Presos mãe e padrasto suspeitos de torturar garota de quatro anos na zona rural de Niquelândia
Caso foi descoberto primeiro pela avó materna, que levou a menina para a cidade e denunciou agressões ao conselho tutelar. Laudo do IML atesta a ocorrência de tortura
Um casal de Niquelândia foi preso, na tarde de quarta-feira (18), sob indícios de prática de tortura contra uma garota de quatro anos de idade. Lucas da Silva e Célia Pereira da Silva, segundo informações da Polícia Civil, são padrasto e mãe da vítima, respectivamente. Os envolvidos negam a tortura.
De acordo com o delegado responsável pelo caso, Cássio Arantes do Nascimento, a detenção ocorreu a partir de uma denúncia realizada pelo Conselho Tutelar da cidade, que acompanhava o caso. A criança foi submetida a um exame de corpo de delito no Instituto Médico Legal (IML) de Uruaçu, que confirmou as agressões.
“Eles viviam em uma propriedade rural do município. O casal estava junto há três meses e trabalhavam na roça. Como não iam à cidade para visitar parentes, a mãe da agressora ficou preocupada e foi procurá-los. Foi quando percebeu as lesões e ficou horrorizada. Trouxe a criança para sua casa na cidade e acionou o conselho tutelar, que nos acionou na sequência”, expõe Cássio.
Conforme explica o policial, a menina era agredida por um período indeterminado e apresentava lesões recentes e cicatrizes por todo o corpo. “[As agressões] eram praticadas de variadas formas e meios, como castigos físicos, surras com fios e varas, dentre outros, além de tortura psicológica. Ela era castigada frequentemente, obrigada a permanecer horas de joelho, que estão feridos. Segundo laudo, existem lesões sobre lesões, indicando a sequência de agressões e a continuidade da tortura sofrida. A garota desenvolveu até gagueira por causa do sofrimento”.
Embora o laudo não indique o período ao qual a criança ficou submetida às torturas, Cássio acredita que as agressões tenham sido iniciadas há três meses, desde quando Lucas passou a namorar a mãe. “A mãe de Célia e uma irmã dela afirmaram que ela era uma boa mãe antes de conhecer o homem. Desde que se conheceram em uma rede social, elas notaram uma mudança brusca de comportamento. Por isso suspeito que as lesões tenham sido feitas no mesmo período”, afirma.
O primeiro a ser preso foi Lucas, que ainda tentou usar um nome falso para escapar dos agentes. Durante a diligência, policiais descobriram que o homem tinha um mandado de prisão preventiva em aberto, expedido pelo juízo de execução penal da comarca de Niquelândia por descumprimento de regras do regime semiaberto, em razão de condenação por furto qualificado. Em seu interrogatório, Lucas reconheceu que já agrediu a enteada. “Foram apenas duas surras”.
Célia foi presa quando se dirigiu à delegacia para tomar conhecimento das razões da prisão do cônjuge. A mãe afirmou que não batia, mas “corrigia” a criança, que fazia “coisas erradas”. “Obviamente ambos não explicitaram que tipo de ‘coisas erradas’ haviam sido praticadas. Até porque não deve ter nada, só queriam encontrar um argumento para justificar a barbárie”, comenta Cássio.