NOVOS OLHARES

Goiânia 88 anos: fotografias mostram crescimento e transformação da cidade

A comparação entre as primeiras fotos de Goiânia e os retratos da atual metrópole dão…

A comparação entre as primeiras fotos de Goiânia e os retratos da atual metrópole dão pistas de como a cidade cresceu rápido em seus 88 anos de existência, celebrados neste 24 de outubro. E é para traçar esse paralelo que o Mais Goiás convocou o fotógrafo Jucimar de Sousa para mostrar como estão, em 2021, cenários imortalizados pelos primeiros retratistas a pisar na capital dos goianos. O portal utilizou parte do acervo de um dos mais ilustres fotógrafos da história do estado: Hélio de Oliveira.

Viagem fotográfica pelos 88 anos de Goiânia

Palácio das Esmeraldas

O “passeio” tem início pelo Palácio das Esmeraldas. Construído na Praça Cívica inaugurado em 1933, é considerado um marco de modernidade para Goiás. Símbolo de ruptura, por seu traçado moderno, mas de permanência, como representação do poder que se perpetua.

Carros de boi na construção do Palácio das Esmeraldas em Goiânia (Foto: Hélio de Oliveira)
Palácio das Esmeraldas e ao fundo o Palácio Pedro Ludovico atualmente (Foto: Jucimar Sousa)
Palácio das Esmeraldas e ao fundo o Palácio Pedro Ludovico atualmente (Foto: Jucimar Sousa)

Residência do fundador

A casa de Pedro Ludovico Teixeira, fundador de Goiânia, também segue o traçado modernista Art Déco. Hoje o bem preservado prédio dá lugar a um museu com função de memória e reafirmação simbólica do poder institucional.

Casa de Pedro Ludovico Teixeira, no Centro de Goiânia (Foto: Hélio de Oliveira)
Casa de Pedro Ludovico Teixeira, no Centro de Goiânia (Foto: Hélio de Oliveira)
Com traços modernistas, casa de Pedro Ludovico é hoje um museu no Centro da cidade (Foto: Jucimar Sousa)
Com traços modernistas, casa de Pedro Ludovico é hoje um museu no Centro da cidade (Foto: Jucimar Sousa)

O estilo arquitetônico em Art Déco dos prédios trazem a tensão entre a modernidade que se inaugura em Goiás e a permanência enquanto símbolos do poder institucional. Ambos edifícios fazem parte do circuito que hoje é valorizado como parte do patrimônio cultural reconhecido.

Poder e homenagem

Um dos traços mais visíveis desta relação entre poder institucional, arquitetura e cidade pode ser visto na estátua do Anhanguera, no cruzamento das avenidas Goiás e Anhanguera no Centro. O monumento foi um presente de paulistas para a capital goiana e representa a colonização do país pelos bandeirantes.

Essa forma de “homenagem” é alvo de críticas por embutir a violência subjancente à colonização, sobretudo contra povos indígenas e população negra. Em Goiânia, a estátua teve seu pedestal aumentado para evitar depredações (veja a comparação entre as fotos).

Estátua do bandeirante no cruzamento das avenidas Goiás e Anhanguera. (Foto: Hélio de Oliveira)
Estátua do bandeirante no cruzamento das avenidas Goiás e Anhanguera. (Foto: Hélio de Oliveira)
Estátua do bandeirante atualmente (Foto: Jucimar de Sousa)
Estátua do bandeirante atualmente (Foto: Jucimar de Sousa)

Patrimônio não é só edifício, mas paisagem

Teatro Goiânia (Foto: Hélio de Oliveira)
Teatro Goiânia (Foto: Hélio de Oliveira)

Teatro Goiânia (Foto: Jucimar de Sousa)

A arquiteta e urbanista Márcia Guerrante avalia que recentemente passou-se a valorizar mais os prédios da era Art Déco, em Goiânia. No entanto, a capital é muito mais, como o traçado riquíssimo feito pelo arquiteto Atílio Correia Lima, que sofreu intervenções, no caso do Setor Sul, de Armando Godói, que se inspirou nas cidades jardins e criou um bairro-jardim.

“Um traçado urbano belíssimo onde o mote principal era a relação do ser humano com a natureza na cidade. A gente vê isso totalmente desprezado. A cidade é um organismo vivo. Ninguém espera que ela congele. O patrimônio é a nossa memória preservada e valorizada como parte do nosso passado para a gente ir para frente”, diz.

Neste sentido, a arquiteta reforça que casas com arquitetura da época de construção da cidade sendo não são preservadas, mas totalmente destruídas. No Bairro Popular ainda há casas da época da fundação da cidade, com paisagens que remetem àquela época. Calçadas, árvores e muros baixos.

“Não existe uma valorização do patrimônio enquanto patrimônio. Entendem o patrimônio apenas os edifícios, como no caso da Art Dèco, que começaram a ser reconhecidos. Patrimônio é paisagem também. Como no caso do Setor Sul, que é uma joia da arquitetura moderna que está sendo destruída”, aponta.

Uma cidade para automóveis?

Goiânia nasceu sob a vigência dos automóveis. No traçado original da cidade, fica visível como as avenidas consideradas largas à época foram pensadas para que este tipo de veículo tivessem a predominância. Assim, pedestres e transporte público ficaram em segundo plano – este último ainda é alvo de inúmeras intervenções para acomodar o agigantamento da capital goiana.

Rua 8 é um dos poucos largos dedicados ao pedestre no Centro de Goiânia (Foto: Hélio de Oliveira)
Rua 8 é um dos poucos largos dedicados ao pedestre no Centro de Goiânia (Foto: Hélio de Oliveira)

A Rua 8, conhecida como Rua do Lazer, é, por exemplo, um dos poucos largos, via exclusiva para circulação de pedestres que ainda resistem no Centro de Goiânia.

