Após um ano e meio de investigações, o Ministério Público de Goiás (MPGO) acredita ter colocado fim em um esquema coordenado pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) de Goiânia que determinava, sem necessidade, o encaminhamento de pacientes para Unidades de Terapia Intensiva (UTI) de hospitais particulares da capital. Dos 24 mandados de prisão expedidos pela Justiça, 21 foram cumpridos. O diretor geral do Samu de Goiânia, Carlos Henrique Duarte, dois bombeiros e um médico que é dono de um grande hospital particular da capital estão entre os detidos na manhã desta terça-feira (21/6).
O esquema, segundo o promotor Luiz Guilherme Martinhão Gimenes, coordenador do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MP Estadual, contava com a participação de técnicos, enfermeiros, bombeiros e médicos. “No momento em que chegavam para um atendimento, os enfermeiros passavam o rádio para a Central do Samu, informavam qual plano de saúde o paciente tinha e então indagavam ao médico para qual hospital ele deveria ser encaminhado. Uma das testemunhas relatou que havia chegado na porta de um hospital com AVC mas que o médico que estava na Central de Regulação determinou à equipe para que a levasse à uma outra unidade, particular, e que ficava bem distante dali. Ainda não sabemos se essa paciente morreu, mas vamos descobrir”, relatou Gimenes.
Para cada paciente encaminhado à UTI sem necessidade, segundo o promotor, o técnico ou enfermeiro recebia R$ 500,00. Já os médicos, ainda de acordo com as investigações, recebiam valores que variavam de R$ 10 até R$ 15 mil por pacientes. “Eles chegavam ao absurdo de rebaixar artificialmente a consciência do paciente que estava bem com o uso de medicamentos para justificar o encaminhamento dele à UTI. Isso é desumano, colocaram em risco a vida de vários pacientes por ganância”, relatou o coordenador do Gaeco.
O promotor garante ter provas do repasse de valores entre bancos de médicos e donos de hospitais para outros médicos e também para técnicos e enfermeiros do Samu. Muitos dos que foram presos hoje, segundo Gimenes, tinham um padrão de vida incompatível com suas rendas declaradas.
Nas apurações, o MP descobriu que técnicos, enfermeiros e médicos estavam brigando para não trabalhar em regiões da periferia, já que os atendidos por ali não possuem plano de saúde particular. Os presos, que não tiveram os nomes revelados, responderão por crimes de associação criminosa, corrupção ativa e corrupção passiva.
Durante a operação, o MP cumpriu 43 mandados de busca e apreensão em Goiânia, Senador Canedo, Anápolis, Trindade e Aparecida de Goiânia.
Por meio de nota, a Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia disse que está acompanhando as denúncias, e que a determinação do Prefeito Paulo Garcia é para que, caso seja comprovada a participação dos servidores denunciados, que todos sejam exonerados.
O Corpo de Bombeiros também divulgou nota afirmando que foi aberto procedimento administrativo disciplinar para apurar o suposto envolvimento dos dois militares da corporação. “É importante ressaltar que a prestação de serviço deles no SAMU ocorre durante horário de folga e não tem vínculo oficial com o Corpo de Bombeiros Militar”, diz o texto.