Mulher denuncia racismo cometido por dono de bar em Goiânia
"Vim ver se era gente ou se era uma raposa na sua cabeça", teria dito o dono do Buteko do Chaguinha para a vítima
Imagina você sair para se divertir e ser humilhada por ter cabelo afro e usar ele solto? Humilhação, essa, ser praticada por uma pessoa branca. Apesar do contexto ser mais comum do que a gente pensa, não se pode, em pelo século XXI, tratar esses episódios com normalidade.
E foi isso que aconteceu com a produtora cultural, Sarah Silva, de 20 anos. Ela denuncia que foi vítima de racismo dentro do Buteko do Chaguinha, que fica no Jardim América, em Goiânia. De acordo com ela, o proprietário do local teria lhe abordado e falado “vim ver se era gente ou se era uma raposa na sua cabeça” ao se referir sobre o cabelo da vítima.
O caso aconteceu no último sábado (31). Segundo Sarah, ela, uma amiga e a irmã chegaram no estabelecimento. “Nós nos sentamos e pedimos algo para bebermos. Assim que nosso pedido chegou, um homem branco apareceu falando isso com um tom de deboche”, pontua.
Sarah ressalta que, após o comentário, o homem confirmou que falava do cabelo da vítima. Logo após isso, teria gargalhado da situação. “Minha única reação foi pedir para ele se afastar de mim. Fiquei muito assustada que não consegui falar nada na hora. Logo depois do ocorrido, nós saímos do local” , conta.
Ela conta que um dos garçons do local as acompanharam até a saída e pediu desculpas pelo fato. “Ele comentou que o Chaguinha ‘era difícil de lidar’. Além disso, um senhor da outra mesa comentou ‘esse Chaguinha…’ e foi assim que soube que se tratava do dono do local”, conta.
A jovem fez um longo desabafo no Instagram logo após o ocorrido. Muitas pessoas se sensibilizaram e foram até a página do estabelecimento cobrando uma posição. Apesar de tudo, diversas respostas debochadas da situação foram dadas pela conta do estabelecimento.
“Só quem é preto entende”
Sarah conta que se sentiu muito mal com todo o ocorrido. “Só quem é preto entende esse sentimento. É um sentimento muito ruim que não tem muito um nome que podemos resumir todas as sensações e sentimentos péssimos que nos causado ao passar por uma situação de racismo”, desabafa.
E continua: “Eu só estava com meu cabelo solto e isso foi motivo para este senhor se aproximasse e me comparasse a um animal. O tom de deboche que ele usou durante todo o momento. Foi tudo muito estranho”, relata.
Desde a data do ocorrido, a jovem tenta registrar o boletim de ocorrência por meio virtual. Mas sem sucesso. Ela conta que, junto com sua advogada, Julyana Macedo, irá, nesta quarta-feira (4), à delegacia para confeccionar o boletim.
O que diz o Buteko do Chaguinha
Por meio de nota publicada nas redes sociais, o estabelecimento afirmou que é “veementemente contra todos os tipos de discriminação e especialmente contra a discriminação racial, repudiando atos dessa natureza.”
Além disso, destaca que tomou medidas para inclusão e igualdade social em todos os níveis. “Temos um quadro de funcionários diversos e inclusivo em todas as três unidades. Contamos com mulheres e negros em cargos de gerência e na gestão de pessoas.[…].”
O texto continua e m dizer que o local “se constitui de um time plural, com colaboradores de todas as crenças, cores, gêneros e condição social, e somos assim porque cultivamos diariamente uma cultura efetiva de inclusão e igualdade.”
A nota é finalizada ao lembrar que “o racismo é um problema social estrutural1 e generalizado em nosso país e, portanto, não nos isentamos de nossa responsabilidade como organização social em agir e combater efetivamente o racismo em nossa sociedade.”
Apesar disso, a nota não fala nada sobre os comentários realizados pela conta oficial as pessoas que cobraram um posicionamento.