Operação Metástase

Operação contra fraudes no Ipasgo investiga, também, morte de paciente com câncer

Paciente morreu em janeiro de 2017 e as investigações da operação apontam que um medicamento irregular possa ter contribuído com o óbito da vítima

Morte de paciente com câncer é investigada durante operação contra fraudes no Ipasgo

Além de apreensões de aeronaves, carros de luxo, dinheiro e até obras de artes, a Operação Metástase investiga a morte de um paciente com câncer dentro do Instituto Goiano de Oncologia e Hematologia (Ingoh). De acordo com o Luiz Gonzaga Júnior, do Grupo Especial de Combate à Corrupção (Geccor), a morte do idoso foi em janeiro de 2017 devido à aplicação de um medicamento que não era adequado para o tratamento.

Segundo o delegado, um inquérito específico pelo homicídio será aberto para apurar o caso. Luiz destaca que a filha da vítima contou que o pai estava recebia o tratamento em outra unidade, mas que, ao ser informada do avançado estágio da doença, teria procurado uma segunda opinião com um médico do Ingoh.

Ainda de acordo com o delegado, o profissional teria prescrito um medicamento que não seria utilizado no atual estado em que a doença se encontrava. “Laudos médicos mostraram que houve uma depreciação da sobrevida desse paciente. Ele poderia ter sobrevivido seis meses ou um ano, mas isso resultou na morte dele dias depois da aplicação do medicamento. Com isso: quem prescreveu o medicamento,  médico do Ingoh, quem autorizou, pessoa de alto escalão do Ipasgo, responderão por homicídio”, pontua o delegado.

Essa irregularidade, dentre outras que estão sendo investigadas, era realizada por questão mercantilista. Segundo o delegado, caso fosse necessária outra dose, ela deveria ser cobrada. Entretanto, isso não foi autorizado pelo diretor da unidade.

Fraudes

As fraudes, envolvendo cerca de 20 pessoas, entre ex-gestores do Ipasgo, diretores e presidente do Ingoh, causaram, em um levantamento preliminar feito pela Polícia Civil (PC), prejuízos de R$ 50 milhões. Luiz conta que as investigações ocorrem há seis meses e abrangem o período de 2013 a 2018. Nesse tempo, o Ingoh foi escolhido pelo Ipasgo, durante um chamamento especial, para ser responsável pelo ramo de quimioterapia. Em contrapartida, a empresa que ganhasse deveria oferecer o desconto de 15% sobre o tratamento.

Porém, ainda de acordo com as investigações, o estado não recebia esse desconto e valores eram superfaturados durante auditoria realizada pelo Ipasgo. Ainda segundo o delegado, os auditamentos fraudulentos se davam de três formas: com o auxílio de um auditor robô, por meio de empresas terceirizadas para auditar as contas e por meio de médicos do Ingoh que atuavam dentro do Ipasgo.

“Identificamos que a criação do auditor robô partiu de um dos membros de alto escalão do Ipasgo. As empresas terceirizadas não poderiam fazer esse tipo de serviço, que deve ser realizado por uma pessoa concursada. Também identificamos que essas empresas tinham ligações com os investigados. Para se ter o tamanho do rombo, antes de 2013, a glosa do Ingoh- que são os cortes feito nas auditorias- era de 10%. Atualmente, não chega a 0,8%. Enquanto outras empresas ganhavam R$ 8 milhões anualmente, o Ingoh chegava a lucrar dez vezes mais”, pontua.

Além disso, segundo Luiz Gonzaga, serão investigado superfaturamento em preços de medicamentos, utilização de produtos vencidos e até pagamento irregular de sala de quimioterapia.

Polícia Civil realiza mandados de busca e apreensão contra sócios do Ingoh (Foto: PC/ Reprodução)
Polícia Civil realiza mandados de busca e apreensão contra sócios do Ingoh (Foto: PC/ Divulgação)

Metástase

A operação teve início após auditorias realizadas neste ano no Ipasgo. Foram cumpridos 19 mandados de busca e apreensão, em que foram encontrados medicamentos, documentos e laudos médicos, na manhã desta quinta-feira (12). Os mandados foram cumpridos na sede o Ingoh, casa de ex-gestores do Ipasgo e Ingoh e empresas que prestavam serviço ao Ipasgo.

Foram apreendidos diversos carros de luxo, obras de artes, cerca de R$ 100 mil em espécie e aeronaves. Luiz conta que os bens foram apreendidos como garantia de um futuro processo indenizatório do estado. Caso os investigados sejam inocentados, eles serão devolvidos.

