'É COMO UMA COLA'

PMMA não é absorvido pelo corpo e aplicação pode causar insuficiência renal, dizem dermatologistas

Médica diz que grande erro é que as pessoas estão confiando em qualquer um, e explica que produto é como cola

Foto ilustrativa de um pré-procedimento estético no bumbum (Freepik)

O PMMA (polimetilmetacrilato) é um preenchedor definitivo feito com um componente plástico. A substância não é absorvida pelo corpo, pode causar insuficiência renal grave e tem sido muito utilizada para procedimentos estéticos por pessoas desqualificadas, é o que apontam a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) e o Conselho Regional de Medicina (Cremego). Além do alerta, servem de exemplos os casos de deformações e mortes recentemente divulgadas em âmbito estadual e nacional pelo uso do produto.  

“É um implante feito no corpo e não é absorvido, como uma cola, não tem como reverter. Só com cirurgia. Agora estourou porque muita gente que não é da área está usando. Dentistas, médicos sem especialização, entre outros, estão aplicando na face, panturrilhas e glúteos de pacientes”, explica a dermatologista Soraia Damaso.

Soraia atua em Goiânia e tem mais de 16 anos de experiência na área. Ela explica que o PMMA pode causar diversas complicações, sendo elas inflamações, infecções, nódulos e outras. Ela detalha que o produto, dependendo da matéria-prima, pode colar até retrovisor de carro, sendo muito utilizado em indústrias.

O último caso divulgado em Goiás, foi o da modelo Aline Maria Ferreira, que fez uma aplicação nos glúteos e morreu dias depois, após uma complicação. O fato é investigado pela Polícia Civil e a responsável pelo procedimento e pela clínica foi presa por exercício ilegal da profissão. Ela estudou apenas 3 meses de medicina no Paraguai e se apresentava como biomédica.

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Insuficiência renal

A especialista conta que há pessoas aplicando o PMMA e informando aos pacientes que se trata de ácido hialurônico, ativo produzido pelo corpo que possui propriedades que estimulam o colágeno. Por isso, pacientes precisam pesquisar sobre os profissionais que divulgam o procedimento.

“Uma cliente minha teve uma complicação após 11 anos da aplicação na região do bigode chinês (face). Temos visto casos de insuficiência renal, já que ele provoca a hipercalcemia, acumulando cálcio no organismo. Com isso, quando o rim faz a detecção, o problema já é crônico”, detalha.

Segundo o Cremego, o PMMA tem a liberação da Anvisa, registrado no grupo IV (máximo risco), para tratamento de lipoatrofias severas, como em alguns pacientes que convivem com HIV/AIDS e sequela de poliomielite com atrofia muscular intensa, desde que administrado por médicos qualificados. Nestes casos, ele é utilizado em microesferas em gel.

Pesquise sobre o profissional

O Conselho Regional de Medicina (Cremego), a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD-GO) e a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP-GO) emitiram um comunicado de alerta, informando sobre o alto risco da aplicação do PMMA. As entidades ressaltam ainda que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não indica o uso do produto para aumento de volume corporal, facial e outros fins estéticos.

A dermatologista Soraia ainda alerta que o grande erro é que as pessoas estão confiando em qualquer um. Sem checar antes quem é o especialista e se ele é habilitado para tal procedimento.

“Tem gente que se auto intitula médico e não é. Tem médico que também não tem especialização e fala que é dermatologista. Farmacêutico, por exemplo, não pode fazer procedimento estético, foi definido pelo STF (Supremo Tribunal Federal). Muita gente quer fazer estética para ganhar dinheiro e enganar a população. Então, procurem os registros, veja se tem CRM (Registro no Conselho Regional de Medicina)”, finaliza Soraia.

Como consultar

Para consultar se um profissional é médico com registro e especialização em determinada área, como dermatologista, por exemplo, basta acessar o site do Conselho Regional de Medicina (Cremego) ou da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD).

Em casos de denúncias de falsos profissionais, basta entrar em contato com a Polícia Civil pelo (197) ou até mesmo com o Procon (151).