Modelo goiana vítima de transfobia planeja criar fundação para defender minorias: “não dá mais”
Modelo Camila Montovani foi vítima de ataque transfóbico de uma pessoa que viu um vídeo de desfile de moda no Instagram
Dias antes de produzir uma campanha publicitária que será exibida na Times Square, em Nova York, a modelo goiana Camila Montovani foi surpreendida com ataque transfóbico nas redes sociais. A agressora disse que Camila era um demônio, por ter feito cirurgia para mudança de sexo, e que estava condenada a ir para o inferno: “ela não é deusa. ela é um homem e tem um penis e será condenada ao inferno. A palavra de Deus é clara” (sic).
No mesmo dia em que procurou a Polícia Civil de Goiás para registrar ocorrência, a modelo conversou com Mais Goiás, contou um pouco da história dela e revelou planos de ajudar pessoas que vivem situações semelhantes. “Futuramente, eu quero lançar construir uma fundação para ajudar quem passa por esse tipo de experiência, que ninguém deveria passar”, diz Camila. “Essa situação desagradável fez eu entender que eu tenho uma luta, porque eu acabo carregando a representatividade de muitas pessoas”.
A modelo nasceu em Bela Vista de Goiás e começou a carreira aos 12 anos. A primeira campanha de sucesso veio aos 13, para uma marca de pijamas. Desde então, brilhou em passarelas e conquistou o mundo. “Já fui musa de escola de samba, desfilei em Londres, fiz campanhas para Armani, H.Stern, Mercedes Benz, fui capa de revistas em todo o planeta, gravei a minha biografia para uma plataforma chilena”, conta ela.
Em que pese a exposição que ofício de modelo obriga Camila a ter, ela diz que nunca sofreu um ataque transfóbico tão grave. “É a primeira vez em 16 anos de carreira. Se tiveram preconceito, sempre foi velado. Agora foi mais escancarado. Se não fosse minha amiga, eu não teria tido conhecimento. É algo para mim muito novo”.
A amiga que ela menciona postou um vídeo de um desfile e, na legenda, parabenizou Camila. Foi então que uma mulher respondeu, via direct: “Misericórdia, você está dando exemplo para as gerações mais novas a ser trans. Isto é o inferno. Pare de postar o que Deus condenou e está indo para o inferno! Você sabe como está o mundo, com crianças e jovens sendo influenciados por esse demônio e querendo fazer cirurgias de mudar o sexo e depois se matando. O que adiante ter tudo aqui e ir para o inferno?”. A modelo nunca conversou com a autora dessa mensagem, mas sabe que elas frequentam o mesmo salão de beleza.
“Ao longo do tempo, eu nunca invadi quadrado de ninguém, sempre tive bastante educação. Eu aguentei muitas coisas calada porque não tinha estrutura psicológica para me envolver. Mas não dá mais. Tudo tem um limite, eu sou religiosa, acredito em Deus, sou filha de Deus. Nunca fui atacada de maneira tão covarde. Eu nasci hermafrodita, mas já fiz operação há muito tempo. Eu sou uma mulher que sempre quis ter família, casar, ser respeitada. O Brasil tem que mudar. A expectativa de vida das pessoas trans, hoje, no país, é baixíssima. A média é de 33 anos. É o país que registra o maior número de assassinatos de pessoas LGBTQIA+. Muitas se suicidam também porque não aguentam a pressão. Não vou mais ficar calada”.