Educação

Número de mulheres na UEG é maior que a média nacional

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estáticas (IBGE), o índice de mulheres que…

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estáticas (IBGE), o índice de mulheres que completaram o ensino superior, na faixa etária jovem, entre os 25 e 44 anos, é de 21,5%, e supera o de homens nesse mesmo nível educacional. Os números formam um informativo com indicadores de gênero lançado no dia 7 de março, e são resultado da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad) 2016.

O contingente de mulheres nos cursos de graduação da Universidade Estadual de Goiás (UEG) também segue essa tendência. São 12.844 mulheres em salas de aula, que representam 62,56 % de estudantes da Instituição, média quase 200% maior que a nacional. Quanto a conclusão do curso no ano de 2018, percentual é três vezes maior que a média nacional.

Na UEG, a maior ocupação de mulheres também é notada entre docentes e técnicos-administrativos, correspondendo a mais de 50% do total geral entre servidores e em cada uma das categorias.

Acima das médias nacionais

O Censo da Educação Superior, realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira (Inep), em 2016, aponta que as mulheres correspondem a 60% de toda comunidade discente nacional, entretanto, quando analisados cursos relacionados às ciências, a média cai para 41%.

O número pode ser entendido à luz de diversos fatores sociais que determinam ocupações diferentes para homens e mulheres. “Enquanto criamos meninos para explorar o mundo, as meninas são educadas para atuarem no ambiente doméstico. Esse tipo de educação influência na escolha da profissão”, analisa a pró-reitora de Graduação da UEG (PrG), professora Maria Olinda Barreto.

A maior taxa de ocupação de mulheres nos cursos de licenciatura pode ser entendida como reflexo desse sistema. “É colocado que cabe às mulheres o papel de cuidar e zelar pela educação das crianças, enquanto ao homem cabe o papel de ‘profissional provedor’. Essa divisão do trabalho é que possibilita esse cenário de desequilíbrio nas taxas de ocupação dos cursos”, afirma.

A professora aprofunda sua análise e toca em outro ponto bastante crítico desse panorama. “A desvalorização das licenciaturas como opção de carreira também é reflexo dessa visão. Como tudo que cabe ao feminino, a docência passa a ser entendida como algo socialmente menor. E isso tem levado a preocupante situação de desvalorização da carreira docente”, observa.

De fato, na UEG, os cursos de licenciatura são os que apresentam maiores números de estudantes mulheres, elas são atualmente 8.014 de um total de 12.844 alunas em toda a instituição, inclusive nos cursos de bacharelado e tecnológicos. “O público feminino vem avançando substancialmente em todos os 137 cursos presentes no portfólio de nossa instituição, gerando demandas e também novas metas a serem alcançadas no quesito qualidade na educação, relações interpessoais e gestão de pessoas”, aposta a professora Viviane Pires, coordenadora de Programas e Projetos da PrG.

Presença gera avanço em outros setores

Myriã Telles, 20 anos, estudante do 4º período do curso de Ciências Biológicas no Câmpus Henrique Santillo, acredita que a maior presença de mulheres na Universidade é um fator decisivo para mudanças estruturais. “É legal perceber a presença das meninas no câmpus, principalmente neste em que as pessoas acreditam em que os cursos oferecidos sejam ‘masculinos’. Isso mostra que podemos ocupar o espaço que quisermos”, diz.

Para a estudante, quanto mais mulheres nos cursos, mas rápido será o avanço em questões salariais, por exemplo. “Se mais mulheres estão nos cursos, não há o que sustente o fato que ainda somos menos remuneradas quando exercemos a mesma função”, afirma ao lembrar sobre as diferenças salariais.

“Ao analisarmos os índices de crescimento do público feminino na UEG fica claro a busca incessante da mulher por melhores colocações no mercado de trabalho, transformando o meio em que está inserida e o seu próprio eu”, opina a professora Viviane.

Questões a serem superadas

Pioneira na política de cotas raciais, a UEG tem mostrado aumento no percentual de estudantes negras nos cursos da instituição. “Nos últimos anos conseguimos avanços importantes, mas é fundamental enxergar os desafios e o longo caminho que ainda temos pela frente na superação dessas assimetrias. Esse é um desafio que a Universidade já assumiu, mas que precisa ser assumido também pelos outros setores da sociedade”, pondera a professora Ceiça Ferreira, do curso de Audiovisual do Câmpus Goiânia Laranjeiras.

Se os números gerais do país apresentam avanços, quando estratificados eles revelam alguns pontos que precisam de atenção, como é o caso da baixa densidade de mulheres negras no ambiente acadêmico, que representam 10% das concluintes, frente a 23% das mulheres brancas.

Ao fazer a leitura desses dados a professora Ceiça diz que é preciso compreender o todo. “Esse panorama é percebido em todos os níveis de ensino. É um problema que precisa ser atacado em suas bases”, atesta.

Segundo ela, essa desvantagem se deve, entre outros fatores, ao fato de que as mulheres negras vivenciam situações cotidianas de racismo e exclusão no ambiente escolar e precisam assumir postos de trabalhos mais cedo para ajudar no orçamento doméstico. “O estudo mostra que apenas 10,4% de mulheres pretas e pardas completam o ensino superior, o que confirma a intersecção de gênero, raça e classe na forma de assimetrias específicas que ainda recaem sobre as mulheres negras”, atesta.

A professora nota o avanço dessa população no ambiente acadêmico, mas ressalta que “é necessário pensar as desigualdades raciais, sociais e de gênero que sustentam a nossa sociedade, na qual historicamente é naturalizada a exclusão das mulheres negras”.

Daqui para frente

Para a professora Maria Olinda os dados apresentados pela UEG são satisfatórios, mas é preciso que a instituição continue trabalhando para esse desempenho seja cada vez mais alto. “Não podemos retroceder. Nosso compromisso com uma universidade plural e inclusiva requer que estejamos atentos aos nossos processos e nos repensando enquanto instituição para que possamos, de fato, fazer a diferença na vida das pessoas, e é com esse foco que nós atuamos”, afirma.