Rua do Lazer permanece como um das poucas vias exclusivas para pedestres no Centro (Foto: Jucimar Sousa)
Rua do Lazer permanece como um das poucas vias exclusivas para pedestres no Centro (Foto: Jucimar Sousa)
Antigo Café Central (Foto: Hélio de Oliveira)
Antigo Café Central (Foto: Hélio de Oliveira)

Nas duas fotos abaixo, que mostram a Avenida Anhanguera onde ficava localizado o Café Central é possível ver a mudança na dinâmica da cidade. O uso das bicicletas praticamente desapareceu e em seu lugar aparece o corredor do Eixo Anhanguera, com barreiras que impedem a livre circulação de pedestres.

Café central deixou de existir e deu lugar a uma joalheria (Foto: Jucimar de Sousa)
Café central deixou de existir e deu lugar a uma joalheria (Foto: Jucimar de Sousa)

Permanência

Campinas, o antigo município que foi escolhido por Pedro Ludovico Teixeira para sediar a nova capital, permanece como marco fundador de Goiânia, mas também como permanência de um outro tempo.

Ainda é possível perceber certo ar bucólico do bairro mais antigo da cidade, embora atravessado pelas transformações contemporâneas.

Praça Joaquim Lúcio em Campinas (Foto: Hélio de Oliveira)
Praça Joaquim Lúcio em Campinas (Foto: Hélio de Oliveira)

 

Coreto da Praça Joaquim Lúcio atualmente (Foto: Jucimar Sousa)
Coreto da Praça Joaquim Lúcio atualmente (Foto: Jucimar Sousa)

O “desaparecimento” do Monumento ao Trabalhador de Goiânia

Praça do Trabalhador com o Monumento ao Trabalhador (Foto: Hélio de Oliveira)
Praça do Trabalhador com o Monumento ao Trabalhador (Foto: Hélio de Oliveira)
Praça do trabalhador revitalizada recentemente  (Foto: Jucimar de Sousa)
Praça do trabalhador revitalizada recentemente (Foto: Jucimar de Sousa)

Uma das fotos de Hélio de Oliveira mostra o Monumento ao Trabalhador, que justificava o nome da praça onde hoje fica a Feira Hippie. Construído em 1950, na Praça da Estação, o monumento foi fruto de reinvindicações sindicalistas. Pelo teor, considerado ideológico, sempre foi alvo de polêmica. É que havia um painel “Os Trabalhadores”, de Clóvis Graciano, com imagens consideradas subversivas.

Em plena Ditadura Militar, o Comando de Caça a Comunistas (CCC), em 1966, derrubou piche fervido nos painéis, o que o deixou vandalizado. Desde então, o painel ficou “desaparecido” da cidade. O então prefeito Iris Rezende não recuperou o monumento. Apenas em 1973, o prefeito Manoel dos Reis determinou a raspagem, mas sem realizar a reconstituição.

Já na década de 1980, Joaquim Roriz, prefeito de Goiânia, jogou ao chão as armações. À época justificou que precisa desobstruir a extensão da Avenida Goiás, que passaria por baixo da Estação Ferroviária (o que nunca aconteceu).

Em 1993, vereadores aprovaram autorização para que a prefeitura reerguesse o monumento com restauração do painel de Clóvis Graciano. O autor do projeto, um pastor, também sugeriu que se derrubasse a estátua do Bandeirante: “um predador de índios”, justificou.

Atualmente a Praça do Trabalhador passa por requalificação. O Monumento ao Trabalhador, no entanto, com o painel, continua desaparecido, como mostra a foto de Jucimar Sousa.

Quem foi Hélio de Oliveira?

Hélio de Oliveira, nasceu em 13 de julho de 1929, natural de Buriti Alegre, veio para Goiânia em julho de 1935, na companhia de seus pais, acreditando no desenvolvimento e no progresso da recém-inaugurada capital do Estado. No ano 2000, Hélio de Oliveira receberia da Câmara Municipal de Goiânia, título de cidadão goianiense.

Hélio de Oliveira, construção do Teatro Inacabado
Hélio de Oliveira na construção do Teatro Inacabado

O pai dele, Ozório de Oliveira, montou em 1936, em Campinas, a primeira loja de matérias de construção denominada “Progresso Goiano”. Como construtor licenciado que era, ergueu as primeiras casas residenciais desta cidade e ainda foi um dos fundadores e o primeiro presidente do Goiás Esporte Clube, em 1943. O filho Hélio encerrou seus 90 anos de vida, no dia do aniversário de 77 anos do clube fundado pelo pai.

Oliveira cresceu acompanhando o desenvolvimento de Goiânia e fez seus primeiros estudos em escolas particulares. De 1942 a 1945, cursou o ginasial no Colégio Ateneu Dom Bosco, sendo integrante da primeira turma de formandos. Conclui a etapa no Colégio Estadual de Uberlândia (MG). Sendo nessa cidade que começou a se interessar por fotografia e deu seus primeiros passos na arte.

Hélio de Oliveira faleceu em 2020
Hélio de Oliveira faleceu em 2020

Em Goiânia participou de vários eventos esportivos e, em 1950, exerceu a profissão fotografando reuniões sociais, atividades desportivas até que, no final de 1951, ingressou no jornalismo.

Sendo pioneiro da fotografia em Goiás, o repórter fotográfico Hélio de Oliveira, trabalhou com o ex presidente Juscelino Kubitschek, fotografando JK no sitio onde se erguia a capital do país.