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Para além da fantasia: a vida real de um Papai Noel

A história de vida de Carlos Gonçalves Avelino, o Carlinhos

Carlinhos se prepara para se transformar em um Papai Noel (Foto: Jucimar de Sousa - Mais Goiás)

Por trás da fantasia de Papai Noel, uma vida. Da vida, uma história. Carlinhos vive em uma casa no Jardim Goiás, em Goiânia. Aposentado, já foi servidor estadual, tentou a vida de empresário e com 53 anos viu na indumentária vermelha e branca a oportunidade de encerrar o ano fazendo aquilo que lhe faz brilhar os olhos: fazer crianças e famílias inteiras se emocionarem com o Natal.

Hoje com 65 anos, Carlos Gonçalves Avelino se transforma todo o final de ano no bom velhinho. Começou em 2011, quando conseguiu um “bico” em um shopping de Anápolis. A alegria e simpatia aliadas à barba robusta foram os predicados que lhe renderam o convite para um teste. De lá em diante, não parou mais. 

Todos os dias, ele começa a passar a sua roupa por volta das 17h, acompanhado de um café levemente adocicado. É ele quem faz a bebida que lhe dá forças para começar o trabalho às 19h no Centro Cultural Oscar Niemeyer, onde de terça-feira a domingo acontece o Natal do Bem, evento que vai até o dia 4 de Janeiro. 

Na “cidade natalina”, Carlinhos se transforma em um Papai Noel, a autoridade máxima. Tal qual o Papa Francisco está para a Igreja Católica e Pelé para o futebol, Carlos vira o rei do Natal em um ambiente onde a disputa política passa longe. Ali, ele agrada conservadores, liberais e progressistas, esmeraldinos e colorados, flamenguistas e tricolores.  

Já são 12 anos colecionando risos, histórias e alegrias. “Quando me perguntam se eu gosto de criança, eu respondo que sou apaixonado, mas eu gosto é de gente. A criança quando vem até mim, vem com um pai, uma mãe, um tio, uma tia, um avô, uma avó. E todos se emocionam da mesma forma. Eu gosto de pessoas e isso me emociona”, diz em meio a uma lágrima que escorre sobre seu rosto. “Falar sobre Papai Noel é emoção pura”, destaca.

Antes de se vestir de Papai Noel, Carlinhos trabalhou por muitos anos no governo de Goiás como servidor público, mas saiu por meio de um programa de demissão voluntária, em 1998. Depois, tentou a vida no comércio e, por muitos anos, tocou um restaurante de comida nordestina no setor Marista. “Deu certo até onde tinha que dar”, relembra.

“Enquanto vida Deus me der, serei Papai Noel”

Em sua casa, no Jardim Goiás, Carlinhos recebeu a reportagem do Mais Goiás nos momentos que antecederam sua transformação ao bom velhinho. “Para mim,  o Natal tinha de ser o ano todo. Eu amo essa época do ano. Fica até díficil pensar no que fazer quando tudo isso acaba”, desabafa. “A minha irmã diz que eu sou um abençoado. ‘Você faz o que você gosta e ainda ganha para isso”, diz em meio à gargalhada.

Tão grande é a transformação que Carlinhos revela dificuldade em dissociar a pessoa do personagem. “Eu aguardo o ano todo esse momento acontecer. Quase ninguém na vizinhança me conhece como Carlinhos, mas se você perguntar onde o Papai Noel mora… Todos sabem que moro aqui. Mas a gente tem que seguir”, pontua.

E a vida segue. Além do salário que recebe por conta da aposentadoria, faz alguns bicos de Uber.  Ao longo da vida, Carlinhos teve muitos amores, dois casamentos e hoje tem quatro filhas, um filho  e quatro netas. “Você acredita que minha netinha foi me visitar semana retrasada? Eu não me rendi às lágrimas. Foi uma alegria que só”, destacou.

Não faz muito tempo que Carlos enfrentou um dos maiores desafios de sua vida: sozinho em casa, sentiu dores no peito. Era o princípio de infarto. O próprio pediu ajuda ao SAMU que rapidamente o atendeu mas o caso era delicado e precisava de rápida intervenção cirúrgica.

Salvo pela intervenção divina e também por sua forte fé em Deus, no Oscar Niemeyer, viu meses depois integrantes da equipe médica que ajudaram a salvar sua vida: “Papai Noel, o senhor passou por uma cirurgia?”. A pergunta não precisava nem de resposta. Carlinhos logo reconheceu que tratavam-se das pessoas que contribuíram com mais alguns anos de história.

E o que o Papai Noel Carlinhos pediria ao Papai Noel do Polo Norte? “Quero só que Deus me dê saúde e vida para que eu possa continuar fazendo o Papai Noel. Enquanto eu estiver fazendo, eu estarei feliz. Tudo que eu prezo, é fazer as pessoas felizes. Sou feliz desse jeito”, destaca.