De cara com o crime

Preso não é primeiro em Goiás a fazer cirurgias para mudar visual

Conheça outros casos de criminosos que mudaram o rosto para se esquivar da polícia, mas acabaram presos mesmo depois das tentativas. Segundo cirurgião plástico, é possível mudar totalmente o rosto com procedimento cirúrgico

A prisão do ladrão de cargas Fernando Goulão de Almeida, de 30 anos, na porta de uma clínica de cirurgia plástica no Setor Marista, em Goiânia repercutiu na imprensa, nesta terça-feira (24). O homem se preparava para “mais uma cirurgia estética para enganar as autoridades”, segundo a Polícia Civil e Polícia Rodoviária Federal (PRF), que cumpriram um mandado de prisão expedido pela Justiça. Mas nem de longe o caso é inédito em Goiás.

A polícia estava com uma campana montada para deter o suspeito, que já tinha os passos vigiados pelos investigadores. Quando se aproximava da entrada do centro clínico a abordagem foi feita, sem que fosse necessário nenhum disparo de arma de fogo. De forma discreta, policiais o algemaram, retiraram todos os objetos dos bolsos (aliança, relógio, carteira, moedas e aparelho celular), apreenderam e seguiram para a Delegacia Estadual de Repressão a Furtos e Roubos de Cargas (Decar), no Setor Aeroporto (veja vídeo da prisão no final da reportagem).

O homem estava com uma prótese capilar, segundo o delegado Alex Vasconcelos, adjunto da Decar. “Ele ficou nervoso, porque tivemos que tirar a prótese para fazer a identificação criminal. Mas é o nosso papel, e temos que seguir o protocolo para identificar os presos como eles são sem os disfarces”, informou. O delegado contou ainda que o trabalho de localização foi meticuloso, porque ele buscava fazer procedimentos para mudar o visual desde que foi considerado foragido.

Fernando Goulão está foragido desde abril, quando a operação Líquido Dourado foi desencadeada pela mesma delegacia especializada. Desde então, segundo o delegado, Fernando se mudou para a cidade de Redenção, no Pará e já passou por vários procedimentos estéticos com a intenção de ter a identidade modificada. “Era uma forma de burlar, de não ser notado.”

OUTROS CASOS

Mas este não é o primeiro caso em que um criminoso muda o visual para não ser reconhecido pelas autoridades. Em 2017, após dez anos foragido da justiça de Goiás, Iterley Martins de Souza, hoje com 35 anos, foi preso pela Polícia Civil de Goiás em parceria com a Polícia Civil do Ceará. O traficante que comandava o crime na Região Sudoeste de Goiânia negou que tivesse feito procedimentos estéticos, mas o delegado Odair José Soares, chefe da investigação que o deteve, era enfático ao afirmar positivamente.

Iterley Martins, traficante que teria feito cirurgias para alterar a aparência, preso em 2017 (Fotos: reprodução / Polícia Civil)
Iterley Martins, traficante que teria feito cirurgias para alterar a aparência, preso em 2017 (Fotos: reprodução / Polícia Civil)

Os procedimentos cirúrgicos feitos teriam afinado o rosto do procurado, e feito com que ele tivesse o nariz mais afinado, além de ter as sobrancelhas mais levantadas. O queixo teria, também, sido colocado mais para frente, com a intenção de modificar o formato facial.

Outro caso que ficou famoso em agosto de 2007, foi do colombiano Juan Carlos Ramíres Abadía, traficante conhecido como ‘Chupeta’, foi preso em São Paulo. Ele morava em um condomínio de luxo, cercado de segurança e sem apresentar nenhuma característica que o fizesse parecer com o foragido das autoridades internacionais. Abadía estava na lista dos mais procurados da Interpol, por liderar o Cartel do Vale do Norte.

A facção operou no Vale del Cauca, região sudoeste da Colômbia, e imperava o tráfico de cocaína. Entre as mudanças que Abadía fez, está o método conhecido como ritidoplastia, que, segundo o cirurgião plástico que tem especialização em implantes capilares, Cleber Stuque, há possibilidade de ser feito em um centro cirúrgico de Goiás.

Juan Carlos Ramíres Abadía, preso em 2007 em São Paulo, fez várias cirurgias para alterar a aparência (Fotos: Reprodução / Internet)
Juan Carlos Ramíres Abadía, preso em 2007 em São Paulo, fez várias cirurgias para alterar a aparência (Fotos: Reprodução / Internet)

O especialista informou que o procedimento é demorado, e facilmente possível de uma pessoa ficar irreconhecível. “É um procedimento que altera imperfeições que o paciente não queira mais. Obviamente que não tem o objetivo de mudar a identidade de um paciente criminoso; isso é feito para pacientes que estão insatisfeitos com imperfeições causadas pelo tempo, ou por algum outro motivo”, explica.

Segundo Stuque, uma pessoa que faça uma ritidoplastia tem alterações feitas no nariz, pálpebras inferior e superior, além de alterações em formato do rosto — mais arredondado ou mais quadrado, e formato do queixo. Perguntado o que mais um paciente poderia mudar, se quisesse, de forma hipotética alterar a identificação, o especialista responde: “No visual, tudo. Desde a arcada dentária, com colocação de enxertos ósseos, a colocação de facetas, até a aparência do rosto, com a ritidoplastia e implantes capilares”.

O valor para cirurgias como essas ultrapassa os R$ 50 mil, sem contar internação hospitalar e medicações que seriam usadas. Por conta dos procedimentos ultrapassam as cinco horas, é inviável que ocorram no mesmo dia, conforme o especialista entrevistado.