MORADIA

Prefeitura desocupa área com 56 famílias em Aparecida de Goiânia sem mandado judicial

Moradores relatam violência policial no momento do despejo, que foi feito na manhã desta segunda-feria

Famílias chefiadas por mulheres e negros são as que mais perderam qualidade de vida (Foto: Jucimar Sousa - Divulgação)

A prefeitura desocupou área com 56 famílias de uma ocupação de área pública em Aparecida de Goiânia, na manhã desta segunda-feira (27). Moradores do local relatam que não foram notificados com mandado judicial e denunciam violência por parte da Guarda Civil Metropolitana. A Secretaria de Planejamento e Regulação afirma que faz o cadastramento das famílias.

A ação teve início por volta das 6h, quando os agentes do poder público entraram no local e derrubaram barracos que já estavam montados em um terreno entre os bairros Riviera e Independência Mansões. Segundo a prefeitura de Aparecida de Goiânia, a área, que é parte pública e parte particular, compõe a Área de Preservação Ambiental Serra das Areias, onde edificações seriam proibidas.

Criança levanta objeto em meio a escombros de de ocupação em Aparecida de Goiânia
Criança levanta objeto em meio a escombros de de ocupação (Foto: Jucimar Sousa – Mais Goiás)

As famílias já haviam sido alvo de despejo no dia 18 de setembro. Na ocasião, os moradores também relataram que sofreram violência policial e não receberam qualquer intimação ou mandado judicial. No entanto, diante da falta de opção para moradia, resolveram reocupar o terreno.

Aproximadamente 19 mil famílias vivem em moradias precárias em Aparecida de Goiânia. Dados dos atendimentos da Central Única das Favelas em Goiás (Cufa-GO) no município indica que os lares têm, pelo menos, uma característica de aglomerados subnormais, moradias com padrão urbanístico irregular, carência de serviços públicos essenciais ou localizados em locais com restrições de ocupação.

Famílias relatam violência policial

Homem mostra o braço onde foi atacado por policiais
Luiz Machado de Sousa diz que guarda civil chegou usando a força (Foto: Jucimar Sousa – Mais Goiás)

Luiz Machado de Sousa, de 60 anos, relata que os agentes públicos desmachavam as marcações e barracos. Os moradores chegaram a pedir que não retirassem o material, mas foram atacados pelos guardas civis. “Batendo cassetete, puxando arma. Não ofereci perigo, nem resistência. Eles mandaram eu sair e chegou batendo, nem esperou me retirar”, afirma.

Sheila Divino, de 33 anos, que está desempregada, diz que os guardas chegaram espancando os filhos e não tem onde morar. “Meu filho está machucado. Sem dó, sem misericórdia saíram espancando todo mundo. Desta vez vieram com violência. Minha mãe está toda machucada”, lamenta.

Homem limpa a boca com camiseta enquanto está sentado ao sol com cara de choro
José Maria diz que irá procurar novo local para morar (Foto: Jucimar Sousa – Mais Goiás)

José Maria Ramos, de 62 anos, buscou um local para morar após chegar a Aparecida de Goiânia em busca de tratamento médico para problemas cardíacos. “Sou deficiente visual e não tenho profissão. Agora estou pensando em fazer um barraco em baixo de uma passarela. Lá ninguém vai mexer comigo”, diz.

Prefeitura de Aparecida de Goiânia diz que área é de preservação

Em nota, a  Procuradoria Geral do Município de Aparecida e a Secretaria Municipal de Planejamento e Regulação Urbana comunicam que “evitaram, pela segunda vez neste mês, a ocupação de uma área”.

Os órgãos informam que parte da área pública compõe o zoneamento da Área de Preservação Ambiental Serra das Areias sendo então proibida edificações no local.

A nota ainda diz que a Secretaria de Planejamento  no momento da ação havia apenas estacas determinando a divisão das áreas e algumas barracas de lona, não havendo nenhum morador no local.

Os órgãos informam ainda que a área pública está sendo monitorada desde o início deste mês, afim de evitar a ocupação irregular e consequentemente o desordenamento urbano da cidade.

“A Prefeitura esclarece também que as secretarias de Habitação e de Assistência Social estão atuando juntas no cadastramento das famílias que realmente necessitam de uma moradia. Os cadastros realizados pela secretaria de Habitação serão inseridos nos programas habitacionais como Minha Casa Verde, antigo Minha Casa Minha Vida, para que possam participar dos sorteios de moradias populares”, finaliza.