Padre de Goiás sofre extorsão de falsos delegados; entenda
Polícia Civil investiga adulteração de vídeos e graves ameaças. Especialista faz alerta
Um padre de Goiás, 54, denuncia ser vítima de extorsão praticada por falsos delegados. A Polícia Civil investiga a situação como grave ameaça e extorsão. O caso foi registrado na Delegacia Estadual de Investigações Criminais (Deic) na última segunda-feira (2/9). Morador de Piracanjuba, Sul do estado, o religioso afirma que os falsos policiais, os quais afirmam ser do Rio Grande do Sul e do Pará, usam vídeos adulterados, possivelmente com inteligência artificial, para cometer os crimes via WhatsApp.
De acordo com o padre, as ameaças ocorrem desde 2022, mas houve intensificação dos contatos no último mês. Por mensagens, suspeitos já cobraram R$ 3 mil para que supostos vídeos do padre comprando e usando drogas não fossem divulgados. O clérigo, Milton Justus, exerce as funções de padre na Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia e de vice-presidente e relações-públicas da Igreja no Brasil e América Latina. Ele nega ser usuário de drogas.
Extorsão de falsos delegados deixa padre de Goiás assustado
“Estou extremamente assustado com a fraude que fizeram para montar vídeo usando minha voz e minha imagem. Minha família está com muito medo também, porque os criminosos enviam mensagens de vários números, com vídeos temporários, para me extorquir, sempre fazendo ameaças e querendo dinheiro. É uma situação de muito pânico”, afirmou.
Um dos investigados, que usa nome e foto de delegado para ameaçar e cobrar dinheiro, tem atuação mais frequente. “Sobre esses vídeos, tenho mais o senhor comprando droga e falando o que não devia”, disse o suspeito em uma das mensagens. “Estou te chamando pra [sic] nós conversarmos sobre os 11 vídeos que tenho seu sr Milton”, enviou o homem a partir de outro número.
Apesar das afirmações e constantes investidas, os investigados não enviaram nenhum vídeo temporário que vinculasse a vítima ao consumo ou à compra de drogas. O padre disse ao Mais Goiás nunca ter feito pagamentos para os suspeitos e vincula isso à intensificação das mensagens nos últimos dias.
Início da extorsão: viagem a Balneário Camboriú
De acordo com o boletim de ocorrência, Milton Justus passou a receber mais mensagens e pressão desde que seu nome apareceu como candidato a vice-prefeito de Piracanjuba neste ano. A polícia investiga se os criminosos usaram a imagem e a voz da vítima adulteradas a partir de gravação escondida, realizada, em 26 de dezembro de 2022, durante viagem para Balneário Camboriú (SC).
O padre revelou que, na cidade catarinense, conheceu dois jovens em uma praça, perto do hotel onde estava hospedado, na orla da Avenida Atlântica. Em seguida, consumiu bebida alcoólica com a dupla, que, momentos depois, insistiu que ele estava embriagado e se dispôs a acompanhá-lo de carro até o apartamento do hotel.
No trajeto, segundo o relato, os três conversaram sobre pontos turísticos da cidade, mas a vítima, sentada no banco do passageiro, não percebeu que estava sendo gravada por um dos jovens que estava acomodado no banco traseiro. O padre afirmou ter sido surpreendido com mensagem no WhatsApp, ao receber vídeo de visualização única com conteúdo forjado, assim que retornou para Piracanjuba, em janeiro de 2023.
Na época, o vídeo chegou com uma mensagem de requisição da quantia de R$ 3 mil, ameaçando expor a gravação que colocava o padre em situação de acontecimentos e falas não ocorridas. Como se tratava de conteúdo visivelmente adulterado, ele não respondeu e os criminosos recuaram por um período.
Extorsões recomeçaram quando padre foi candidato a vice-refeito em Piracanjuba
No entanto, recentemente, depois de lançar seu nome como candidato a vice-prefeito na cidade goiana, o padre voltou a receber novas investidas por parte dos criminosos. A vítima disse que observou um aumento no conteúdo forjado, para que fosse submetido a algum tipo de negociação com os bandidos, em troca da não divulgação dos vídeos.
Ex-delegado-geral da Polícia Civil de Goiás, o advogado Alexandre Pinto Lourenço, especialista em investigação defensiva e responsável pela defesa do professor, acredita que a vítima seja alvo de uma rede criminosa com integrantes do estado e de Santa Catarina. Ele alerta que qualquer tipo de pessoa está suscetível a entrar na mira dos bandidos.
“Os bandidos têm usado a tecnologia para praticar crimes de extorsão e grave ameaça contra diversas pessoas. Muitas delas ainda se sentem intimidadas a denunciar com receio de partirem para o enfrentamento à criminalidade e, como consequência, sofrerem mais perseguição ou até mesmo invasão de sua vida privada, mas é preciso recorrer às autoridades para que as medidas cabíveis sejam tomadas em cada caso”, assevera Lourenço.