Policiais militares acusados integrar grupo de extermínio vão a júri popular, em Goiânia
Os militares são acusados de homicídio - qualificado por motivo torpe e recurso que impossibilitou a defesa da vítima - e execução sumária após abordagem
A Justiça de Goiás mandou a júri popular quatro policiais militares (PMs) acusados de matar e simular confronto contra Murillo Alves de Macedo, de 26 anos, suspeito de roubar o carro de uma policial, em agosto de 2010. A sessão, que julga o tenente Vitor Jorge Fernandes e os cabos Cláudio Henrique Camargos, Alex Sandro Souza Santos e Ricardo Rodrigues Machado, irá ocorrer às 8h30 desta terça-feira (11), no Fórum Cível Heitor Moraes Fleury, no Park Lozandes, em Goiânia.
Os policiais foram presos durante a Operação Sexto Mandamento, deflagrada pela Polícia Federal (PF) em fevereiro de 2011. A investigação resultou na prisão dos PMs, que foram apontados como suspeitos de participação em um grupo de extermínio. Os militares são acusados de homicídio, com qualificadora por motivo torpe, e recurso que impossibilitou a defesa da vítima e execução sumária após abordagem.
Segundo a denúncia, no dia 26 de agosto de 2010, Murillo teria roubado um veículo Honda Civic, no Setor Bueno, quando uma policial militar manobrava para sair do estacionamento de uma clínica médica. Na ocasião, o suspeito também teria subtraído a pistola da militar, que estava no interior do carro.
No dia seguinte, os subtenentes lotados na equipe das Rondas Ostensivas Táticas Metropolitanas (Rotam), Fritz Figueiredo e Hamilton Naves, ambos de folga, trafegavam pela GO-060 quando avistaram um carro semelhante ao da policial que havia sido roubada. De imediato, estabeleceram contato com o Centro de Operações da Polícia Militar (Copom) e solicitaram verificação da placa do veículo. Ao receberem a confirmação de que o carro era da militar, iniciaram acompanhamento e pediram reforço de uma equipe da Rotam.
Por volta das 19h45, na chácara Caveira, no Jardim Real, Fritz Figueiredo e Hamilton Neves teriam disparado contra Murillo Macedo. Conforme a denúncia, a equipe da Rotam, composta pelo tenente Vitor e os cabos Camargos, Alex e Machado, que também participaram do crime, chegaram no local às 19h53 e assumiram o suposto confronto.
À época, os telefones dos subtenentes estavam grampeados por indícios na participação de grupo de extermínio. O grampo permitiu que o Copom ouvisse a ordem de Fritz para que um dos ocupantes do carro parasse. Em seguida, ordenaram que ficassem com a mão na cabeça. Na sequência ouve-se um disparo. Logo após, foi possível escutar quando os militares perguntam a um segundo abordado pela arma e o que havia na bolsa. Neste momento, o Copom perde o sinal com os dois subtenentes.
Fritz Figueiredo, via telefone, mantém conversa com o cabo Camargos, orientando a equipe da Rotam comandada pelo tenente Vitor, a chegar no local do suposto confronto. A equipe dá cobertura aos subtenentes e assume a ocorrência. Os policiais, segundo a denúncia, alteraram a cena do crime e permitiram a saída de Fritz e Hamilton do lugar.
À PF, os militares omitiram a participação dos subtenentes e alegaram que Murillo havia resistido à prisão. Na ocasião, afirmaram que os disparos foram feitos “sob forte escuridão, poeira e distância do homem”. A perícia, no entanto, aponta que a trajetória dos projéteis foi descendente, o que reforça a hipótese de execução da vítima, inteiramente dominada, conforme o laudo. No local, a policial militar, dona do Honda Civic que havia sido roubado, constatou que nenhum dos disparos realizados pelos policias atingiu o veículo, o que contradiz a afirmação de fuga, resistência armada e confronto relatada pela equipe.
Segundo a denúncia, também houve a retirada de um segundo ocupante do veículo conduzido por Murilo, feita por Hamilton e Fritz, cuja identificação e paradeiro é uma incógnita, conforme as conversas gravadas durante a receptação telefônica dos réus no dia e hora do crime.
Fritz Figueiredo e Hamilton Costa, não foram mandados a júri popular à época do crime, ocorrido em 27 de agosto de 2010, decisão confirmada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), que não reconheceu o recurso especial.
O Mais Goiás entrou em contato com a PM e aguarda retorno. A reportagem também tenta encontrar a defesa dos acusados. O espaço está aberto para o posicionamento dos réus.