Aniversário de Goiânia

Obras inacabadas da capital prejudicam a mobilidade urbana

Fundada em 1933, Goiânia completa 84 anos nesta terça-feira (24). Projetada inicialmente para 50 mil…

Fundada em 1933, Goiânia completa 84 anos nesta terça-feira (24). Projetada inicialmente para 50 mil habitantes, a capital de Goiás cresceu muito desde sua criação, fazendo com que diversas obras de infraestrutura se tornassem necessárias para melhorar o trânsito na cidade, conhecido por ser caótico. No entanto, projetos como o Bus Rapid Transit (BRT), a Avenida Leste-Oeste, a Marginal Botafogo e a Marginal Cascavel continuam inacabados e prejudicam o dia a dia dos cidadãos goianos. Se concluídas, essas obras melhorariam muito a qualidade de vida do povo goianiense, consideram especialistas.

De acordo com o professor de Arquitetura e Urbanismo da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), Dirceu Lima da Trindade, são muitos os projetos urbanos inciados, interrompidos e não realizados em Goiânia. “Se realizadas as obras das marginais com revisão de seus projetos, teríamos um melhor fluxo de automóveis. Do mesmo modo se tivessem sido executadas as obras de atualização, manutenção e modernização dos velhos eixos Norte-Sul e Leste-Oeste, implementados desde o fim da década de 70, os BRTs já estariam ajudando no transporte da população e outros modais inteligentes já estariam resolvendo o transporte de massa”, disse.

BRT

Umas das obras para melhoria do transporte público coletivo na capital mais importante dos últimos anos é o BRT Norte-Sul, que ligará o Terminal Recanto do Bosque, em Goiânia, ao Terminal Veiga Jardim, em Aparecida.

Segundo a professora de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Goiás (UFG), Erika Kneib, o BRT é um grande projeto que precisa ser concluído, pois aumentará a pontualidade do ônibus coletivos na capital. A obra lançada em 2015 tinha previsão para ser entregue em vinte meses, mas foi interrompida por falta de verba e a paralisação tem causado transtornos aos moradores da cidade.

No papel, o corredor exclusivo que ligaria as regiões norte e sul de Goiânia atenderia pelo menos 148 bairros da Região Metropolitana. Entretanto, segundo informações do Portal da Transparência, apenas 2,4% da obra foi concluída. O professor Dirceu explicou que este modal é uma alternativa mais barata que a construção de metro, muito desejado por uma grande parcela da população. “Entretanto, para funcionar de forma eficaz, o BRT depende da integração com outros modais e de um planejamento integrado de todos os bairros e setores atingidos pelo novo sistema”, afirmou.

BRT deveria ter sido concluído no início deste ano (Foto: Prefeitura de Goiânia)

Avenida Leste-Oeste

A partir do início da década de 1970, Goiânia sofreu com a decadência do transporte ferroviário, por conta da falta de investimentos e de melhor estruturação. O sistema ferroviário no interior da cidade foi destruído com o início da construção da Avenida Leste-Oeste, em 1997. Entretanto, devido aos altos cultos, a obra não foi concluída até hoje.

Essa via foi projetada para permitir o escoamento do Setor Central ao Conjunto Vera Cruz na parte Oeste, e na região Leste chegaria até o Jardim Novo Mundo, ligando as cidades de Trindade e Senador Canedo, contornando Goiânia. Se estivesse pronta seria um importante corredor de tráfego rápido que beneficiaria dezenas de milhares de goianienses de várias regiões da cidade.

Com a obra, sistema ferroviário no interior da cidade foi destruído. (Foto: Reprodução)

Marginais Botafogo

A obra foi iniciada no final dos anos 1980. Ao todo, são 6,5 quilômetros de extensão, ligando as regiões Sul e Norte de Goiânia.  No entanto, a via não foi totalmente concluída em relação ao projeto original, restando um trecho de 2,2 quilômetros entre as Avenidas Deputado Jamel Cecílio e Segunda Radial.

A Marginal Botafogo vem sofrendo inúmeras interdições nos últimos anos, por conta de desmoronamentos das pistas de rolamento. O problema é causado pela fissura das paredes que revestem o canal do córrego Botafogo e a drenagem insuficiente das águas da chuva.

Desmoronamentos provocam longos engarrafamentos na Marginal Botafogo (Foto: Reprodução)

Marginal Cascavel

As primeiras obras dessa via foram inciadas em 1991. Dos dez quilômetros de toda a Marginal Cascavel, ainda restam cerca de 5,3 quilômetros a serem projetados e licitados. Os trechos que ainda faltam se referem à finalização da canalização e das vias entre as Avenidas T-2 e C-12, bem como todo o trabalho de reurbanização entre as Avenidas T-9 e Rio Verde. Assim terminaria a ligação da região do Setor Campinas até Aparecida de Goiânia, como previa o projeto desde o início.

Avenida Cascavel é uma via expressa no mesmo molde da Marginal Botafogo (Foto: Reprodução)

Planejamento

Segundo Dirceu, os maiores prejuízos com relação às obras não concluídas são a frequente concentração de áreas específicas da cidade, contrariando o Plano Diretor e dificultando a mobilidade, o abastecimento e o atendimento à população. Segundo o professor, falta em Goiânia uma cultura de planejamento continuado.

“Há entre nós a ideia de que planejamento é um documento, apenas isso, um volume que se acaba em si mesmo. Penso que esta compreensão é a base de descontinuidade de obras. Os Planos Diretores, bons ou ruins, necessitam de regulamentação das ações, mas sobretudo de projeto para sua execução. O que percebemos são contratações inadequadas, descumprimento de contratos e falta de fiscalização na realização da obra”, explicou.

Sendo assim, a questão da mobilidade urbana depende de ações de planejamento continuado que, partindo do desejo de realização da cidade, expresso no Plano Diretor, se estenda através das ações de projeto, planejamento e gestão pública. “As obras a serem realizadas respondem às demandas da população, portanto, nenhuma será sozinha responsável pela solução do trânsito e mobilidade urbana”, salienta o professor.

Infraestrutura

De acordo com Érika, estão previstos no Plano Diretor corredores preferenciais para evitar que os ônibus fiquem presos no trânsito, além da criação de um anel viário para evitar que os caminhões de carga circulem pela cidade. A professora apontou ainda outro problema existente em Goiânia que é a falta de abrigos em pontos de ônibus.

“Existem mais de seis mil pontos de ônibus na região metropolitana, mas muitos deles continuam sem abrigos. Em alguns lugares não há nem placas indicando que há a existência de pontos de ônibus”, explicou Erika. De acordo com a Companhia Metropolitana de Transportes Coletivos (CMTC), até novembro de 2016 havia um déficit de 3,5 mil abrigos de pontos de ônibus na capital.

O Mais Goiás tentou contato com a Prefeitura de Goiânia, através da Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos de Goiânia (Seinfra), para um posicionamento quanto aos atrasos e paralisações das obras citadas. Entretanto, o órgão não deu um retorno até o fechamento dessa matéria.

*Juliana França é integrante do programa de estágio do convênio entre Ciee e Mais Goiás, sob orientação de Thaís Lobo.