixeira, o João de Deus, continua lucrando com atendimentos espirituais. Isso porque a rede de guias de turismo espirituais criada em diversos países da Europa, África e Oceania continua atuante. As dezenas de pessoas que trabalham para o réu tentam convencer estrangeiros de que o líder espiritual não cometeu os crimes sexuais dos quais é acusado e que o poder curativo está inabalado. As informações são da revista Isto É.
O líder espiritual, que estava internado no Hospital Municipal de Aparecida de Goiânia, deixou a unidade de saúde e teve de retornar ao Complexo Prisional na região Metropolitana da capital. Ele foi internado no último dia 27 de setembro com fortes dores no peito. A Diretoria-Geral de Administração Penitenciária (DGAP) informou, por meio de nota, que o preso irá receber assistência no hospital sempre que necessário.
Mesmo preso e com a saúde debilitada, segundo conta a defesa, o réu continua lucrando. Conforme apurado pela revista, os guias possuem sites para promover viagens do exterior à Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia. A frequência atual no local não chega a mil visitantes. 90% deles são de países como Alemanha, Suíça, Nova Zelândia, França, Itália, África do Sul, Austrália e Finlândia. O valor cobrado por duas semanas na cidade do interior custa entre R$ 15 e 20 mil, dependendo do local de origem. A média de movimento financeiro gerado está na faixa de R$ 15 milhões.
Além das excursões, os sites vendem produtos e serviços. São vendidos, por exemplo, sessões em camas de luz de cristais, remédios de passiflora, bijuterias, jóias e até serviços de cura por celular.
“João de Deus tem uma clientela muito rica no exterior e há uma campanha de contra-informação em que se tenta apresentá-lo como um injustiçado e perseguido pela imprensa e por ONGs”, disse a psicóloga Maria do Carmo Santos, membro do Grupo Vítimas Unidas e ativista de direitos humanos à revista. “Ainda há gente que acredita cegamente nos seus poderes e há consultas por telefone celular realizadas por médiuns ligados ao centro”.
Segundo a psicóloga, há pelo menos 40 sites que promovem a Casa Dom Inácio de Loyola. Um dos representantes do líder espiritual mantém um endereço eletrônico com serviços e pacotes de viagens da Nova Zelândia para Abadiânia. Apenas neste ano foram realizadas duas viagens, em março e junho. Uma nova está programada para novembro. De acordo com a revista, o guia já possui programação para 2020.
O Mais Goiás entrou em contato com a defesa do acusado e aguarda posicionamento.
MPF
O trabalho dos guias tem sido questionado pelo Ministério Público Federal (MPF), pois o órgão considera que a atuação é informal e os guias exercem a função sem autorização. Pela lei, só pode atuar na profissão pessoas com cadastro no Ministério do Turismo, o que não é o caso dos representantes de João de Deus.
“Estamos exigindo que os guias se cadastrem para permitir um maior acompanhamento da Casa pelo poder público”, afirma o procurador do MPF, Wilson Rocha. A exigência do certificado pode significar um colapso na Casa Dom Inácio de Loyola visto que a movimentação financeira do lugar representa 90% da captação de recursos do local.