PMs acusados de matar quatro pessoas em Cavalcante respondem por mais de 2 homicídios
Três dos sete policiais militares acusados de matar quatro pessoas em uma chácara em Cavalcante,…
Três dos sete policiais militares acusados de matar quatro pessoas em uma chácara em Cavalcante, na região da Chapada dos Veadeiros, respondem por mais outros dois homicídios na Justiça. O processo envolvendo os dois homicídios mais recentes chegou nesta semana ao Judiciário estadual, após a conclusão de um inquérito feito pela própria corporação militar.
O Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) afirma que o caso não é da competência da PM e pediu que a documentação seja enviada para a Justiça comum, e não à militar. A investigação em andamento pela Polícia Civil ainda não foi concluída.
As vítimas dos novos processos são Alessandro Pereira da Silva, de 23 anos, e Welington Gonçalves, de 27. Ambos foram mortos durante uma ação policial em Niquelândia, por volta de 21 horas do dia 8 de novembro de 2021.
A ação policial foi registrada de forma semelhante às outras em que houve mortes. Ou seja, as vítimas estavam em um lugar ermo, sem testemunhas, e teriam reagido à abordagem.
Vale lembrar que os sete policiais envolvidos na ‘chacina de Calvacante são citados em processos envolvendo ao menos 21 mortes. Algumas delas foram arquivadas, pois as investigações não avançaram. De lá pra cá, com os casos divulgados desta semana, o número já subiu para 24. Todos ocorreram na região de Niquelândia, Cavalcante e Colinas do Sul.
Entre os que estão sendo julgados pelo crime em Cavalcante, participaram da ação que resultou na morte de Alessandro e Welington: o sargento Aguimar Prado de Morais, o sargento Mivaldo José Toledo e o cabo Jean Roberto Carneiro dos Santos. O soldado Eider Júnior da Silva, que estava com o trio no caso de Niquelândia, não compunha as equipes envolvidas com a ação em Cavalcante.
Versão da PM sobre os novos processos de homicídio
A investigação feita pela PM coletou apenas a versão apresentada pelos policiais. Nela, um fazendeiro de 48 anos afirmou que estava sozinho em sua propriedade, na GO-532, em Niquelândia, e notou a presença de um carro parado com algumas pessoas dentro, por isso pediu apoio da corporação.
A equipe foi até o local, parou a viatura a um quilômetro da casa principal da fazenda e avançou a pé por uma plantação de soja, quando se depararam com um trio de suspeitos. Segundo a PM, este trio começou a atirar, assim que notou a aproximação dos militares, o que motivou a reação.
Foi nesta ocasião que Alessandro e Welington foram atingidos. Ambos morreram com um tiro no peito, sendo que no primeiro o disparo atingiu o coração. O terceiro indivíduo conseguiu fugir sem ser identificado.
Ainda segundo os policiais, os bombeiros não podiam ir até o local por estarem em outra ocorrência e, portanto, decidiram eles mesmos levar os suspeitos feridos a um hospital. Porém, ambos chegaram mortos.
PMs também alegam que quando chegaram na casa, encontraram o proprietário amarrado nos pés e mãos e com lesões pelo corpo por causa de chutes e coronhadas desferidas pelos assaltantes.
Com os suspeitos foram encontrados R$ 50 mil em agrotóxicos que teriam sido roubados do fazendeiro. Na mochila de um deles havia um caderno, com uma suposta lista de moradores de Niquelândia e relação de veículos.
Os policiais afirmam também que os suspeitos teriam envolvimento com uma série de roubos similares, alguns com extrema violência. Porém, no sistema da Justiça estadual constam apenas processos por furtos, portanto, sem violência.
A equipe da PM efetuou ao todo 17 disparos contra o trio. Já os suspeitos, teriam disparado sete vezes, segundo o inquérito. Mas, não houve perícia no local.
No procedimento aberto pela PM, foram apenas tomados os depoimentos da vítima do roubo e dos policiais, sendo que a oitiva dos quatro é exatamente idêntica. Também foi feito o exame cadavérico.
Outra morte
Outro processo envolvendo uma morte havia dado entrada na Justiça comum no dia 27 de junho e envolve apenas os dois sargentos e o cabo.
Thiago Ferreira da Silva, de 23 anos, foi morto com um tiro no peito por volta de 11h30 do dia 28 de setembro de 2021. Contra ele foram efetuados seis disparos.
Na versão dos policiais, Thiago seria suspeito de ter sido enviado pelo Comando Vermelho de Goiânia para Niquelândia para matar um desafeto e estava escondido em uma residência. A equipe, ao receber a denúncia, foi até o local, sendo avistada pelo suspeito, que fugiu para um lote já atirando. Na suposta reação, foi morto.
O laudo cadavérico não indica quantos tiros o atingiu, fala apenas em “lesões penetrantes” no coração e nos pulmões.
Os procedimentos feitos pela corregedoria da PM foram semelhantes ao caso envolvendo Alessandro e Welington, sem que tenha havido uma conclusão sobre o mérito da ação policial. O caso foi redistribuído para a Justiça comum em 28 de junho e segue parado.
Relembre o caso de Cavalcante
Além de Aguimar, Mivaldo e Jean, respondem pelo crime em Cavalcante os soldados Ítallo Vinícius Rodrigues de Almeida, Welborney Kristiano Lopes dos Santos, Luiz César Mascarenhas Rodrigues e Eustáquio Henrique do Nascimento. Todos estão presos desde o fim de fevereiro por homicídio qualificado.
Segundo a denúncia, os sete policiais entraram na chácara de Ozanir Batista da Silva, o Jacaré, de 46 anos, e renderam ele e os amigos Saviano Souza Conceição, de 63, Alan Pereira Soares, de 28, e Antônio Fernandes da Cunha, o Chico Calunga, de 35, matando os quatro em seguida na chácara de Saviano, que era ao lado.
*Essa reportagem usou informações apuradas pelo OPopular