OAB aponta gravações de conversas sigilosas entre advogados e detentos em presídio de Planaltina
Conforme a OAB, gravação é ilegal, já que o sigilo das conversas entre advogados e clientes é garantido pela Lei nº8906/94 disposta no Estatuto da Advocacia. DGAP espera relatório para manifestação
Em vistoria realizada no presídio de segurança máxima de Planaltina de Goiás, no Entorno do Distrito Federal (DF), representantes da Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Goiás (OAB-GO) constataram gravações de conversas sigilosas entre advogados e detentos da penitenciária. Violações de direitos humanos também estão entre as apurações feitas nesta quarta-feira (30). Diretoria-Geral de Administração Penitenciária (DGAP) aguarda relatório formal sobre os apontamentos para se manifestar.
Conforme expõe o vice-presidente da Comissão de Prerrogativas da OAB, Kleyton Carneiro, a inspeção foi realizada após denúncias no sistema da Ordem, por parte de advogados e familiares dos detentos. No local, os representantes confirmaram as irregularidades.
Ao adentrarem nos parlatórios (salas específicas destinadas a encontros entre advogados e detentos), constataram a existência de câmeras de segurança. A sala, segundo Kleyton, é dividida por meio de um vidro. No local, foram colocadas duas câmeras: uma do lado do advogado e outro do lado do cliente. No presídio há cinco salas para este fim. Todas elas possuem duas câmeras cada.
Segundo o advogado, a DGAP confirmou que está gravando áudio e vídeo de todos os encontros nas salas. “Eles alegam que a gravação é feita para evitar que os presos repassem informações sobre organização criminosa. Mas acontece que se algum advogado cometer algum desvio o Estado tem os meios para identificar isso. Não se admite colocar sob suspeita todos os advogados como estão fazendo”, criticou.
Ilegalidade
Kleyton explica que a gravação é ilegal, já que o sigilo das conversas entre advogados e clientes é garantido pela Lei nº8906/94 disposta no Estatuto da Advocacia. A garantia, conforme ele, também é expressa nos direitos básicos dos presos estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU).
“A partir do momento que viola esta garantia, você impede o exercício de ampla defesa que é umas das bases do Estado de Direito. Isso é nada mais que um ataque à própria democracia”, afirmou.
Direitos Humanos
Além de constatar a violação da privacidade entre advogados e detentos, a vistoria, que também teve presença do presidente da subseção de Planaltina Hélio Bertoldo e do diretor-geral da DGAP, coronel Wellington Urzêda, apurou denúncias de violações de direitos humanos. De acordo com Kleyton, um preso de cada pavilhão foi ouvido e expressou as reivindicações. “As denúncias foram repassadas pelos representantes dos detentos escolhidos pelos próprios presos”, garantiu.
Sobre tais violações, porém, o advogado afirmou que a OAB-GO só irá se pronunciar após a elaboração do relatório final, que deve ficar pronto em dez dias. Após a finalização do documento, que também irá abordar as gravações, a Ordem deve tomar as providências necessárias.
Em nota, a DGPA informou que aguarda relatório oficial da OAB-GO para análise dos apontamentos realizados pela instituição, acerca da Unidade Prisional Especial de Planaltina, e providências cabíveis necessárias.