Caso do motoqueiro

Polícia investiga ligação de presos a mortes em Goiânia

Durante entrevista coletiva, o delegado Deusny Aparecido confirmou que a hipótese é considerada.

Em entrevista na tarde de quinta-feira, 7, o superintendente de Polícia Judiciária da Secretaria de Segurança Pública de Goiás, delegado Deusny Aparecido Silva Filho, disse que não pode descartar a hipótese de as mortes de 15 mulheres, ocorridas em Goiânia de janeiro até sábado, 2, serem comandadas por detentos do Complexo Prisional Odenir Guimarães (POG). Ele minimiza a hipótese, tanto quanto as chances de ação isolada de um serial killer, mas também diz que não pode descartar ambas.

Recentemente, houve a suspensão de várias regalias no Complexo Prisional, situado em Aparecida de Goiânia, na região metropolitana, após denúncias de privilégios que levaram à troca de comando na área. As denúncias, contudo, surgiram apenas em junho, em reportagem do programa Fantástico exibido pela Rede Globo, enquanto as mortes já tinham iniciado seis meses antes.

Com o impacto da confirmação de que presos tinham acesso a ventiladores, geladeiras dúplex, TVs de tela plana e outros itens considerados fora do padrão para um presídio, o então Secretário de Administração Penitenciária e Justiça de Goiás, Edemundo Dias, acabou exonerado. Em seguida foi realizada operação pente-fino no POG e retirados os privilégios, o que daria motivo à insatisfação dos detentos.

Questionado pelos jornalistas sobre uma possível reação violenta encomendada de dentro do POG, o delegado confirmou que a hipótese é considerada. Deusny comanda a força-tarefa criada para apurar os crimes que assustam a população goianiense. Além de mudar a rotina na cidade, virar assunto nas redes sociais, as mortes sem explicação estão mobilizando moradores.

Nesta sexta-feira, 8, um grupo ligado ao Fórum Goiano de Mulheres fez um protesto na porta do Palácio Pedro Ludovico, sede do governo estadual, cobrando agilidade na apuração dos 15 assassinatos de mulheres, 1 de um homem (que pode estar ligado aos casos), mais 2 tentativas de homicídio contra mulheres, com características parecidas e envolvendo motociclistas em motos pretas ou vermelhas. Para o delegado, enquanto as manifestações forem pacíficas, “apenas refletem que algo tem que mudar”, reconheceu.

Colocada contra a parede pela inusitada onda de mortes de mulheres na capital goiana, e alegando que precisa resguardar as investigações, a Polícia Civil se retraiu nos números. O delegado informa apenas que houve mandados de prisão expedidos, existem outros em fase de solicitação e também suspeitos sendo investigados. Mas ele não fala os números e nega a informação publicada pelo jornal Correio Braziliense nesta quinta-feira, 7, de que tenha 8 suspeitos diferentes, 3 mandados de prisão expedidos e mais 2 para solicitar.

Outra informação que ele evita é quanto ao resultado dos exames de balística. O delegado alerta que divulgar essa informação seria um fator negativo às investigações. “Suspeitos investigados teriam estímulo para sumir com as armas usadas”, argumenta ele. Para Deusny, essa divulgação não traria sossego à população, nem ajudaria nas denúncias que poderiam levar ao autor ou autores dos crimes.

O delegado continua sem estipular prazos para findar as investigações, lembrando que homicídios podem levar anos para serem elucidados. Por outro lado, aos familiares das mulheres mortas ele dirigiu a promessa de “trabalho árduo da Polícia Civil, com afinco, sem medir esforços para elucidar todos os crimes”.

Prisão

A prisão de um motociclista de Goiânia, ocorrida em Centralina (MG), e que estava com capacete e moto na cor preta, foi abordada pelo delegado durante a entrevista. O homem seria um foragido da Justiça de Goiás, envolvido em vários crimes, inclusive um sequestro recente do qual escapou de ser preso, e carregava consigo mais de R$ 40 mil em dinheiro. “Até o momento ele não tem ligação com as mortes de mulheres em Goiânia”, esclareceu Deusny.

A caçada pelo autor dos crimes mais recentes chama a atenção pelo interesse da população em ajudar. No último homicídio, da adolescente Ana Lídia de Souza, 14 anos, ocorrido no sábado, 2, um motorista de caminhão seguiu o motociclista após ter testemunhado os disparos. Segundo o delegado, em depoimento o homem descreveu a rota que fez atrás do atirador por cerca de 2 quilômetros.

Este motociclista foi filmado pelas câmeras de segurança da rua passando três vezes, primeiro quando a garota cruza a pista a caminho do ponto de ônibus, depois retornando para matá-la, e por fim na fuga. A Polícia Civil, contudo, descarta fazer outro retrato falado por enquanto. Um retrato falado foi feito em março após a morte da assessora parlamentar Ana Maria Víctor Duarte, mas a imagem acabou sendo usada em uma montagem que prejudicou um rapaz sem ligação alguma com o homicídio.

Recomendações

Além de alertar para que a população desestimule a ação de justiceiros que podem fazer inocentes de vítimas, o superintendente reforçou recomendações para que especialmente a população feminina de Goiânia se mantenha alerta. “Prestem atenção ao sair ou chegar em um local, nas pessoas que estiverem próximas. Adotem atitudes sensatas, evitem locais ermos, atitudes inseguras e ambientes hostis”, alertou.