Pobreza menstrual: Médica fala sobre riscos à saúde de mulheres que improvisam absorventes
Segundo o estudo ‘Pobreza Menstrual no Brasil: desigualdade e violações de direitos’, da Unicef, 713…
Segundo o estudo ‘Pobreza Menstrual no Brasil: desigualdade e violações de direitos’, da Unicef, 713 mil meninas vivem sem acesso a banheiro em seu domicílio e mais de 4 milhões não têm acesso a itens básicos de cuidados menstruais nas escolas. Em Goiás, o número de mulheres sem acesso a itens de higiene relacionados à menstruação chega a 130 mil. Para especialistas, além da agressão à dignidade, a pobreza menstrual coloca em xeque a saúde da mulher.
A pobreza menstrual caracteriza-se pela falta de acesso a recursos e até conhecimento para cuidados envolvendo a própria menstruação. Há registros de meninas e mulheres em situação de carência que usam pedaços de pano, papelão, esponjas e até miolo de pão por não terem condições de comprar absorventes. Segundo a médica ginecologista Maria Elaine de Assis, o uso desses materiais expõe a mulher a vários tipos de problemas.
Ao Mais Goiás, Maria Elaine explica que a possibilidade de uma infecção é grande em meninas e mulheres que precisam improvisar um “absorvente”. “O miolo de pão, por exemplo, tem vários micro-organismos, bactérias. Imagina colocar isso junto à genitália. O risco de infecção é considerável”, diz, destacando que o risco de contrair um processo infeccioso é apenas um dos problemas. “Já recebemos uma adolescente que ficou com uma espuma pregada na mucosa da vagina, porque usou o objeto como um OB”, recorda.
No entanto, a médica explica que o uso desses objetos é sinal de uma realidade triste não só para as mulheres, mas para toda a população. “Quando a gente fala desse tema tão importante, que é a pobreza menstrual, a gente vê objetos que não deveriam ser usados [para estancar fluxo menstrual]. Mas a pessoa que está na condição de fome, ela vai comprar absorvente ou comida? É claro que é comida”, pontua.
Pobreza menstrual é tabu que precisa ser quebrado, diz ginecologista
Para Maria Elaine, a falta de conhecimento e de ações governamentais sobre o fluxo menstrual ainda são fatores que transformam a questão num tabu. A solução do problema começa, de acordo com ginecologista, com discussões sérias sobre o tema e políticas de saúde voltadas para pessoas em situação de carência.
“Eu acredito muito nas políticas públicas, em trazer esse debate para a escola e conscientizar as pessoas que menstruar é algo fisiológico. Não pode ser um peso, tem que ser uma dádiva de fertilidade”, conclui.
Distribuição de absorventes
Na última semana, o Palácio do Planalto confirmou que o governo federal vai trabalhar para viabilizar a distribuição gratuita de absorventes para mulheres pobres e em situação de vulnerabilidade. O comunicado vem após o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ser duramente criticado por vetar o artigo do Programa de Proteção e Promoção da Saúde Menstrual que previa a distribuição gratuita do item.
Em Goiás, o governador Ronaldo Caiado (DEM) anunciou que o Estado vai distribuir absorventes para famílias vulneráveis. No entanto, o projeto ainda estaria em construção e não ainda tem data para vigorar.