Pit-dogs não têm o que celebrar neste Dia Mundial do Hambúrguer
Quem nunca saiu da balada e parou para comer aquele bom e velho “sanduba” em…
Quem nunca saiu da balada e parou para comer aquele bom e velho “sanduba” em algum pit-dog da capital? Esse tipo de estabelecimento, único em nosso estado, já foi pauta na Câmara Municipal para ser considerado patrimônio histórico e cultural de Goiânia. O projeto chegou a ser aprovado em primeira votação na Casa em 2018. Mesmo sem uma conclusão do trâmite até agora, os goianienses – e goianos como um todo – já consideram esses lugares cantinhos onde se pode experimentar diversas delícias de carne (ou opções vegetarianas) com os molhos mais saborosos. Porém, neste Dia Mundial do Hambúrguer (28/5), especialmente durante a pandemia, esses negócios não têm o que celebrar.
A luta pela existência não é um aspecto que aflige esses estabelecimentos apenas em razão da crise sanitária. Em 2018, as lanchonetes foram ameaçadas de remoção por, segundo a Prefeitura de Goiânia na época, ocuparem locais inadequados na cidade. O apoio popular, entretanto, ajudou a suspender a iniciativa administrativa. Mais tarde, o Ministério Público de Goiás iniciou ação para cassar as concessões de pit-dogs na capital. Na contra-mão disso, um projeto de lei foi protocolado pela deputada estadual Adriana Accorsi (PT) na Assembleia Legislativa (Alego) com intuito de tornar esses negócios patrimônio do Estado.
Com as dificuldades do passado recente ainda frescas nas memoria, empreendedores que conduzem os pit-dogs se vêem diante de mais um desafio: superar as repercussões que isolamento social e o coronavírus trouxeram à economia. Apesar terem a permissão para continuar em funcionamento, as finanças, de modo geral, registraram queda média de 60% no volume de vendas, de modo que sobrevivem com os 40% de receita restante que vem exclusivamente das entregas. Os dados são do Sindicato dos Proprietários de Pit-Dogs (Sindpit-dog).
Segundo o presidente da entidade, Ademildo Godoy, houve aumento nos pedidos para delivery, mas o volume de comandas já não é o mesmo. “Tivemos um aumento no tele entregas, mas nem de longe é a mesma coisa das vendas realizadas no balcão. Tem as diversas plataformas de aplicativo para ajudar na entrega, mas temos que arcar com 27% de taxas. Isso é muita coisa. É um sócio que não trabalha”, destaca.
Segundo Ademildo, os 1.602 estabelecimentos existentes em Goiânia empregam cerca de 10 mil pessoas. E muitos desses empregos estão em risco, principalmente os estabelecimentos menores. Por isso, a data de criada para celebração do hambúrguer não é motivo de comemoração. “Ano passado, para se ter uma ideia, estávamos realizando uma ação social, doando hambúrgueres às famílias carentes, para hospitais e moradores em situação de rua. Nesse ano, por falta de recursos, não vamos fazer nada”, destaca.
Segundo ele, diversas pessoas que trabalham no segmento estão precisando de cestas básicas. Ademildo estima que cerca de 50% dos funcionários de pit-dogs perderam o emprego. “Há muita burocracia de uma ajuda financeira por parte do governo. O lucro diminuiu muito e demorará muito tempo para a gente se estabilizar. Não será de forma imediata”, ressalta.
Prejuízos
Walter Rodrigues, de 67 anos, proprietário da “Waltinho Lanches”, concorda que a situação não será tão simples de resolver. Ele, que trabalha há mais de 30 anos no meio revela, com misto de tristeza e alegria, como era ter as pessoas sentadas nas varandas de seus dois estabelecimentos no Jardim América.
“É de muita tristeza ver essa situação. Eu tenho seis funcionários nas duas lojas, fora os motoqueiros que são freelancers. Tive que despedir dois, um de cada loja, mas os outros me imploram para não ser demitidos pois não saberão o que fazer se perderem o emprego”, ressalta.
Pode-se se pensar que a situação dele está melhor por ainda ter dois pit-dogs. A resposta é não. Com a queda das vendas em 70%, os atuais 30% de lucro, segundo ele, não dão “nem para as despesas”. Além disso, ele destaca que contas não param de chegar e que ele mesmo não sabe se compensa manter duas lanchonetes abertas nesse cenário.
“O que vem pela tele-entrega é pouco. Estamos perdendo. Fechado seria mais lucro para gente. O que não dá é para deixar os meninos que trabalham comigo desamparados. Tem gente que está sobrevivendo de doação de cesta básica. É uma tristeza só”, pontua.
Adequações
Ademildo destaca que a classe, assim como boa parte do comércio, está aberta ao diálogo para que possam voltar a funcionar com as regras sanitárias definidas pela prefeitura. “Tivemos uma aceno de uma possível proposta de conversa no dia 6 de junho. Estamos com muitas ideias para ajudar no combate à pandemia. Colocar menos mesas, disponibilizar álcool em gel. Temos que apoiar a secretária de Saúde, o prefeito e o governador, mas também precisamos que eles olhem para nós”, destaca.
Walter complementa: “estamos no ar livre. Não lugares fechados em que muitos já estão funcionando. Já utilizamos máscaras, estamos dispostos em colocar dispenseres de álcool em gel e um em cada mesa, higienização de cada uma delas após o clientes sair. Estamos dispostos a conversar. E, mais uma vez, eu digo: a fome está no nosso meio”, afirma.
Queridinho de Goiás
Ademildo conta que, há sete anos, encomendou uma pesquisa em que ficou claro que 96% dos goianos adoram os pit-dogs. A miníma porcentagem restante é de pessoas que não podem comer por questões de saúde ou por causa de segurança e, por isso, preferem ir em um ambiente fechado ou em shopping, por exemplo.
Com isso, ele destaca que os estabelecimentos formam uma cadeia de produção que colabora com a economia local. “Nos sanduíches são utilizados alimentos naturais. O alface o tomate são novos. Cortados diariamente. Os nosso molhos, que são os mais variados possíveis, não levam conservantes. Além disso, somos atendidos por casas de frios, fábrica de pães… E tudo isso vem do nosso estado. Boa parte da Grande Goiânia”, explica.
Relembre como era a movimentação em alguns estabelecimentos antes pandemia