ESPECIAL DIA DA MULHER

Percentual médio de mulheres que abrem empresas em Goiás é o mesmo há 10 anos 

A estagnação do percentual médio (42-43%) de mulheres empresárias no estado deve-se às dificuldades encontradas por elas no dia-a-dia do próprio negócio

Em 2023, Goiás registrou a abertura de 158 mil empresas, das quais 42% tinham mulheres como líderes, segundo o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae Goiás). O referido percentual é o mesmo há 10 anos, uma estabilização que fica entre 42% e 43%. Preconceito, renda menor em comparação com a dos homens e dupla ou tripla jornada de trabalho ainda fazem parte da realidade daquelas que têm o próprio negócio. Neste 8 de março, Dia Internacional da Mulher, o Mais Goiás traçou o perfil das mulheres empreendedoras no estado e mostra, através de dados e relatos, os desafios da presença e permanência feminina no setor. 

De acordo com o Sebrae, do total de mulheres empreendedoras com registro em Goiás, 47% se declaram brancas e 46% se declaram pardas. A idade média delas é de 42 anos. A maior parte das empreendedoras possui Ensino Superior incompleto ou completo (32%) e Ensino Médio (43%). Em geral, as mais jovens têm maior escolaridade e as com maior idade têm menor escolaridade.

Ainda segundo a instituição, as atividades econômicas mais comuns entre os empreendimentos liberados por mulheres são o comércio varejista (28%); atividades de serviços pessoais (12%) e atividades de alimentação (10%). 

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A estagnação no empreendedorismo feminino

Para Polyanna Marques, analista do Sebrae Goiás responsável pelo estudo do perfil da empreendedora goiana, a estagnação do percentual médio (42-43%) de mulheres que abrem empresas no estado deve-se às dificuldades encontradas por elas no dia-a-dia do próprio negócio. 

Conforme expõe ela, apesar de consideráveis avanços, as mulheres ainda sofrem preconceito quando o assunto é empreender. “Elas são olhadas com desconfiança e descrédito por algumas pessoas, que acreditam que mulheres não têm competência para gerenciar seu próprio negócio. Assim, as mulheres precisam de um esforço muito maior que o dos homens para provar a sua capacidade e o seu valor”, destacou. 

Polyanna cita, ainda, a questão da renda, que, segundo ela, é menor em comparação com a dos homens. Ao comparar empreendedores homens e mulheres, ela afirma que a diferença ainda é grande. De acordo com a analista do Sebrae, a mulher empreendedora chega a receber o equivalente a 60% da renda do homem. 

Além disso, a dupla e, às vezes, até tripla jornada de trabalho também é variante que torna o empreendedorismo ainda mais desafiador para elas. “Em muitos casos, a mulher precisa conciliar vários papéis. Ela tem de ser empreendedora, mas também dona de casa, mãe e esposa, e outras eventuais funções”. 

E completou: “aos poucos, a sociedade tem visto com mais naturalidade uma mulher dirigindo uma empresa, seja ela de porte grande ou um empreendimento autônomo realizado na própria casa. É importante que elas se qualifiquem e busquem, quando necessário, ajuda profissional para seu empreendimento e ajuda para sua vida pessoal, criando para si uma rede de apoio que lhe permita trabalhar com menor preocupação com as questões de casa e familiares. É desafiador”, ponderou. 

Dupla e tripla jornada na prática

Tatiane Praxedes, mais conhecida como Tati Praxedes, tem 33 anos e é designer de moda, fotógrafa, mãe, administradora, violinista e desempenha tantas outras funções diárias. Ela faz parte daquele grupo de mulheres que precisa lidar com a dupla e muitas vezes tripla jornada. 

Uma história que parecia ser “coisa de adolescente” transformou-se em uma profissão, um amor e a principal fonte de renda. Tati começou a costurar e fazia as próprias roupas – e as das amigas – aos 12 anos. A paixão pela área cresceu ao longo dos anos e ela ingressou no curso de Moda da Universidade Estadual de Goiás (UEG). Ainda como estudante universitária, surgiu a vontade de empreender. Em 2012, decidiu se desafiar no mundo do empreendedorismo. Construiu sua marca que já está há 11 anos no mercado. 

Durante a jornada, tomou prejuízo de cerca de R$ 25 mil. Pensou em desistir, mas seguiu em frente. Começou do zero. Desta vez, com loja online, já que o custo benefício era melhor naquele momento. Hoje colhe os frutos da perseverança. Tati Praxedes Atelier é referência no estilo “clássico contemporâneo”. 

A empresária esteve nas duas edições da Amarê Fashion, maior evento de moda de Goiás, como expositora e modelo, além de ser uma das vencedoras do prêmio Mulheres de Negócios de Goiás, no ano de 2022, evento promovido pelo Sebrae. Para ela, empreender envolve força de vontade, persistência e muita determinação, especialmente no caso das mulheres. 

“Sendo mulher o esforço precisa ser dobrado. Além do trabalho em si, temos outras cargas atribuídas a nós, como casa, casamento, maternidade. São cargas que, somadas, dificultam o empreendedorismo. O cansaço bate, a rotina pesa, mas posso dizer que a recompensa é gratificante”, afirmou. 

Além disso, ela cita que há um agravante para aquelas que buscam empreender. “Você precisa provar muitas coisas ao longo do caminho, tem que lidar com preconceito e tantos outros desafios. Se você é mãe e vai em um evento a trabalho, logo perguntam com quem deixou o filho. Vai ter pressão, vai ter piadinhas. De fato, os desafios são grandes, mas é gratificante olhar e ver que deu certo. Não tem dinheiro que pague isso”. 

Do fundo de quintal para o mundo 

Walkiria Jardim de Barros, 52 anos, é dona de um salão de beleza e tem a própria linha de cosméticos. Com 25 anos de profissão, ela, seu empreendimento e produtos são especialistas em cabelo crespo. Kira, como é mais conhecida, iniciou a trajetória no quintal de casa. Depois de anos de luta, conseguiu expandir o negócio e hoje é referência no mercado. 

Ela se especializou, estudou as tendências de mercado e hoje se prepara para lançar franquias. “Já me perguntaram quem era a dona do meu salão, não acreditavam que poderia ser eu. Hoje nossos produtos são enviados para fora do estado. Foi preciso perseverar e lutar todos os dias. Empreender não é fácil, mas pode ser mais tranquilo quando se tem uma base familiar que acredita em você”.

Ela coaduna com Polyanna e Tati quando o assunto é preconceito e desafios. Segundo a empresária, mesmo com certa evolução, o mundo, especialmente a área do empreendedorismo, ainda é machista. 

“Se posicionar enquanto mulher diante de algumas situações de preconceito é fundamental para o fortalecimento do empreendedorismo feminino. Diariamente precisamos mostrar e provar para o que viemos. Nos subestimam e desacreditam de nosso potencial, mas é aí que provamos que temos voz, vez e sonhos”, posicionou-se.

Para ela, além de atuar no próximo negócio, as mulheres têm a missão de levantar e apoiar outras mulheres. E é exatamente por isso que ela parte de seus dias em projeto social de atendimento psicológico, esportivo e profissionalizante para jovens meninas do Setor Crimeia Leste, em Goiânia. 

“O nosso grande objetivo é despertar essas meninas para viverem seus sonhos. Mostramos a elas que vale a pena arriscar, sonhar e ser dona de si. É dando suporte para outras mulheres que teremos um mundo mais justo e igualitário”, disse.