Morador de rua baleado por PMs na Praça do Sol foi abordado 12 vezes em 3 anos
Morador de rua baleado por policiais militares (PMs) na Praça do Sol no último dia…
Morador de rua baleado por policiais militares (PMs) na Praça do Sol no último dia 9/12, em Goiânia, foi abordado 12 vezes em 3 anos por membros da mencionada corporação. Informação consta em documento disponibilizado pela Polícia Civil de Goiás. A vítima está inconsciente e em estado grave na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo).
Divair Nunes da Cruz, de 28 anos, foi atingido por quatro dos oito tiros disparados contra ele. Primo do baleado, cuja identidade será preservada, revelou que a vítima não tinha registro criminal, mesmo diante das várias abordagens das quais foi alvo.
A Polícia Militar apresentou o referido documento em audiência de custódia realizada no dia seguinte aos disparos na Praça do Sol. A lista mostra que Divair foi abordado 12 vezes entre agosto de 2018 e dezembro de 2021. Do total, apenas duas apresentam justificativas: “operações designadas pela Polícia Militar”.
Justiça emitiu mandado de prisão contra o morador de rua baleado por PMs
Policiais militares alegam que Divair estava bastante alterado e quebrou o farol de uma das viaturas durante a ação policial. Agentes então acionaram reforço para conter o rapaz, que, segundo a ocorrência portava uma faca e recusava se entregar.
Em determinado momento, ainda de acordo com relatos de militares, Divair teria tentado esfaquear um dos policiais, que se esquivou e caiu no chão. Na sequência, Divair teria pulado sobre o PM em nova tentativa de atingi-lo. Os disparos então foram efetuados para frear a iniciativa do morador de rua, de acordo com a corporação.
Na audiência de custódia, um cabo da Polícia Militar envolvido na ação do dia 9/12 mostrou a calça da farda rasgada, bem como ferimentos no nariz e braço. Os machucados aparecem como escoriações leves em laudo da Polícia Técnico Científica lavrado após a abordagem. De acordo com o PM, Divair teria usado uma faca para provocar o rasgão que danificou o uniforme.
Como Divair estava impossibilitado de ser ouvido e nenhum familiar tinha conhecimento do ocorrido até o momento, os relatos dos policiais predominaram na oitiva. Assim , juiz determinou a prisão preventiva de Divair por tentativa de homicídio.
Imagens não mostram se rapaz quebrou o farol da viatura
Filmagens feitas por moradores e outras registradas por câmeras de segurança instaladas nas redondezas não captaram o momento em que, supostamente, Divair teria quebrado farol de uma viatura. Primo contesta versão da Polícia Militar.
“A viatura chegou lá meia noite, ele estava deitado no banco dormindo. Como que ninguém viu ele quebrando essa viatura? Tem vídeo e eu sei que meu primo é inocente”, conta o primo.
O defensor Público Luiz Henrique Silva, que representou Divair na audiência de custódia, afirma que a violência usada na abordagem foi “exagerada e sem necessidade”, além de não fazer sentido ter uma “grande quantidade de policiais para conter apenas um morador de rua”.
O Mais Goiás entrou em contato Secretaria de Segurança Pública para obter informações sobre o motivo da abordagem, mas foi direcionada a entrar em contato direto com a Polícia Militar. A corporação não deu retorno até a publicação do texto.
Familiar diz não ter conhecimento das abordagens
Um primo do rapaz diz não ter conhecimento de nenhuma das abordagens e afirma que Divair não tem nenhuma passagem pela polícia. “A gente (família) desconhece que ele foi abordado 12 vezes. Nos falaram agora, mas disseram que era abordagem de rotina e em nenhuma das 12 vezes encontraram nada com ele. Os policiais colocam o que querem lá, mas a justiça de Deus nunca falha”, conta o primo.
Divair segue internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital de Urgência de Goiânia (Hugo) inconsciente, mas respira espontaneamente. O rapaz terá que ser submetido a uma cirurgia nas pernas após sair da UTI.
Divair é conhecido como uma pessoa tranquila
Familiares contam que tentaram tirar o rapaz das ruas diversas vezes, mas ele não queria sair. Divair dormia em um banco na Praça do Sola há mais de um ano e era conhecido pelos moradores do Setor Oeste como uma pessoa tranquila.
O primo relata que o rapaz precisava de ajuda psicológica. “Ele estava precisando de ajuda e não de uma abordagem truculenta dessas”.