Rosário dos Pretos: obra revela cemitério histórico em igreja de Goiás
Cerca de 150 túmulos foram encontrados no local. Arqueólogos consideram a descoberta como elemento importante da história do estado
Durante as obras de restauração da Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, em Jaraguá, Centro goiano, um cemitério com mais de 200 anos foi encontrado. Ossadas de cerca de 150 pessoas, possivelmente africanos escravizados e negros libertos, foram identificadas. Para especialistas, a descoberta revela traços importantes das histórias de Jaraguá e de Goiás.
“É uma descoberta importantíssima para a história de Jaraguá e do estado de Goiás, pois nos permite resgatar a memória histórica de um período significativo para a formação cultural. Este achado não só reforça a importância da preservação do patrimônio material e imaterial, mas também nos conecta com as raízes de nossa história, revelando as vidas daqueles que contribuíram para a construção de Goiás e do Brasil”, afirma Yara Nunes, secretária de Estado da Cultura.
As escavações começaram em abril deste ano, como parte de um projeto financiado pelo Governo de Goiás, com investimento de R$ 3,5 milhões. Durante o trabalho, foram identificados sepultamentos em diferentes áreas do templo, incluindo campas numeradas sob o piso da igreja e túmulos no entorno do edifício.
“Tem um sepultamento atravessado embaixo da escada da igreja, então quer dizer que aquela escada não é tão antiga, não é a original da construção. Em alguns locais a gente encontrou sobreposição de esqueleto, ou seja, existia o uso contínuo dessas covas,” explica Wagner Magalhães, arqueólogo responsável pelo projeto.
História de Jaraguá: cemitério encontrado na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos pode datar de 1776
A Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos foi construída em 1776 pela irmandade de negros de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito. Os sepultamentos estão sendo associados à população negra da época.
“Essa igreja foi dedicada aos pretos e foi construída por eles, e a população africana teve um papel importantíssimo até para a formação da cidade de Jaraguá. Então o que a gente tem aqui é um pouquinho da nossa história e traz também um pouco da história do início das minas de ouro, desses povos que trabalharam lá”, complementa Wagner.
As ossadas exumadas, em condições precárias devido ao solo úmido, estão sendo analisadas em laboratório. A investigação busca revelar detalhes como sexo, faixa etária e outros dados históricos relacionados aos indivíduos.
“Foi um trabalho surpreendente não só porque é uma coisa inédita, mas é uma coisa que está mexendo com a memória do outro. Quem eram essas pessoas? Apesar de não ter a história completa, a gente tem uma ideia do que aconteceu ali”, diz a arqueóloga Elaine Alencastro.
Após os estudos, a Secult, em parceria com o Iphan, pretende desenvolver uma ação de educação patrimonial no local. “Todas as nossas obras já possuem tapumes educativos que contam a história do edifício, mas, com essa descoberta, vamos montar uma estrutura na igreja para que todos possam conhecer mais sobre essa história que ficou escondida durante tantos anos”, adianta Bruna Arruda, superintendente de Patrimônio Histórico e Artístico da Secult.
A restauração da igreja segue em andamento, com previsão de conclusão em 2025.