A advogada Mariana Maduro foi exposta na internet após ser filmada enquanto praticava ioga na Lagoa Rodrigo de Freitas, zona sul do Rio de Janeiro. No vídeo publicado no sábado (1°), dois homens trocam um diálogo de cunho sexual. A Polícia Civil já identificou os responsáveis e investiga os crimes de injúria, perturbação de tranquilidade e gesto obsceno. Um deles prestou depoimento no início da tarde de terça-feira (4).
A vítima, que também é professora, registrou um boletim de ocorrência na 12ª Delegacia de Copacabana no domingo (2). Em um perfil na rede social, ela chorou e se mostrou bastante assustada. “Quem vai ficar sem fazer ioga sou eu, quem está se sentindo violentada, estuprada sou eu, na minha cidade, no meu cantinho sagrado, sou eu. E esses doentes estão rindo e postando isso”, desabafou.
Qual o conteúdo do vídeo?
As imagens foram gravadas pelo empresário Ricardo Roriz, que tem uma loja de artigos militares, e mostram uma conversa dele com um homem identificado como Celsão, ambulante na Lagoa Rodrigo de Freitas, segundo a Polícia Civil.
Enquanto Mariana Maduro se prepara para fazer uma das posições do ioga, Celsão diz: “Ela tá plantando bananeira, vê se ela está plantando? …a hora que ela plantar, eu vou tirar [foto] com a água para fazer anúncio da água.” Ricardo Roriz responde: “Ô Celsão, tu fica disfarçando, vai botar água ali para ficar fingindo, é?”. E continua: “Celsão, tu não vale p*** nenhuma.”
Quando Mariana inicia o movimento que a deixa de pernas para o ar, Celsão aponta o celular para ela e Ricardo provoca: “Ó lá o que é um velho tarado”. Ele ainda aproxima a imagem com um zoom. “Celsão, tu é o maior doente sexual, hein Celsão. Tu fica só de voyeur.”
A resposta vem com uma frase e um gesto com as mãos indicando o movimento sexual da masturbação: “Eu gosto é para blau blau”, diz o homem identificado como Celsão.
O vídeo de Roriz, que tem mais de 300 mil seguidores nas redes sociais, teve grande repercussão e chegou até Mariana. “Até quando ser mulher será sinônimo de ser objetificada, desrespeitada, violada? Vomitei assistindo a esse absurdo quando um amigo me alertou”, publicou a advogada.
A vítima orientou que as pessoas denunciassem as imagens, que foram retiradas posteriormente. Porém, outro vídeo postado por Ricardo Roriz a deixou com medo. Ainda pela rede social, ela relatou que recebeu avisos para “tomar cuidado” porque o empresário teria ligações com militares, o que foi também denunciado à Polícia Civil.
“Não é porque o autor tem essa questão de amor, aparentemente, pelas instituições que ele será protegido por conta disso. Será uma investigação absolutamente isenta”, prometeu a delegada Valéria Aragão, que comanda o inquérito.
Vítima quer punição
No início da tarde de terça-feira (4), o empresário Ricardo Roriz compareceu à 12ª Delegacia de Copacabana para prestar depoimento e seu advogado se prontificou a levar o ambulante Celsão, que não teve o sobrenome identificado, até o fim da semana. No domingo, policiais chegaram a procurar o vendedor na Lagoa, mas a delegada Valéria Aragão acredita que ele não compareceu devido à repercussão do caso.
Ricardo Roriz, segundo a delegada, contou que gravou o vídeo quando estava levemente embriagado. “Ele errou em dois momentos. No momento de atiçar, de provocar a atitude por parte do Celso. Começou num tom de brincadeira e evoluiu para algo inadequado, completamente inadequado. E depois pela divulgação, expondo uma pessoa que não participou daquele contexto”, apontou Valéria.
A Polícia Civil ainda vai ouvir a amiga da vítima, que também aparece nas imagens, e o ambulante. Já o empresário Ricardo Roriz, ao se apresentar, classificou o episódio como uma “infelicidade”, disse estar arrependido e mostrou preocupação em não ser classificado como um estuprador, segundo informou Valéria Aragão.
O advogado de Roriz, Valdo Tavares, disse que seu cliente reconhece ter errado ao postar o conteúdo na internet, mas argumenta que uma discussão sobre o conteúdo é ideológica. “Conversa íntima entre amigos que estavam bebendo cerveja há algum tempo”, declarou ao UOL. Ele acredita que houve uma contravenção penal caracterizada como perturbação de sossego e afirma que seu cliente está muito abalado, pois passou a sofrer ameaças.
Para a delegada, os crimes já estão configurados e a investigação segue para delinear se outros delitos também foram cometidos. “A exposição do corpo dela, da forma como foi feita, com os comentários, com aquele gestual chamando atenção para a masturbação masculina numa rede social de muitos seguidores, ela se sentiu muito ofendida. Então, por isso, o fato realmente merece ser registrado”, defendeu.
Para a vítima Mariana Maduro, apesar da força em denunciar e buscar a punição dos envolvidos, ainda fica o medo em voltar a frequentar a Lagoa Rodrigo de Freitas. “Eu sou mulher, eu sou sozinha, mas eu quero dizer para vocês que, embora eu nunca mais vá pisar lá, isso não vai ficar impune”, declarou em uma rede social.
Ricardo Roriz se manifesta
Após a repercussão do caso, o empresário Ricardo Roriz usou o perfil no Facebook de sua loja para se manifestar: “Sirvo-me da presente para me retratar publicamente dos acontecimentos do último sábado 01.08.20, onde uma conversa intima entre amigos veio a público através de uma publicação infeliz por mim publicada em minha rede social Instagram que conferiu erroneamente um tom genérico, abstrato, grosseiro que não corresponde à minha conduta durante os 6 (seis) anos de publicações nas referidas redes sociais”.
“Venho externar minha solidariedade a quem se sentiu ofendido ou depreciado pela referida postagem. Assim que tomei conhecimento do erro cometido, retirei imediatamente a postagem que não durou mais de 50 minutos ativa. Deixo claro que a partir desta data supracitada não foi por mim impulsionada mais nenhuma postagem nesse teor. Assim, registro minhas escusas públicas a todos aqueles que se sentiram ofendidos (as)”, finaliza a publicação.