“Minha filha ia se chamar Maria Eduarda”, diz mãe acusada de matar bebê e esconder corpo
Durante interrogatório, Márcia Zaccarelli ainda afirmou que visitava e "conversava" com o corpo da criança quase todos os dias
“Eu nunca quis minha filha longe de mim. Tinha até escolhido o nome dela, ia se chamar Maria Eduarda”, afirmou nesta segunda-feira (26), Márcia Zaccarelli Bersaneti, acusada pelo homicídio e ocultação do cadáver da filha recém-nascida, durante interrogatório. A mulher foi ouvida pelo juiz Jesseir Coelho de Alcântara, da 1ª Vara Criminal de Goiânia. O homicídio, segundo a denúncia, ocorreu em 17 de março de 2011 e o corpo do bebê ficou escondido dentro do escaninho do prédio onde morava, por mais de cinco anos.
Durante cerca de 40 minutos, Márcia Zaccarelli respondeu as perguntas do magistrado, do promotor Maurício Gonçalves de Camargos e dos advogados de defesa. Em muitos momentos ela chorou e deu detalhes do que teria acontecido, mas não soube explicar como o bebê morreu. “Eu não matei minha filha. Eu não asfixiei”, negou.
Márcia confessou que teve um relacionamento fora do casamento que durou cinco meses e foi dele que ela teria engravidado. Ela disse ainda que tentou esconder a gravidez do marido com quem ela era casada na época, mas quando a barriga começou a crescer, por volta dos cinco meses, ela contou para ele. “Ele me xingou de todos os nomes. Eu era totalmente dependente financeiramente dele”, contou, ao completar que sofria agressões físicas e psicológicas do ex-marido.
A acusada afirmou ainda que assim que soube da gravidez teria avisado ao suposto pai, mas ele era casado e não quis ajudá-la. “Eu tentei várias vezes pedir ajuda, mas ele nem atendia mais minhas ligações”. Ela afirmou também sofrer de depressão e tomar remédios antidepressivos.
Ao ser questionada pelo promotor se o marido sabia que ela tinha escondido o corpo da criança, foi enfática. “Ele não sabia que o corpo dela estava no escaninho e também não pediu para eu matar ou pôr um fim à criança, mas ele sabia que eu estava grávida”, reiterou. “Quando ele soube, fez pressão psicológica em mim. Me manteve em casa o tempo todo, pediu para não conviver com ninguém e que era para eu me ausentar da casa da minha mãe”, revelou chorando.
A mulher narrou o que aconteceu no dia em que foi ganhar a bebê. Ela disse que ligou desesperada para Alex Delano, dono da imobiliária em que ela trabalhava e amigo do suposto pai da criança. “Pedi para ele me levar no hospital, pois eu estava com contrações. Ele me levou e pagou o parto, foi 3 mil reais. No outro dia, eu sai do hospital com a criança nos braços sem rumo e desesperada”, destacou.
Ela não soube explicar porque nem como colocou a filha dentro da caixa. “Eu nunca quis minha filha longe. Eu ia lá (escaninho) praticamente todos os dias”, disse chorando mais uma vez. “Eu queria ela comigo e viva. Eu não mateia minha filha. Eu a embalei porque queria ela comigo”, reiterou.
Testemunhas
O ex-marido de Márcia negou que sabia da gravidez e afirmou que o casamento deles era “conturbado”. O homem salientou que o relacionamento deles durou oito anos e que nunca soube que foi traído por Márcia. “Eu não sabia que ela me traía. No dia em que fiquei sabendo, separamos”, contou.
“Tínhamos relações, tínhamos nossas brigas, às vezes nos afastávamos, mas nunca percebi nada de diferente nela, algo estranho”, disse. Ele afirmou ainda que tem certeza de que o bebê encontrado morto no escaninho não é seu. “A filha não é minha. Quando eu casei com ela, eu já era vasectomisado, porque eu já tinha sido casado e tinha outros três filhos”, explicou.
A empregada doméstica que trabalhava na casa na época do fato, Dijanira Maria Ferreira, disse que ela sabia que Márcia tinha um relacionamento fora do casamento, mas negou saber da gravidez. “Ela me contou que estava traindo o marido e eu disse para ela parar com isso. Só que ela nunca me contou que estava grávida e eu não percebi”, ressaltou.
Júri
Jesseir explicou que a partir de agora, o Ministério Público do Estado de Goiás vai analisar se o ex-marido dela também pode ser indiciado pelo crime. “O MPGO é o titular da ação penal, ele que vai decidir se ele pode ou não ter participado ou ser até um executor. Então a Justiça aguarda a manifestação do MPGO”, explicou.
A defesa de Márcia e o MPGO têm cinco dias cada um para apresentar suas alegações finais. Em 30 dias, o magistrado vai decidir se Márcia será encaminhada ou não a júri popular pelo crime.