Pandemia causa impactos ‘extremos’ na alfabetização em Goiás, diz especialista
Em 2019 havia 285 mil pessoas com 15 anos ou mais analfabetas, o equivalente a uma taxa de analfabetismo de 5,1% no Estado
A alfabetização das crianças foi “extremamente prejudicada” na pandemia, na visão da especialista em alfabetização e Atendimento Educacional Especializado (AEE), Adriana Lucia da Silva. Adriana explica que até mesmo o pouco contato com outras crianças influenciou. Em Goiás, no ano de 2019 havia 285 mil pessoas com 15 anos ou mais analfabetas, o equivalente a uma taxa de analfabetismo de 5,1%. Segundo os dados divulgados no ano passado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), esse percentual não é capaz de ler e escrever.
“A criança na fase de alfabetização precisa dialogar e perceber os sons da fala e o fato do isolamento fez com que as tivessem uma dificuldade maior nesse desempenho e um atraso no trabalho da coordenação motora. As crianças tiveram um excesso muito grande de contato com celular e televisão. Agora nesse momento presencial, tem apresentado dificuldade de concentração e estamos tendo dificuldade de construir uma rotina alfabetizadora com eles, justamente pela forma que a criança passou o isolamento em casa. Essas na sua maioria não tinham uma rotina adequada e essa própria disciplina que se tinha da rotina escolar é um motivador no processo de alfabetização, fora a questão emocional”, completou.
Segundo a especialista, as crianças têm sentido os efeitos da pandemia. “Temos visto crianças que estão passando por problemas de perda de familiares ou as vezes a criança está com um familiar doente. São muitos fatores ambientais, muitas famílias em geral tiveram um empobrecimento muito grande, se já era difícil a criança ter acesso a materiais de boa qualidade, agora está mais ainda. Tudo isso vimos agravado com a pandemia e agora mesmo na volta do presencial, para as que estão em sala tentamos remediar, mas ainda tem muitas famílias que ainda não retornaram ao presencial”, destaca.
Em Goiás, essa taxa apresenta queda tanto em relação ao ano de 2018 (5,7%) quanto ao início da série histórica de2016 (6,5%). De acordo com o levantamento do IBGE, o analfabetismo está diretamente associado à idade e quanto mais velho o grupo populacional, maior a proporção de analfabetos. Na pesquisa em 2019, eram cerca de 172 mil analfabetos em Goiás com 60 anos ou mais de idade, ou seja, cerca de 60% dos analfabetos (com 15 anos ou mais de idade) estavam nessa faixa etária.
Ao analisar os outros grupos houve uma queda no analfabetismo quanto mais novo o grupo etário, saindo de 17,3% entre aqueles com 60 anos ou mais e indo para 5,1% daqueles que tem 15 anos ou mais. Esse resultado indica que as populações mais novas estão tendo mais acesso à educação e sendo alfabetizadas ainda crianças.
Como é uma rotina alfabetizadora?
De acordo com Adriana, uma rotina alfabetizadora passa por todos. “Solicitamos que a família tenha prática de leitura, mas vemos que até mesmo esse diálogo familiar está empobrecido também pela quantidade de perdas que as pessoas tiveram, seja financeiro ou de pessoas mesmo”, esclarece.
Para a especialista houve um distanciamento nesse sentido. “Nessa volta, ficou um vazio muito grande na alfabetização, e é possível recuperar, mas existe uma necessidade muito grande de se trabalhar o emocional dessas crianças. Para essa alfabetização acontecer de maneira satisfatória não adianta que se empurre somente conteúdo, mas temos que buscar desenvolver com elas outras habilidades”, afirmou.
Frequência à escola ou creche cai no grupo etário de 4 a 5 anos
De acordo com o IBGE 1,9 milhão de pessoas frequentava escola ou creche. Entre as crianças de zero a três anos, a taxa de escolarização foi de 25,0%, o equivalente a 82 mil estudantes, cerca de 5 mil a menos que o ano imediatamente anterior.
Entre a faixa de quatro a cinco anos a taxa diminuiu entre 2018 e 2019 saindo de 84,7% para 83,8%. Apenas a faixa de 6 a 14 anos tem praticamente a universalização do estudo com cerca de 99,6% das pessoas na escola em 2019.
Taxa de analfabetismo é maior entre homens
A taxa de analfabetismo para as mulheres com 15 anos ou mais foi de 4,9% enquanto para os homens foi de 5,3%. Entre as pessoas pretas ou pardas com 15 anos ou mais foi de 6,0% e a taxa das pessoas brancas ficou em 3,5%. O IBGE ainda não tem dados apurados com relação a pandemia da Covid-19.
No Brasil, 11 milhões de pessoas são analfabetas. Pelo Plano Nacional de Educação (PNE), Lei 13.005/2014, que estabelece o que deve ser feito para melhorar a educação no país até 2024, desde o ensino infantil até a pós-graduação, o Brasil deve zerar a taxa de analfabetismo até 2024.
Menos da metade da população de 25 anos ou mais concluiu o ensino médio
No Estado, em 2019 cerca de 47,6% da população de 25 anos ou mais terminaram a educação básica obrigatória, ou seja, concluíram no mínimo o ensino médio. Segundo o IBGE, a população de mesma idade sem instrução ou com fundamental incompleto teve queda desde 2016 mas se manteve estável entre 2018 e 2019 com 39,7%. O percentual de pessoas com ensino superior completo também teve aumento estatisticamente significativo entre 2016 e 2019 saindo de 14,2% e indo para 16,4%.