O secretário de Segurança Pública, Rondney Miranda, diz que foram solicitadas à Justiça oito mandados de prisões na operação, mas todos teriam sido negados. Segundo ele, pesar de terem encontrados medicamentos vencidos e irregulares nos tratamentos de câncer, não foi pedida a interdição do Ingoh.

“Acredito e tenho certeza que tem grandes profissionais no Ingoh. A gente não vai generalizar. Nós temos oito investigados que faziam essa manipulação de medicamentos nos bastidores. Já temos depoimentos de médicos revoltados com isso, que prescreveram o medicamento, achavam que ele estava sendo aplicado nos paciente e na verdade não estavam”, pontua.

Além disso, o secretário destaca que o pedido não é remoto. “Pode ser pedida em outras etapas que possam ser cumpridas. Vamos analisar o que foi encontrado, mas não é uma possibilidade remota. Até por conta recente de medicamentos inadequados e vencidos para o tratamento de doenças graves”, finaliza.

Morte de paciente com câncer é investigada durante operação contra fraudes no Ipasgo
Uma das obras de arte apreendida pela polícia (Foto: Divulgação/PC)
Morte de paciente com câncer é investigada durante operação contra fraudes no Ipasgo
Aeronave apreendida pela operação (Foto: Divulgação/PC)

O que dizem os citados

O presidente do Ingoh, Yuri Vasconcelos e o advogado, Iure de Castro, vão conceder entrevista para a imprensa na manhã de sexta-feira (12). Mais cedo, a assessoria do instituto encaminhou uma nota sobre o assunto. Leia na íntegra.  

[olho author=”Ingoh”]

O Instituto Goiano de Oncologia e Hematologia manifesta sua total tranquilidade com a operação policial de buscas promovida pela investigação nominada como Operação Metástase, especialmente porque vem colaborando permanentemente com as investigações, tendo se posicionado junto ao GAECO/MP-GO, em documento formal, pela abertura de todos os documentos, sistemas e fontes de dados e informações do instituto e seus diretores para quaisquer busca de informações de interesse da investigação policial.

É de total interesse do INGOH a restauração da verdade, confiante nos métodos e na ética da empresa que construiu credibilidade e respeitabilidade em 50 anos de atuação no mercado goiano, nunca tendo se envolvido com atividades irregulares.

O INGOH está certo que logo, através das investigações da Polícia, Ministério Público e da atuação do Judiciário, ficará comprovado que o Instituto não tem qualquer envolvimento com os supostos atos de ilegalidades praticados junto ao IPASGO.

À imprensa informamos a nossa postura de transparência e pleno compromisso com a verdade, solicitando compreensão pela necessidade circunstancial de nomear como porta-voz do INGOH o advogado Iure de Castro que apresentará novos posicionamentos e esclarecimentos necessários

[/olho]

O Ipasgo também se pronunciou sobre o assunto. Veja a nota na íntegra.

[olho author=”Ipasgo”]

O Instituto de Assistência dos Servidores do Estado de Goiás (Ipasgo) apoia o andamento da Operação Metástase, da Polícia Civil do Estado de Goiás, que investiga um esquema criminoso que ocorria no órgão nas gestões passadas. Os primeiros indícios de fraudes e desvios apareceram em auditoria promovida pela atual gestão do Ipasgo, cujos dados foram reportados à Controladoria Geral do Estado.

O Ipasgo informa que espera que todos os fatos relativos a tais denúncias sejam adequadamente apurados. A nova gestão do instituto esclarece que, desde o início do ano, atuou para fortalecer as medidas de transparência e o combate à corrupção.

O instituto tem apoiado de forma incondicional o andamento das operações da Polícia Civil e todas as informações solicitadas pelos órgãos de controle, como Controladoria Geral do Estado e Ministério Público, e pela Secretaria de Segurança Pública, estão sendo fornecidas.

Ao longo deste ano, a nova gestão do Ipasgo informa que tem trabalhado para avançar nas ações de controle e para regularizar a situação financeira do instituto. Neste período, foram pagas as dívidas deixadas pelos governos anteriores com a rede credenciada, que chegavam a quase R$ 500 milhões. Após esta etapa, os pagamentos para empresas e profissionais credenciados ao Ipasgo foram regularizados e as datas de quitações foram unificadas pela primeira vez na história do plano.

A rede credenciada foi ampliada e novos serviços de saúde passaram a ser oferecidos em várias regiões do Estado, como Entorno do Distrito Federal, região metropolitana e oeste goiano. Em Aparecida, a nova gestão inaugurou a primeira unidade do projeto Ipasgo Clínicas, que agora oferece pronto atendimento 24 horas para crianças e programa saúde da mulher.

 

 

[/olho]