“Não sabia como reagir, só chorava”, diz mulher chamada de “preta” em supermercado de Goiânia
A fiscal de caixa que foi chamada de “preta” em um hipermercado que fica na…
A fiscal de caixa que foi chamada de “preta” em um hipermercado que fica na avenida Portugal, em Goiânia, afirma ao Mais Goiás que se sentiu paralisada e humilhada pela ofensa feita por um cliente – que disse que não falaria com ela por causa da sua cor de pele. Câmeras flagraram o sujeito, que provavelmente responderá por crime de injúria racial (recentemente equiparado pela Justiça ao racismo). O episódio aconteceu no dia 14 de novembro deste ano e o cliente que agrediu a mulher está preso.
“Ele (acusado) queria passar uma bicicleta, mas o caixa estava cheio de pessoas aguardando atendimento e ele estava nervoso e muito alterado. Quando chegou a vez dele, eu falei ‘Boa tarde, posso ajudar o senhor?’ e ele respondeu gritando, então pedi para que se acalmasse, mas ele só ficou mais nervoso ainda. Começou a dizer que estava fazendo um favor de comprar na loja e ainda tinha que ser atendido por uma preta”, relata a moça, que tem 19 anos.
O suspeito prosseguiu com as ofensas ao usar “preta” para humilhar a vítima. “Ele também disse que não ia falar comigo, não ia falar com uma preta. Os outros clientes começaram a me defender e o homem saiu da loja falando que era racista mesmo e eu não passava de uma preta”, contou a vítima.
Segundo a Polícia Militar, ao sair do local, o homem teve o carro isolado pelos clientes, que se aglomeraram em volta do veículo para impedir que ele saísse do estacionamento até a chegada da polícia. Minutos depois, os policiais efetuaram sua prisão em flagrante.
A vítima conta que ficou profundamente abalada com o acontecimento. “Me senti humilhada e ofendida, principalmente por ter muitas pessoas lá. Chorei muito, fiquei sem saber como reagir, só chorava”.
O caso está sob investigação do Grupo Especializado no Atendimento às Vítimas de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Geacri). O suspeito segue detido e responderá por injuria racial. O delegado Joaquim Adorno, responsável pela investigação, preferiu não comentar especificamente sobre o caso, mas relatou que o processo já foi oficializado e segue para a conclusão do inquérito policial para ser encaminhado ao Poder Judiciário e o autor ser indiciado.
Crime aconteceu seis dias antes do Dia da Consciência Negra
O crime aconteceu na tarde de domingo (14), seis dias antes do dia 20 de novembro, onde se comemora o Dia da Consciência Negra, que tem como objetivo promover a visibilidade das pautas e discussões referentes à igualdade racial, por meio de iniciativas que apresentem a importância de valorizar, reconhecer e respeitar a cultura negra e das etnias historicamente excluídas.
Casos de racismo em Goiânia
De acordo com o delegado, em média, são realizadas 15 denuncias de crimes raciais por mês em Goiânia e a minoria é presa. “Dos casos que vem para cá (Geacri), cerca de 40% não conseguem provar que sofreram racismo. Além de não conseguir uma prova, em alguns casos, o autor é um colega de trabalho ou chefe, o que faz as pessoas desistirem de denunciar por medo de perder o emprego”.
Joaquim Adorno conta que existem casos em que o dono da loja ameaça demitir o funcionário caso ele registre uma denúncia contra clientes. Por outro lado, existem também aqueles que levam os funcionários para registrar a ocorrência, disponibilizam provas e se coloca a disposição para solucionar o ocorrido. Porém, situações como essas são a minoria.
“Imagine quantos crimes de racismo ocorrem por aí, onde a vítima não tem condição de denunciar ou não tem acesso a polícia? Eu por exemplo, sou negro e delegado a 20 anos, mas não imaginava que eram tantos casos assim. Às vezes, me deparo com situações em que a vítima sente vergonha, vergonha de ser negro. Por motivos como esse, o Dia da Consciência Negra é atual e de extrema importância”, explica o delegado.
Para denunciar casos de racismo ou de intolerância racial, entre em contato com a Gracri
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