CHATEADO

Prefeito de Abadiânia promete ir à Justiça contra nome de série sobre João de Deus

Em entrevista ao Mais Goiás, Zé Diniz destaca que cidade tem sido "constrangida" com a produção

Quase cinco anos após o médium João de Deus ter seus crimes expostos e em consequência disso, acumular mais de 300 anos de condenações, Abadiânia virou nome de série que pode ser assistida no streaming o que para o prefeito do município, Zé Diniz (PP) não é nenhum motivo para orgulho, ao contrário. “A cidade não pode pagar pelos erros drásticos de uma pessoa. Toda a população está se sentindo ofendida”, destaca em entrevista ao Mais Goiás.

Zé Diniz refere-se a série “João sem Deus: A Queda de Abadiânia” que pode ter todos os seus episódios assistidos na íntegra a partir da GloboPlay, plataforma de streaming do Grupo Globo. Para o político, não pegou bem a produção associar o médium à derrocada do município. “Abadiânia vai muito bem. Hoje estamos arrecadando mais do que na época”, dispara. “Não tem o que se falar em queda”, dispara.

“Hoje temos doze indústrias no município e conseguimos reverter todo o cenário caótico. Não temos nem a necessidade de ficar lembrando do João de Deus”, destaca Zé Diniz. O assunto deixou os moradores do município tão revoltados que o prefeito já colocou sua equipe jurídica para trabalhar e garante: acionará os responsáveis por vias judiciais para que o nome da produção fictícia possa ser alterado. 

Questionado se chegou a assistir algum dos episódios, Zé Diniz acena negativamente, mas também reforça não ter problema com a produção. “Não somos contra a cultura, não somos nem contra a produção do filme. Somos contra o nome. E uma parte do nome, específica. Queremos que tire do título a parte que fala sobre ‘Queda de Abadiânia’. Isso não existe”, destaca.

“É a população da cidade que foi ofendida e vou trabalhar para defendê-los. Estão denegrindo a nossa cidade e o nome da nossa cidade. Se tirarem ‘A Queda de Abadiânia’ eles vão ter uma audiência maior ainda. Porque hoje, ninguém aqui em Abadiânia quer ver essa série. Se tirarem, talvez até vão ganhar a audiência dos moradores daqui. Abadiânia ficou muito triste, insatisfeita com toda essa repercussão”

Um processo está sendo elaborado e deve ser apresentado nos próximos dias. “Estamos trabalhando desde segunda-feira até para saber quem vamos direcionar essa ação. Ainda não está claro para a gente quem é o responsável ou a responsável. Vamos fazer um trabalho para que entre o final desta semana e o começo da próxima, a gente consiga dar início a esse processo”, salienta.

LEIA A ENTREVISTA NA ÍNTEGRA COM O PREFEITO DE ABADIÂNIA, ZÉ DINIZ

Domingos Ketelbey: Cinco anos depois dos crimes de João de Deus terem sido revelados, como vive Abadiânia hoje? 

Zé Diniz: Graças a Deus hoje o quadro do comércio e de crescimento de Abadiânia é maior do que o cenário que pegamos em 2017. Tivemos muitas dificuldades porque além desse escândalo 0 com o João de Deus, tivemos a pandemia. É bom deixar claro que jamais imaginamos que fosse da forma como foi. A cidade também não pode pagar pelos erros drásticos de uma pessoa. Fizemos um trabalho sério ao longo desses últimos anos e conseguimos fazer com que a economia da cidade seis meses após os casos terem vindo a tona.

Levantamento de 2019 mostra que o comércio da cidade havia sofrido uma redução drástica desde que os crimes foram revelados com queda de arrecadação de aproximadamente 38%. O setor produtivo conseguiu reverter o cenário? 

Zé Diniz: O que eu posso te dizer é que o município de Abadiânia arrecadou em 2018 46 milhões. Em 2022, arrecadamos 77 milhões. Esse é um número relevante. Tivemos num primeiro momento dificuldades intensas. Porém, sete meses as coisas já entraram nos eixos. Tenho muita tranquilidade em dizer isso. Eu disse lá em 2018 que Abadiania ia sobreviver a todo esse processo e graças a Deus isso aconteceu.

