PM que pulou e cantou com torcida esmeraldina é alvo de procedimento disciplinar
A cena de um policial militar (PM) que deixa a linha de contenção criada para…
A cena de um policial militar (PM) que deixa a linha de contenção criada para segurar a euforia de esmeraldinos no salão de desembarque do Aeroporto Santa Genoveva, em Goiânia, para celebrar, junto com eles o retorno do Goiás à Série A do Brasileirão, pode terminar em punição. O agente público, tenente César Salustiano, flagrado em vídeo pulando e cantando enquanto tentava organizar a torcida para a chegada da delegação do time, na segunda-feira (19), agora é alvo de um procedimento administrativo disciplinar na corporação. A repreensão, todavia, gerou interpretações distintas entre os membros da instituição.
Conforme expôs, em nota, a Polícia Militar, o agente deveria ter agido com “imparcialidade”. “Estando de serviço e devidamente fardado, o policial representa a corporação e, por isso, suas atitudes devem ser imparciais e impessoais, questões previstas no Código de Ética e Disciplina dos Militares do Estado de Goiás”. Ainda segundo a corporação, “todos os problemas que surgem na instituição, sendo eles graves ou não, são apurados”.
Por outro lado, para o presidente da União dos Militares de Goiás (Unimil), vereador Cabo Senna, o comportamento foi “inteligente e estratégico”. “Quando viram a postura do policial, até os torcedores ajudaram a compor o cordão de isolamento. Perceberam que não deveriam fazer balburdia, mas apenas celebrar a classificação. Com isso, o policial, estrategicamente, lidou com a falta de efetivo para fazer a barreira e atuou para manter a segurança dos jogadores e a ordem no local. Tinha que ser parabenizado e homenageado”.
Ele também questiona a punibilidade da atitude. “Ele não deu cacetada em ninguém, não deu tiro, não usou a força. Eu entendo que isso não fere o Código de Ética da corporação. Sem falar que, quando ele pulou, pôde observar o que acontecia ao fundo do salão também”. Senna lembra ainda que Salustiano foi o mesmo flagrado jogando futebol com crianças em um campinho da periferia de Aparecida de Goiânia, caso que gerou repercussão nacional. “Quando ele foi visto jogando bola também viralizou e ninguém questionou nada. Tem que ter coerência”.
“Posturas pessoais”
Membro da corporação que pediu para ter a identidade preservada afirma que o comportamento do policial foi, além de inadequado, indecoroso. “A postura dele fere o que chamamos punodor militar, a ética profissional. O PM não pode ter posturas pessoais perante a sociedade durante o serviço. Enquanto representante do Estado, tinha que ter contido suas emoções. Se tivesse duas torcidas, seria ainda mais conturbador. Imagine se vissem um agente público tomando partido na torcida do time rival”.
O policial apoia suas opiniões na Lei 19.969/2018, que institui o Código de Ética e Disciplina dos Militares estaduais. De acordo com o artigo 119, incisos V e X, são transgressões disciplinares médias: “deixar de ter compostura em lugar público” e “envolver-se, durante o serviço, com assuntos alheios às suas funções que possam causar prejuízo à execução das tarefas sob sua responsabilidade”, respectivamente.
Segundo Senna, essas questões são subjetivas. “Na minha visão, ele atuou de acordo com o objetivo dele: manter a segurança. Além disso, optou por trabalhar com alegria, com aproximação, ao invés da truculência”, afirmou o presidente da Unimil. O Mais Goiás tentou contato com tenente César Salustiano, mas foi informado de que este está vedado de prestar declarações oficiais.