O que era para ser um evento de música e descontração acabou virando um festival de pancadaria perpetrada por policiais. É o que relatam participantes da sexta edição do Sons de Beco, evento que ocasionalmente reúne artistas diversos para uma programação cultural no Centro de Goiânia.
Conforme relatos feitos à reportagem e outros publicados nas redes sociais, o evento do último domingo (10/4), iniciado às 14h no Grande Hotel, na Avenida Goiás, esquina com a Rua 3, corria bem, até que por volta das 17h um grupo da Rondas Ostensivas Táticas Metropolitanas (Rotam) chegou ao local. De forma aparentemente gratuita, homens da corporação teriam agredido os presentes, inclusive mulheres, adolescentes e até mesmo os músicos que se apresentavam no momento.
“Estava eu sentado na calçada da Goiás, em frente ao Grande Hotel. De repente vieram dois camburões da Rotam, para ao meu lado com taser nas minhas costas”, diz um relato anônimo no Facebook. “Perguntei a uns do policiais: ‘Por que vieram até aqui? O que aconteceu?’. Recebi a seguinte resposta: ‘Desce correndo que é melhor para você’”, completa.
Eduardo Batista, um dos integrantes do Oz Outros — grupo organizador do evento — conta que estava na porta do Grande Hotel quando viu a Rotam começar a agredir o público na calçada. “Eles entraram dentro do evento já batendo em todo mundo, inclusive em mulheres, gritando, xingando todo mundo”, afirma. Segundo ele, após agredirem os músicos da banda Noise Triad, que tocava no momento, ainda chutaram os equipamentos de sonorização.
Conforme Eduardo, a posterior justificativa dada pelos policiais para o acontecido foi a suposta falta da documentação necessária para a realização do evento, mas ele atesta que os oficiais iniciaram as agressões antes de qualquer diálogo. “Depois que eles colocaram todo mundo para fora, nós, organizadores fomos até eles para conversar. Eles queriam nos levar presos, mas apresentei toda liberação ao comandante da Rotam e para a Polícia Militar, que estava também presente.”
Os organizadores garantem que possuem autorização para a realização do evento de diversos órgãos, como Agência Municipal do Meio Ambiente (Amma), Corpo de Bombeiros, Secretaria Municipal de Trânsito (SMT), Comurg, Companhia Metropolitana de Transportes Coletivos (CMTC), além da própria Polícia Militar.
Relatos de agressões
Bruno Gallo, vocalista da Galo Power, relatou pelo Facebook o que presenciou enquanto esteve lá. “Eu, que estava ali ao lado do palco com os companheiros, acompanhei o momento em que estes seres desprezíveis chegaram, sem nenhum motivo aparente, batendo em todos com seus cassetetes, coagindo e ameaçando todos. Não sei se há muito o que falar mesmo, nem como entender”, disse. “Só comprovei que não há nenhum respeito por parte desses caras com essa juventude que não tem medo de se divertir ou de se expressar. Que tá ali curtindo um rock sincero e sem violência alguma.”
A postagem de uma participante na página do evento informa que uma senhora que trabalhava nas proximidades também foi agredida. Uma das fotos publicadas mostra o joelho da mulher ensanguentado, supostamente ferido no momento da confusão.
Apesar de todo o transtorno, ninguém teria se ferido gravemente e o evento foi retomado posteriormente.
Nota da PM
Procurada pela reportagem, a Polícia Militar não confirmou e nem negou os relatos. Por meio de nota encaminhada por e-mail, a corporação limitou-se a solicitar “aos participantes do evento que se sentiram prejudicados com a abordagem da Rotam que se dirijam à Corregedoria da PM para oficializar as reclamações, a fim de que sejam apurados os fatos e responsabilizados os supostos autores”.
Eduardo informou à reportagem que os integrantes do Oz Outros ainda não decidiram se prestarão queixa sobre o ocorrido.