MP denuncia Padre Robson e mais 17 pessoas por supostos desvios na Afipe
Documento oferecido ao Judiciário destaca supostos crimes de organização criminosa, apropriação indébita, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro
O Ministério Público de Goiás (MP-GO) ofereceu denúncia contra o padre Robson de Oliveira e outras 17 pessoas por supostos desvios de doações de fiéis destinadas à Associação dos Filhos e Filhas do Pai Eterno (Afipe). De acordo com o órgão, eles foram denunciados pelos crimes de organização criminosa, apropriação indébita, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro. Todos os envolvidos foram investigados na Operação Vendilhões, que após ficar dois meses suspensa, foi reaberta na última sexta-feira (4) após decisão judicial.
Além do padre, foram denunciados Onivaldo Oliveira Cabriny Costa Júnior, Gleysson Cabriny de Almeida Costa, Braúlio Cabriny de Almeida Costa (núcleo família Cabriny); Rouane Caroline Azevedo Martins, Gustavo Leonardo Naciff do Nascimento, Anderson Reiner Fernandes, José Pereira César e Paulo César Campos Corrêa (núcleo operacional); Celestina Celis Bueno, Ana Verônica Mendonza Martins, Anderson Matheus Reiner Fernandes, Rodrigo Luis Mendonza (núcleo laranjas) e Adrianne de Oliveira Pereira, José Celso Pereira, Elice de Oliveira Pereira, Jeferson de Oliveira Pereira e Joselice de Oliveira Pereira Carvalho (familiares do padre Robson e pertencentes ao núcleo dos beneficiários).
Defesa
Em nota encaminhada ao Mais Goiás, o advogado Pedro Paulo de Medeiros, que representa o padre Robson, destacou que “como nada há de novo, além das mesmas tentativas do Ministério Público em querer opinar sobre assuntos internos de uma entidade privada, a defesa segue tranquila aguardando a confirmação pelo Superior Tribunal de Justiça da decisão já tomada pela unanimidade do Tribunal de Justiça, que reconheceu que Padre Robson é inocente e trancou as investigações”, diz o texto.
O portal não conseguiu contato com a defesa dos demais citados. O espaço permanece aberto para manifestação.
Dinâmica
Segundo o MP, o padre Robson era líder do grupo que, em 2004, organizou a criação da Afipe. Em março de 2008, ele criou a Associação de Filhos do Pai Eterno e Perpétuo Socorro e, em 2009, concretizou a criação da Afipe. Na denúncia consta que a constituição das duas associações ocorreu de maneira oculta pois “membros das diretorias e dos conselhos não sabiam da existência de pessoas jurídicas distintas.” Com isso, várias atividades e patrimônios foram ocultados por padre Robson, apontam as investigações.
Ainda conforme a denúncia, membros das Diretorias e Conselhos Fiscais das Associações alegaram que apenas assinavam as atas e documentos das reunião simuladas. Esse documentos eram encaminhados às respectivas residências através de motoboys por determinação de Rouane e Anderson.
Além disso, o MP afirma que grande parte dos recursos desviados veio do argumento para a construção de uma nova basílica em Trindade. Para isso, padre Robson teria determinado a criação, constituição e aquisição de diversas pessoas jurídicas, através de laranjas, para configuração desses negócios com declarações falsas para que os fatos fossem ocultados. Um exemplo disso foi uma rádio do grupo que recebeu mais de R$ 2 milhões desviados da Afipe e que, segundo a denúncia, dinheiro supostamente utilizado pela organização.
Além disso, o MP aponta que os desvios também iriam para “pagamento de despesas pessoais dos investigados e para aquisição de imóveis”. Entre esses imóveis, conforme apurado pelo MP-GO, estariam fazendas e casa de praia, “os quais, a princípio, não se destinam ao atendimento dos seus propósitos religiosos”. A expectativa inicial do órgão é que mais de R$ 34 milhões foram desviados das associações pelo grupo.
Entre as provas colhidas pelo MP estão trocas de mensagens entre os denunciados. Em uma dessas, Anderson reconhece as transações erradas, mas afirma que todas são a mando do padre Robson. Em outro trecho, Anderson aconselha uma pessoa a não “bater de frente com o padre”. “Ele não gosta. Faça o que ele manda e concorde com tudo. Ele é assim!”, diz um trecho da mensagem.
Quem é quem?
