Mulheres que trocam absorventes por papel ou pedaços de pano preocupam especialistas
Médicos alertam que alternativas mais baratas geram riscos graves à saúde da mulher
Emprego, escola, Covid-19, renda. Estes são alguns dos assuntos que preocuparam as famílias brasileiras em 2020, ano de pandemia. Mas a queda no poder aquisitivo dos brasileiros trouxe outras consequências que preocupam médicos e especialistas em saúde. Uma delas é a saúde menstrual. Mulheres em situação de vulnerabilidade econômica trocam o absorvente, que custa cerca de R$ 300 por ano, por opções mais baratas e menos higiênicas, como folhas de árvore, de jornal e pedaços de pano. Médicos alertam que isso gera riscos graves à saúde.
A diretora da Sociedade Goiana de Ginecologia e Obstetrícia (SGGO), Joice Lima afirma que a decisão de abdicar do absorvente pode fazer com que a mulher sofra problemas que vão desde o físico até o emocional. “No ponto de vista físico, podem estarem sujeitas inclusive a alguns quadros de infecções genitais. Quando uma mulher usa um miolo de pão para conter o sangue menstrual, o miolo de pão pode estar contaminado ou servir de meio de cultura para bactérias, por não ser o objeto adequado. Mesma coisa para o uso do jornal. É um papel que está cheio de bactérias e vai trazer sim problemas para essa mulher, tanto de infecções genitais como infecções urinárias”, explica.
Segundo Joice Lima, no Brasil mais de 700 mil mulheres não tem banheiro em casa, o que dá início ao problema de higiene. “Do ponto de vista emocional é extremamente constrangedor para essas meninas e mulheres sujarem a roupa, por não terem condições de usar um absorvente para conter esse sangramento. Essas mulheres tem também as cólicas menstruais porque elas não tem o básico para esse período menstrual e para tratar essas cólicas. Não tem essa assistência para viver esse período com mais qualidade de vida. É uma questão de saúde pública”, destacou.
Falta do absorvente pode comprometer o ciclo reprodutivo
O médico ginecologista Rodrigo Zaiden diz que o tipo de doença mais comum no caso de uso de substitutos para absorventes dependerá da idade da mulher e pode afetar o ciclo reprodutivo. “O sangramento vaginal não é infectado, é um sangue que vem da descamação do endométrio. Mas, se não tiver uma higiene adequada e sem uso de absorvente aquele sangue que fica acumulado na vagina ou na calcinha, ou mesmo o uso de alternativas não adequadas pode sim causar infecções vaginais levando até mesmo a infecção uterina com complicações mais graves levando ao comprometimento do ciclo reprodutivo“, alerta.
Mulheres que abrem mão do absorvente
Pesquisa do Instituto Mauro Borges feita neste ano mostra que 23.414 mil mulheres em Goiás vivem em situação de vulnerabilidade econômica. É este perfil da população que está mais propenso a abrir mão do absorvente. Não por uma questão de higiene, mas de contenção de custos.
A Prefeitura de Goiânia apresentou, na semana em que é celebrado o Dia Internacional da Igualdade da Mulher, a Campanha pela Promoção da Dignidade Menstrual e Combate à Pobreza Menstrual. Com palestras, bate papos e ações de conscientização sobre alternativas que auxiliem a população feminina para a saúde e dignidade menstrual serão realizadas entre os dias 25 e 26 de agosto pela Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Políticas Afirmativas (SMDHPA).