Luto

Pai queria que filho fosse como ele, diz tia de jovem morto em Goiânia

Alexandre não aceitava que o filho participasse de protestos, pois temia que fosse preso ou morto pela polícia. Segundo ela, o cunhado tinha problemas psiquiátricos, mas não se tratava

A Delegacia de Investigação de Homicídios (IDH) de Goiânia recolheu imagens de câmeras instaladas na região do Setor Aeroporto onde, na terça-feira (15), o engenheiro Alexandre José da Silva Neto, de 60 anos, matou a tiros o próprio filho, Guilherme Silva Neto, de 20, estudante de Matemática da Universidade Federal de Goiás (UFG). Conforme o delegado Hellyton de Carvalho, as imagens ajudarão a entender as circunstâncias do crime.

Policiais estão atrás de vídeos feitos com celulares, postados em redes sociais, e imagens de câmeras de vigilância instaladas em estabelecimentos, na região.

Guilherme queria acompanhar uma reintegração de posse que seria cumprida na UFG, mas foi proibido pelo pai. Alexandre foi atrás do filho e o atingiu com três tiros, antes de se matar. De acordo com o delegado, a pistola calibre 6.35 usada no crime estava registrada em nome de Alexandre. Ele tinha porte de arma e sabia atirar. Quando saiu atrás do filho, ele levou uma maleta com a arma e dois carregadores, o que pode indicar que premeditou o assassinato.

A tia do estudante, Rosania de Moura Rosa, irmã da mãe de Guilherme, contou informalmente à polícia que a relação entre pai e filho era conflituosa e que Alexandre tinha ameaçado matar o estudante caso fosse às ocupações. Ela disse que, desde criança, o engenheiro mantinha o filho único numa espécie de prisão, com receio de que acontecesse algo com ele. Conforme Rosania, o cunhado era possessivo e queria que o filho fosse como ele, mas Guilherme tinha opiniões próprias, quase sempre divergentes das do pai.

Depois de completar 18 anos, Guilherme começou a participar de manifestações contra aumentos na tarifa de ônibus. No ano passado, ele apoiou a onda de ocupações de escolas contra a transferência da gestão para organizações sociais. Na última semana, participou ativamente da ocupação da reitoria da UFG.

Alexandre não aceitava que o filho participasse de protestos, pois temia que fosse preso ou morto pela polícia. Segundo ela, o cunhado tinha problemas psiquiátricos, mas não se tratava. A Polícia Civil deve concluir o inquérito em 30 dias. Como o autor do crime também se matou, o caso deve ser arquivado pela Justiça.

Conceituado

O engenheiro Alexandre José da Silva Neto era conceituado em Goiânia e nas cidades onde atuou profissionalmente. Formado em Engenharia Civil pela Universidade Federal de Brasília (UnB), ele fez aperfeiçoamento em Paris e Londres, na Europa, e falava fluentemente, além do espanhol, francês e inglês. Consta de seu perfil profissional que Silva Neto trabalhou em projetos e obras civis em Brasília (DF), Uberlândia (MG), Goiânia e Itumbiara (GO).

Na capital federal, ele dirigiu reformas e ampliações em prédios públicos, dos ministérios da Saúde e da Marinha. O engenheiro deixou familiares em Brasília, onde desejava ser enterrado. Por decisão dos irmãos, seu corpo foi sepultado no Cemitério Vale da Paz, em Goiânia. A família não descarta um translado futuro para a capital federal, onde estão enterrados seus pais.