Nada mais constrangedor do que goiano no frio

Sim, hoje amanheceu frio para os padrões infernais goianos. Quando isso acontece, o assunto se torna hegemônico. Todo mundo se torna meteorologista. Sabe de onde vem a frente fria, sabe quantos dias vai durar, sabe as mínimas registradas na madrugada.

Mesmo que você não queria conversar sobre frio, é impossível. A pauta se impõe. No encontro rotineiro com o vizinho que passeia com um cachorrinho, com o amigo de trabalho que liga por uma demanda do escritório, na figurinha piada curta no grupo de zap ou na timeline de sua rede social preferida.

E uma verdade incômoda precisa ser dita sem firulas: poucas coisas podem ser mais chatas que goiano no frio.

Podemos ser divididos em dois grupos: os deslumbrados e os reclamões. Ambos ostentam níveis colossais de chatice. Um duelo de gigantes na aporrinhação. Uma apoteose de vergonha alheia. Ambos grupos são sacais.

Eu me incluo na categoria Urtigão dos reclamões. Por isso, os deslumbrados me irritam mais. Não pode ver uma neblina e o cara fala que está um fog londrino. O trabalho vira um espaço ostentação de casacos e botas que só saem do guarda-roupa três vezes por ano. Pior ainda o deslumbrado do comparativo, que sempre diz que esse frio não é frio coisa nenhuma, pois não se compara quando ele ficou de sunga por duas horas numa nevasca no Alasca. Jesus, como são chatos.

Contudo, oferto minha mão à palmatória: os reclamões também estão longe de ser companhias aprazíveis. Falo por mim. Eu reclamo para sair da cama, reclamo que os dedos estão duros para digitar esse texto, reclamo que o café está esfriando rápido demais, reclamo do casaco que pinica a pele, reclamo até de coisas que não têm conexão alguma com a baixa temperatura que o termômetro aponta.

Para quem gosta do frio, o que não é meu caso, aproveite os poucos dias de alegria. Daqui a pouco, chega o calorão de agosto e setembro quando não há ar condicionado que dê conta. Aí é hora de reclamarmos da filial do inferno que se torna nosso estado.

@pablokossa/Mais Goiás | Foto: Jucimar de Sousa / Mais Goiás