No semiaberto, Barão do Tráfico passa de prisioneiro a vendedor do ramo de informática
Justiça reforça que Leonardo, um dos principais nomes do tráfico de drogas no Brasil, atende os requisitos do benefício. Advogado afirma que tempos de criminalidade acabaram
Empregado como vendedor em um comércio do ramo de informática e contemplado com progressão de pena do regime fechado para o semiaberto, Leonardo Dias Mendonça, 55 anos, mais conhecido como Barão do Tráfico, deixou as dependências do complexo prisional no início da noite de segunda-feira (6). Ele que estava preso desde 2002 por tráfico interestadual e internacional de drogas – e que acumula 79 anos e seis meses de pena –, passará o dia trabalhando e dormirá na casa de um irmão, em um condomínio vertical de Goiânia.
Duas decisões propiciaram a condição em que Leonardo se encontra atualmente. Uma do último 20/7, em que a juíza Suelenita Soares Correia confere a progressão de pena; e outra da quinta-feira (2/8), assinada pelo juiz Oscar de Oliveira Sá Neto, que permite o detento a dormir em casa, desde que comprove vinculo empregatício e seja monitorado por tornozeleira eletrônica. Segundo os magistrados, Mendonça cumpriu os requisitos para que isso fosse possível: cumprimento de 1/6 da pena imposta e bom comportamento carcerário, além de estar empregado.
De acordo com informações da Diretoria-Geral de Administração Penitenciária (DGAP), antes de deixar a reclusão, por volta das 18h30, o homem saiu momentaneamente para receber a referida tornozeleira bem como ser orientado sobre as condições do relaxamento do regime. Entre outros tópicos, Leonardo não pode sair da capital sem aviso prévio, precisa estar em casa a partir das 20h e deve estar atento à bateria do equipamento, que não pode ficar desligado. O descumprimento das medidas pode levar à revogação do benefício.
Para o advogado Vitorino Gomes, representante de Leonardo, as decisões ocorreram “absolutamente dentro da lei”. “O sistema de cumprimento de pena no Brasil funciona de forma progressiva. Então, o Judiciário somente cumpriu a lei, já que ele atendia os requisitos necessários. Estava no fechado, progrediu para o semiaberto. Dormiria na prisão se não tivesse emprego. Como conseguiu, dorme em casa, monitorado por tornozeleira, conforme o juiz estabeleceu”.
“Fora da criminalidade”
Ao Mais Goiás, o advogado alegou que o cliente não tem interesse em continuar no mundo do crime e preferiu não comentar a possível relação do ex-traficante com Fernandinho Beira-Mar. “Não continua envolvido com o crime, até por uma questão de idade. Tem 55 anos e se estivesse, passaria o resto da vida na cadeia. Isso não é de interesse dele, já que é pai de filhos menores. Não comentarei nada em relação a Beira-Mar”, salientou, embora também não tenha negado a existência de relacionamento entre ambos.
Por outro lado, Vitorino foi categórico ao afirmar que Leonardo “nunca integrou nenhuma facção criminosa”. “Não se tem notícia disso, essa informação não consta em nenhum processo e por isso afirmamos que isso não existe. Pessoas de facções vendem no varejo, ele, por sua vez, era atacadista. Mas reforço, os tempos de criminalidade de Leonardo acabaram, já que ele não tem nenhuma pendência no mundo do crime”, revelou.
Emprego e estudos
Conforme apontou Vitorino, apesar de ser detento, ter sido traficante e ocupado, inclusive, celas de presídios federais – em Catanduvas, Paraná; e Mossoró, Rio Grande do Norte – Mendonça é um homem estudioso e já ingressou duas faculdades, cursos que ele não soube informar quais eram. “Ele é inteligente, estudioso, chegou a ser aprovado em um Enem e já cursou faculdades, mas não me lembro quais eram e não tenho notícia de que tenha concluído. No entanto, é capacitado para trabalhar no ramo da informática, onde conseguiu emprego”.
Ele lembra que antes de se “embrenhar” pelo mundo do crime, Leonardo era um empresário bem-sucedido na região de garimpos de Roraima. Este ponto histórico, inclusive, é mais um argumento utilizado pelo advogado para corroborar o desligamento de Mendonça do tráfico de drogas. “Lá ele vendia implementos para garimpo, tinha avião para transportar trabalhadores e, sem dúvidas, não precisa do mundo do crime para sobreviver”, declara.
Histórico
Leonardo já foi apontado pela Polícia Federal e pela Justiça estadunidense como principal traficante de drogas do Brasil para os Estados Unidos e Europa. Natural de Minas Gerais, mas criado em Goiás, é proprietário de fazendas, redes de lojas e postos de gasolina no Pará, bem como de cabeças de gado, aviões, barcos, carros, motos e casas. A fortuna dele é estimada em R$ 500 milhões.
A saga criminal de Leonardo teve início no Pará, quando começou a comercializar cocaína nos municípios de Itaituba e Marabá. Acusado de tráfico internacional, já foi uma ponte entre criminosos brasileiros e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).
Em novembro de 1999, foi preso em Goiânia, passou 1 ano e 10 meses enclausurado e saiu por decisão da Justiça Federal. Ainda, foi citado na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Narcotráfico, no início da década de 2000, como o principal narcotraficante do País. Na ocasião, ele negou o envolvimento com as drogas.