Preocupação com covid-19 é 24% menor entre apoiadores do governo Bolsonaro
Estudo indica que politização da doença é incentivada pelo presidente e possui efeitos práticos na vida dos brasileiros
Entre os 78,1% dos brasileiros que pretendem se vacinar contra a covid-19, menos da metade dos apoiadores de Bolsonaro têm intenções de se imunizar dependendo da origem da vacina. A explicação para a queda nestes índices seria a polarização política da doença, incentivada pelo presidente da república. A afirmação é de um pesquisador goiano que compõe estudo realizado recentemente pela Universidade de Brasília (UnB).
De acordo com os pesquisadores, a politização da covid-19 tem efeitos práticos na vida da população, em que as consequências negativas não ficariam restritas apenas aos apoiadores do Governo. Resultados do estudo mostram que brasileiros que avaliam o governo do presidente Bolsonaro como ótimo ou bom têm um nível de conhecimento sobre a Covid-19 10% menor do que os que o avaliam como ruim ou péssimo. Além disso, têm um nível de preocupação com a doença 24% menor.
A pesquisa, intitulada de “A comunicação no enfrentamento à covid-19”, busca identificar e monitorar possíveis causas que expõem a população a menos acesso à informação e dificultam os avanços no controle da pandemia. Um dos coordenadores do estudo e professor da UFG, Pedro Mundim, explica que um menor conhecimento, ou preocupação, sobre a Covid-19 leva as pessoas a terem comportamentos menos prudentes com relação às medidas de segurança. “Uma menor propensão a tomar uma vacina significa que um plano nacional de imunização pode fracassar”, alerta Mundim.
“O pior de tudo isso [politização] é que a maior parte das contestações feitas pelo presidente e seus apoiadores são “respaldadas” por achismos simplistas, sem lastro empírico ou científico rigoroso. O Governo Federal tem recursos e, em tese, capacidade de atrair pessoas preparadas para debater, mas prefere continuar travando batalhas políticas, muitas vezes sem sentido, contra seus adversários ou desafetos”, completa o estudioso.
A pesquisa
O estudo é realizado pelo Centro de Pesquisa em Comunicação Política e Saúde Pública da UnB (CPS/UnB), segundo pesquisadores, foram entrevistadas 2.771 brasileiros de diferentes regiões, idades e classes sociais, entre os dias 23 de setembro e 2 de outubro.
O levantamento abordou a nacionalidade da vacina em cinco versões diferentes da mesma pergunta, que analisou a produção da vacina e não seu desenvolvimento. Cada entrevistado foi sorteado aleatoriamente para apenas uma das cinco versões da pergunta.
“Nós dividimos os entrevistados em 5 grupos aleatórios e equivalentes do ponto de vista estatístico. Ou seja, qualquer diferença na média das respostas entre esses grupos só pode ser causada pelo tratamento imposto, sendo este, no caso, a origem da vacina”, explica o pesquisador.
Vacinas
Mundim, explica que de todas as principais vacinas que estão sendo testadas, a que aparentemente não seguiu os padrões científicos de revisão por pares e disponibilização dos dados para replicação foi a Russa. Mas é a Chinesa, cujos protocolos científicos estão sendo seguidos, e a que mais gera desconfiança entre os brasileiros. “Por quê? Simplesmente porque o presidente Bolsonaro e seus apoiadores dizem que sim, mesmo que não apresentem qualquer argumento científico minimamente razoável que sustente o seu ceticismo”, pontua o pesquisador.
Ainda que em menor medida, a pesquisa também revela que intenção de vacinação reduz quando o imunizante tem sua produção associada à Rússia (-14,1%), aos Estados Unidos (-7,9%) e à Universidade de Oxford, na Inglaterra (-7,4%).
A desconfiança dos brasileiros em relação às imunizações de acordo com sua origem ocorre diante da segunda onda de contágio do víruls na Europa. Nos últimos dias, cidades do continente registraram saltos expressivos no número de novos casos da doença. Em apenas sete dias, a quantidade de testes positivos superou o pico da doença em março e abril. Autoridades estão em alerta.
Continuidade
O estudo ainda está em fase embrionária, segundo o pesquisador, e deve realizar ‘uma 2ª rodada’ após o 2º turno das eleições deste ano. O estudo pretende entrevistar novamente as mesmas pessoas em dezembro. “Cientificamente falando, há muito o que ainda descobrir com os dados que temos”, afirma Mundim.
Fazem parte da equipe cinco pesquisadores, o professor e também coordenador do projeto, Wladimir G. Gramacho (UnB), Pedro Santos Mundim (UFG), Emerson Cervi (UFPR), Mathieu Turgeon (Western University, Canadá) e Max Stabile (UnB).
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