SÉRIE DE FALHAS

Paciente do Crer teve alimentação injetada na veia; profissional relata erros graves

Correto era alimentá-lo por sonda. Servidores responsabilizam a direção da unidade pela contratação de profissionais sem experiência

Foto: SES - Reprodução

Profissionais que atuam no Centro de Reabilitação e Readaptação Dr Henrique Santillo (Crer), em Goiânia, denunciam uma série de erros que têm ocorrido na unidade de saúde. Entre as falhas mais graves, está a aplicação de alimentação na veia de um paciente internado por Covid-19, quando o procedimento correto para refeição deveria ocorrer por meio de sonda. Caso ocorreu na última semana.  Servidores dizem que a qualidade no atendimento vem caindo desde o processo de quarteirização de funcionários, implantado há pouco mais de um ano, e culpam a direção do hospital por contratar profissionais sem experiência.

Segundo os relatos aos quais o Mais Goiás teve acesso com exclusividade, a dieta do mencionado paciente foi infundida na veia por cerca de 2h, no período noturno. Ainda de acordo profissional de saúde, ao notar o erro, um médico solicitou a retirada do acesso, dispositivo que facilita aplicações intravenosas, e pediu realização de um novo procedimento para infusão de medicamentos.

Conforme relata a servidora, o paciente em questão foi a óbito no último final de semana. No entanto, não há como dizer se o erro foi o responsável pela morte. “Paciente com Covid evolui muito rápido. Ele morreu logo. Não dá para afirmar que foi por conta do erro, mas imagino que agravou com a situação”, disse.

A reportagem procurou diversos médicos e nutricionistas para comentar o mencionado erro, mas não obteve nenhum retorno. O Conselho Regional de Medicina (Cremego) e Associação Médica de Goiás (AMG) preferiram não se comentar o caso.

Outros erros

A mulher conta que erros básicos têm sido comuns no hospital, principalmente após a quarteirização de profissionais da saúde. “Nós sabíamos que não seria fácil, mas a coordenação garantiu que não teríamos funcionários sem experiência. A pandemia agravou tudo, reconheço que não dá pra escolher, mas são erros básicos, que não dá mais pra ver e não fazer nada”, afirmou.

A profissional relata que pacientes estão ficando com graves lesões por conta da falta da mudança de decúbito – alteração de posição do corpo do paciente para evitar a sobrecarga de pressão de uma determinada área da pele por um período prolongado.

(Foto ilustrativa: divulgação/CRER)

“Nós temos funcionários que se formaram em dezembro de 2020 e entraram para trabalhar direito na UTI, com paciente crítico de Covid. Infecções, contaminações, despreparo, muita medicação sem ser administrada e o paciente à míngua. Não dá pra assistir e ser omisso, está difícil. Falta uma assistência de qualidade básica”, disse preocupada.

Para ela, a responsabilidade é da direção do Crer, que “aceita funcionários sem experiência”. “Tem funcionário de todo tipo. Técnicos, enfermeiros, fisioterapeutas que não estão nem aí, não querem aprender. A gente reclama, mostra o erro e eles apenas pedem paciência. É difícil ver isso todos os dias. É doloroso. Ninguém mais tem psicológico para isso. Nossa área não dá para errar. Entendo o despreparo e a pressão, mas o erro não”, comentou.

Outro lado

Em nota (leia íntegra abaixo), o CRER informou que o hospital possui uma sólida Cultura de Segurança nos processos assistenciais exercidos na unidade de saúde. Segundo o texto, o Núcleo de Segurança do Paciente (NUSP) da unidade é responsável pela verificação do cumprimento rigoroso de protocolos internacionais de segurança na assistência e avalia a conformidade procedimental destes.

“O CRER tem o  compromisso de estabelecer uma relação de cuidado assistencial co-participativa, pois, assim, aprimoram-se todos os processos no âmbito da técnica e da humanização do cuidado”, disse.

Sobre o incidente envolvendo o paciente diagnosticado com Covid-19, narrado pela profissional, o hospital disse que o equipamento que conecta a sonda de alimentação enteral é incompatível com o conector de equipamento de acesso venoso. “Isto é, visando, justamente, a diminuição de agravos dessa natureza à saúde dos pacientes, há anos o CRER possui esta diferenciação operacional, e que corresponde às orientações internacionais de segurança do paciente”, afirmou.

A reportagem também entrou em contato com a Secretaria da Saúde de Goiás em busca de um posicionamento, mas não recebeu resposta até o fechamento da matéria. O espaço está aberto para manifestação.

Nota do CRER:

Esclarecemos que o hospital CRER possui uma sólida Cultura de Segurança nos processos assistenciais exercidos na unidade de saúde. O Núcleo de Segurança do Paciente (NUSP) do hospital é responsável pela verificação do cumprimento rigoroso de protocolos internacionais de segurança na assistência e avalia a conformidade procedimental destes. O CRER tem o  compromisso de estabelecer uma relação de cuidado assistencial co-participativa, pois, assim, aprimoram-se todos os processos no âmbito da técnica e da humanização do cuidado. Dessa maneira, tanto profissionais quanto pacientes têm a liberdade e a prerrogativa de informar o NUSP caso ocorra alguma discordância.
Considerando o suposto incidente citado, esclarecemos que o equipamento que conecta a sonda de alimentação enteral é incompatível com o conector de equipamento de acesso venoso. Isto é, visando, justamente, a diminuição de agravos dessa natureza à saúde dos pacientes, há anos o CRER possui esta diferenciação operacional, e que corresponde às orientações internacionais de segurança do paciente. Todos os leitos da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do hospital possuem colchões pneumáticos, que são os indicados para evitar lesões por pressão, e seguem-se as recomendações protocolares de mudança de decúbito dos pacientes.
Vive-se o estágio mais avançado da contaminação pela covid-19 com recordes de pessoas contaminadas e, por isso, os profissionais da saúde têm de ser amparados técnica e emocionalmente para que cumpram a sua missão de salvar vidas. Diante disso, o CRER fortaleceu o setor de treinamentos da unidade de saúde, que devido à situação de emergência na saúde pública, foi atualizado com a condução de orientações de biossegurança, paramentação e desparamentação concernentes ao contexto atual. Há na unidade cinco estações de Simulação Assistencial Realística, que preparam e atualizam esses profissionais em um ambiente controlado de enfermaria e de UTI, simulando situações que encontrariam na assistência. Dessa forma, prepara-se uma ambiência de segurança, diminuindo o risco de intercorrências no trato com pacientes.