Cidades

Os números de nossa tragédia

Todos os dramas que vivemos podem ser quantificados

Goiânia inicia vacinação de pessoas acima dos 67 anos, neste sábado (Foto: Jucimar de Sousa/Mais Goiás)

Desde pequeno ouço que os números são frios, que as estatísticas não dão conta de transmitir emoção. Sempre concordei com a tese. Afinal, quando leio que em um acidente morreram tantas pessoas e ficaram tantas feridas, sendo que algumas em estado grave, não consigo de imediato enxergar que ali estão inclusos pais, mães, filhos, amores, sonhos, projetos, esperanças e pedidos de desculpa que nunca mais poderão ser pedidos. Erro meu, é claro. Mas que muitos mais cometem. E na tragédia brasileira que vivemos atualmente, os números são tão absurdamente colossais que ficamos entorpecidos com unidades, dezenas, centenas, milhares, milhões, bilhões e sei lá quantos mais zeros para dimensionar o buraco em que estamos.

Vejam as unidades de medida. Podemos usar metros, reais, quilômetros, mortos, percentual, internados, dólares, vacinas e mais um monte de possibilidades que dão cara ao problema.

No momento, são mais de 257 mil mortos de covid-19 no Brasil para mais de 10,5 milhões de contaminados. Se seguirmos nessa toada, quando todos os cerca de 210 milhões de brasileiros estivermos contaminados, seremos mais de 5 milhões de mortos. Isso é mais do que a população do Acre. Ou de Alagoas. Ou do Amapá, Amazonas, Espírito Santo, Distrito Federal, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Piauí, Rio Grande do Norte, Rondônia, Roraima, Sergipe e Tocantins. Sim, todos esses estados têm menos de 5 milhões de habitantes.

Mas esse nível de números de mortos não vai acontecer. Aleluia! Afinal, já temos mais de 7 milhões de vacinados. Isso representa pouco mais de 3% do total da população brasileira. Chegamos a esse número em 45 dias desde o início da vacinação. Nesse ritmo, serão necessários 1.350 dias para vacinarmos todos brasileiros. Ou 45 meses. Ou quase quatro anos.

Eu poderia também falar de outros números. Tipo mansão de R$ 6 milhões para quem recebe salário líquido de R$ 25 mil. Ou de 4,1% de queda do PIB. Ou ainda de R$ 89 mil que aparecem na conta da esposa de alguém. Mas acho que a enxurrada de números já está ficando muito longa.

@pablokossa/Mais Goiás | Foto: Jucimar de Sousa/Mais Goiás