Água

“O abastecimento público tem que ser prioridade”, afirma delegado sobre uso de água para irrigação de propriedades particulares

A Saneago tem veiculado propagandas em diversos veículos de comunicação no intuito de alertar a…

A Saneago tem veiculado propagandas em diversos veículos de comunicação no intuito de alertar a população para o uso racional da água no período de estiagem em todo o Estado. Um dos fatores que contribui para a dificuldade de abastecimento na Capital é o uso da água do Rio Meia Ponte (que representa 58% da fonte de água) para irrigar fazendas, chácaras e parques de recreação na região.

Como o uso de água nesses estabelecimentos é muito grande, há uma diminuição na porcentagem do líquido destinada a abastecer Goiânia e Região Metropolitana. O diretor de produção da Saneago, Marco Túlio de Moura, explicou que a falta d’água durante a estiagem é pontual, ou seja, apenas alguns bairros da capital passam por períodos de desabastecimento. “A gente não tem uma falta de água generalizada muito menos um racionamento na região metropolitana”, pontua.

No entanto, há uma preocupação de que a água do Meia Ponte não esteja sendo utilizada de maneira racional e legalizada. Marco Túlio explica que há uma parceria entre a Saneago, a  Secretaria de Meio Ambiente, Recursos Hídricos, Infraestrutura, Cidades e Assuntos Metropolitanos (Secima) e a Delegacia Estadual de Repressão a Crimes Contra o Meio Ambiente (Dema) para fiscalizar a utilização da água do rio. Essa ação, de acordo com o diretor, ajuda o órgão a manter o abastecimento com mais tranquilidade.

O delegado da Dema, Luziano Severino de Carvalho, explicou que uma operação chamada Salvando mananciais de abastecimento público está sendo realizada desde o início do ano na capital e no interior, com o intuito de combater as atividades que causam impactos nas bacias de abastecimento.

De acordo com o delegado, as principais atividades que prejudicam as fontes de abastecimento de água são o desmatamento de mata ciliar, construção em região de nascentes, criação de gado, drenagem de áreas brejosas e represamento de rios e córregos. Em Goiânia, a água do Meia Ponte está sendo usada em muitos lugares para irrigação de grama.

Para utilizar os recursos hídricos para fins particulares é preciso que os estabelecimentos tenham autorização e outorga do órgão ambiental competente. O diretor de produção da Saneago afirma que a fiscalização atua no sentido de investigar se os estabelecimentos irrigantes possuem essa outorga e, se possuírem, se não estão usando mais água que o permitido.

No entanto, muitos irrigantes, mesmo com autorização para uso de recursos hídricos, prejudicam o abastecimento dos municípios. Luziano explica que alguns desses lugares usam o sistema de irrigação por pivô central, que utiliza uma quantidade de água suficiente para abastecer uma cidade de 15 mil habitantes. O delegado acredita que esse método não deveria ser autorizado em regiões de manancial, pois o mesmo não suporta esse tipo de captação.

“O abastecimento público tem que ser prioridade”, afirma. Ele conta que devido ao uso particular de mananciais públicos, essa situação de desabastecimento já era previsível. É evidente que o período de seca diminui a quantidade de água disponível, mas os usos indevidos de recursos hídricos pioram a situação.

“A gente não pode pensar em abrir mão do Meia Ponte porque ele abastece uma grande parte da região da cidade de Goiânia”, afirma Marco Túlio. O rio que está com a vazão muito abaixo do ideal fornece 2.5000 litros por segundo. A outra fonte de abastecimento é o João Leite, do qual são captados 2.000 litros por segundo. Conforme o diretor, os dois sistemas de captação são complementares e atendem a capital e a região metropolitana.

Interior

Maco Túlio explicou que o sistema implantado em Anápolis tem sido mantido com tranquilidade e não há previsões de falta de água durante a estiagem. “Estamos fazendo uma obra que é uma reversão de bacia do Rio Capivari para o Ribeirão Piancó e aí nós vamos acrescentar mais 250 litros por segundo aquele sistema”, conclui. Em outras cidades a questão do abastecimento é mais delicada.

“Algumas cidades do interior sofrem mais coma a estiagem, em cidades mais críticas nós colocamos caminhões pipa para dar um reforço no sistema e também nós estamos reforçando o sistema com uma perfuração de poços”, esclarece o diretor de produção da Saneago. Municípios como Cumarí, Cidade de Goiás, São Luis de Montes Belos, Valparaíso e Cidade Ocidental já receberam esse tipo de auxílio do órgão.

Luziano afirmou que além da capital, muitas cidades do interior estão recebendo ações de investigação da operação Salvando mananciais de abastecimento público, dentre eles Guapó, Aragoiânia, Anápolis, Cidade de Goiás, Jussara, Mozarlândia, Cidade Ocidental, Nerópolis e Hidrolândia.

Em muitos desses municípios a situação de abastecimento está crítica. De acordo com o delegado da Dema, a cidade de Cezarina, a cerca de 60 quilômetros da capital, está desabastecida por causa do uso de recursos hídricos para fins de irrigação. Ele acredita que a solução para essa e outras cidades é a recuperação das bacias hidrográficas por meio da eliminação dos impactos de atividades humanas nessas regiões.

 

Amanda Sales é integrante do programa de estágio do convênio entre Ciee e Mais Goiás, sob orientação de Thaís Lôbo.