Núcleo Operacional
De acordo com a denúncia, Rouane era diretora financeira da Afipe e tida como braço direito do padre Robson. Era ela quem fiscalizava o cumprimento de todas as determinações do ex-reitor da Basílica do Divino Pai Eterno.
Além disso, Rouane mantinha o contato com os membros do núcleo de laranjas para assinarem os documentos de interesse da organização criminosa. Além de determinar o pagamento indevido dentro do núcleo investigado. Um exemplo é que ela tinha repassado R$ 350 mil da associação para Jeferson, irmão do padre Robson.
Anderson, que fazia parte do núcleo operacional, ocupou cargo de gerente jurídico da Afipe e cedeu o nome para figurar como proprietário de diversas pessoas jurídicas. Ele, inclusive, teria colocado o filho, Anderson Matheus Reiner Fernandes, para compor a organização criminosa.
Anderson também participou da articulação de todos o esquema fraudulento para aquisições de imóveis por parte de familiares do Pe. Robson.
Gustavo Leonardo era uma espécie de corretor de imóveis de Robson. Segundo o MP, era ele quem realizava as tratativas de aquisições de imóveis urbanos, mas, principalmente, rurais. Ele também realizava as entregas de valores apropriados para o Padre Robson para resolver questões de cunho pessoal.
José Pereira desempenhava a função de contador de todo o esquema. Além disso, a denúncia destaca que ele realizava lançamento contábeis inverídicos para ocultar os desvios. Em interrogatório, ele disse que ainda fazia declarações de Imposto de Renda e que o mesmo realizava as adequações legais para que os patrimônios obtidos pelos laranjas não tivesse nenhum registro de ilicitude.
Paulo Cesar Campos trabalhou em veículos de comunicações a pedido de Rouane e Padre Robson. Ele iniciou suas atividades em uma rádio do grupo em 2012 e foi demitido nove meses depois, quando a empresa estava no nome de Gleysson. Em 2014, ele foi contratado e demitido em julho de 2019, quando foi contratado por outra emissora de rádio. Além disso, a denúncia aponta que ele recebeu R$ 800 mil que foram desviados da Afipe.
Núcleo Família Cabriny
A denúncia traz que Onivaldo, Gleysson e Braúlio participaram ativamente na aquisição e negociação de diversas rádios que foram colocadas em nomes de laranjas. Consta no documento que Onivaldo foi sócio do Padre Robson em uma rádio em 2009, única emissora que o padre configurou como sócio. Após isso, que Onivaldo praticou falsidade ideológica na negociação de várias outras rádios. O MP afirma que Bráulio e Onivaldo ajudaram Robson a apropriar-se e lavar de mais de R$ 7,5 milhões da Afipe.
Núcleo Laranjas
Celestina aparece na denúncia como dona de várias empresas, administrando-as falsamente com a assinatura de papéis. Segundo o MP, a renda dela era incompatível com a quantidade de empresas adquiridas pela organização e toda a sua conduta ocorria com o aval de padre Robson.
Rodrigo adquiriu um imóvel dentro de um condomínio horizontal na saída para Trindade, mas que era destinado à Adriane, irmã de Robson. Ele também não tinha condições financeiras compatíveis com tal aquisição e ainda recebeu dinheiro de uma das empresas envolvidas para mascarar a dinâmica dos desvios da Afipe. Ele também cedeu a conta pessoal para desviar R$ 400 mil da Afipe para ser entregue à Adriane.
Ana Verônica tinha em seu nome um imóvel que, na verdade, era de José Celso e Elice, pais do padre. Ela também não tinha movimentação financeira compatível com a aquisição do imóvel e, como Rodrigo, também recebeu dinheiro da Afipe através de uma construtora envolvida no esquema e nunca recebeu qualquer aluguel por parte dos pais do padre Robson.
Núcleo beneficiários
José Celso e Elice de Oliveira foram beneficiados com mais de R$ 1.130 milhão relativos a residência adquirida formalmente por Verônica.
Adrianne de Oliveira foi beneficiada por R$ 400 mil de desvios e por R$ 1,5 milhão utilizados na compra do imóvel dentro do condomínio de luxo na saída de Trindade, que foi adquirido formalmente por Rodrigo Luís.
Jeferson de Oliveira recebeu R$ 350 mil da Afipe que foram desviados através de uma emissora de rádio que pertencia ao grupo.
Joselice recebeu o desvio de R$ 1,4 milhão para aquisição de imóvel no mesmo condomínio de luxo que os demais irmãos e pais morava e que foi adquirido por Anderson em duas parcelas de R$ 700 mil.