Abadiânia superou João de Deus?

Zé Diniz: Abadiânia nem fala mais deste assunto. Abadiânia voltou a mídia essa semana por uma infelicidade de um ser humano ter colocado dentro de uma série falando sobre a Queda de Abadiânia. A gente não falava mais sobre esse assunto por aqui. Isso é coisa do passado. Isso voltou essa semana. Não foi por conta de estar próximo dos cinco anos que se descobriram os crimes, mas pela infelicidade de alguém em dar um título a uma produção muito infeliz ao nosso ver. O que eles estão dizendo lá não aconteceu. O município tem arrecadado mais do que na época. Não dá para se falar em queda. 

O que o senhor achou dessa produção?

Zé Diniz: Abadiânia não é contra a cultura. Não é contra documentários que se fizeram ao longo de todos esses anos. Não é nem contra a essa produção. Somos contra o título. Nem ao título inteiro, parte do título. Vemos como desnecessário citar o nome de Abadiânia nesse contexto. E mais desnecessário ter colocado da forma como fizeram denegrindo a imagem de um povo que não tem nada a ver com isso. O João de Deus sequer é abadianense, o João não morava em Abadiânia. Tanto é que, ele está preso em prisão domiciliar em Anápolis. O domicílio dele é Anápolis. Essas pessoas por falta de informação fizeram uma produção com repercussão mundial acabar afetando a cidade. Isso foi um atentado ao nome do município. Acredito que esse pessoal nem veio aqui para falar com as pessoas. Não precisava nem falar comigo. Tinham que vir aqui e conversar com os moradores. Eles iriam sair convictos que não dava para relacionar o nome do município a essa obra.

Os moradores então estão reagindo a série?

Zé Diniz: Nós não somos contra a produção, a história. Hoje tivemos um movimento muito grande na cidade de pessoas manifestando seu repúdio. Abadiânia não é a responsável por ninguém. Fosse crimes cometidos por um prefeito ou prefeita, que representava a cidade, tudo bem. Como uma pessoa que trabalhava e tinha uns investimentos no município, comete um deslize e aí se condena a cidade? O João de Deus não era administrador do município. Ele tinha uma influência grande? Claro, é fato. Mas daí a condenar o município é muito injusto.

Vai fazer alguma movimentação jurídica? Qual?

Zé Diniz: Nossa equipe jurídica está trabalhando. Estamos vendo as questões políticas, institucionais e até comerciais e vamos trabalhar para que o título da produção seja mudada. Nem queremos que mude todo o título, só queremos que tire ‘A Queda’ porque ‘A Queda’ não existiu. Não é uma realidade até porque a produção foi baseada num acontecimento e o título peca. O que mais me intrigou nessa história toda é que eu vi um depoimento de uma das diretoras da série que disse que foi vitima de violência sexual.  Eles estão cometendo violência com Abadiânia, semelhante ao que ela sofreu. Não tô dizendo que é igual mas pode gerar preconceito aos moradores do município.  Não é a mesma coisa que uma violência sexual, isso é fato. Mas é um fator que constrange os moradores e gera preconceito a todos nós. 

Moradores estão falando isso? Que constrange e provoca preconceito?

Zé Diniz: As pessoas estão se manifestando, estão me procurando. Tá todo mundo muito chateado. Vamos entrar com todas as ações para mudar esse título. Queremos tirar Abadiânia disso aí. É a população da cidade que foi ofendida e vou trabalhar para defendê-los. Estão denegrindo a nossa cidade e o nome da nossa cidade. Se tirarem ‘A Queda de Abadiânia’ eles vão ter uma audiência maior ainda. Porque hoje, ninguém aqui em Abadiânia quer ver essa série. Se tirarem, talvez até vão ganhar a audiência dos moradores daqui. Abadiânia ficou muito triste, insatisfeita com toda essa repercussão.