Clínica clandestina

Polícia fecha clínica que torturava dependentes químicos

Ao serem libertados, pacientes contaram que eram obrigados a ingerir medicamentos e não podiam sair do imóvel. Proprietário e monitor foram presos em flagrante

Foi após receber a denúncia de um dos pacientes que conseguiu fugir que agentes do 22º Distrito Policial (DP) descobriram na manhã desta terça-feira (23) que uma suposta clínica de tratamento para dependentes químicos funcionava sem autorização e torturava os internos em Goiânia. No local, que segundo a polícia se parece muito com uma penitenciária, os policiais libertaram 17 pacientes. Eles relataram que eram espancados diariamente, obrigados a ingerir medicação e não podiam deixar o local.

Localizado em um setor de chácaras na saída para Inhumas, o Centro Terapêutico Recomeçar, segundo a polícia, oferecia tratamento para dependentes químicos por meio do Facebook. As internações, de acordo com o que apurou o delegado Sérgio de Souza Arraes, titular do 22º DP, eram involuntárias, e custavam mensalmente à família de cada dependente o quantia de R$ 1 mil.

“Assim que a família procurava o dono da clínica, ele ia no local indicado junto com outros internos que usava como funcionários e, de surpresa, pegava o dependente químico à força. Há relatos de pacientes que foram agredidos dentro de casa, enforcados para ingerir medicamentos tranquilizantes e depois amarrados e levados para a clínica”, contou o titular do 22º DP.

O pátio do imóvel em que funcionava a clínica tinha muros altos e apenas um portão que vivia trancado com cadeado. Neste local os policiais encontraram um grande buraco que, segundo relataram os internos liberados hoje, era usado em sessões de tortura. “Ali o dono colocava quem não obedecia de castigo e junto com outros internos o agredia”, completou Sérgio Arraes.

A Vigilância Sanitária, que também acompanhou a Polícia Civil durante a operação, encontrou em um dos cômodos do imóvel uma farmácia improvisada, que contava até com medicamentos de uso controlado. Em nota, o órgão informou que a clínica não possui alvará sanitário e que o estabelecimento foi interidato na manhã de hoje durante a ação.

Bruno Volpato, que se apresentou como o dono da clínica, foi preso em flagrante junto com Izael da Silva Oliveira, que trabalhava como monitor. Os dois responderão por sequestro, cárcere privado e por manter e ministrar medicamentos de uso controlado sem o Alvará da Vigilância Sanitária.
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Os dependentes liberados passaram por exames no Instituto Médico Legal e estão sendo ouvidos na delegacia. Posteriormente, todos serão encaminhados a seus familiares.